Quadrilhas buscam palmito Juçara – Ação de palmiteiros ameaça Mata Atlântica
Foto: Epitacio Pessoa/AE
Caça ao palmito juçara ameaça reservas de Mata Atlântica. Quadrilhas desmatam áreas protegidas em busca das palmeiras e abrem trilhas para caçadores
Em busca do palmito da palmeira juçara, quadrilhas de palmiteiros estão invadindo os parques estaduais Carlos Botelho, Intervales, Jurupará e do Alto Ribeira, as reservas de Mata Atlântica mais protegidas do Estado de São Paulo.
Além de cortar a palmeira, importante para a biodiversidade da floresta, eles abrem trilhas usadas por caçadores. Os próprios palmiteiros abatem para consumo espécimes de uma fauna fortemente ameaçada de extinção, que inclui animais como a anta e o mono-carvoeiro, e aves como o macuco e a jacutinga.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do País. São Paulo detém a maior porção contínua dessa floresta, com 200 mil hectares, quase tudo no interior dos parques estaduais do Vale do Ribeira, sul do Estado. De janeiro a agosto deste ano, a 3ª Companhia de Policiamento Ambiental, com sede em Sorocaba, apreendeu 4.719 toras de palmito in natura ou pronto para o consumo. Reportagem de José Maria Tomazela, no O Estado de S.Paulo.
[Leia na íntegra]
Cada unidade corresponde a uma palmeira cortada. De acordo com o comandante, tenente Edson Moraes, mais de 90% foram extraídos dos parques estaduais, por uma razão simples: fora das reservas, a palmeira juçara está praticamente extinta.
Ele calcula que o material apreendido representa uma parcela mínima do que foi cortado. De acordo com o tenente, o total de apreensões este ano será maior que no ano passado.“É uma atividade que se mantém, apesar do aumento na fiscalização e no grau de dificuldade para encontrar o palmito.”
A extração indiscriminada levou à escassez da palmeira e os palmiteiros têm de caminhar dois dias no interior da mata para chegar ao local do corte. “O grupo entra na mata na segunda-feira e sai na quarta ou na quinta”, explica. O transporte das toras, mesmo com o auxílio de mulas, é um serviço extenuante. Os palmiteiros levam a carga para processar fora do parque, onde a legislação é menos rigorosa.
Em fábricas improvisadas, o palmito é cortado, colocado em vidros e cozido. “Fechamos fábricas que funcionavam em banheiros”, diz Moraes. O produto é vendido para restaurantes, pizzarias e churrascarias. Cada feixe com cinco ou seis toras rende 10 kg de palmito que, no Vale, é vendido por R$ 10 o kg.
Em São Paulo, o produto chega custando R$ 25. A condição socioeconômica precária dos moradores da região favorece o esquema, segundo o policial. “A alternativa para eles seria trabalhar na lavoura de banana, ganhando R$ 10 por dia.”
No que resta dos acampamentos, a polícia tem encontrado restos de animais e aves abatidos para consumo. Na maior parte das apreensões, o palmito foi interceptado em rodovias, no transporte para São Paulo.
EcoDebate, 07/10/2010
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