EUA: Novos detergentes menos poluentes encontram resistências dos consumidores
Novos detergentes livres de fosfatos desagradam consumidores – Alguns clientes antigos ficaram furiosos. “Meus pratos ficaram mais sujos do que antes de serem lavados”, escreveu um deles na semana passada na seção de avaliações do site da linha Cascade de detergentes para máquina de lavar louças. “É horrível, e não vou comprar novamente.” “Este é o pior produto já feito para usar como detergente para máquina de lavar louças”, escreveu outro consumidor.
Como qualquer outro grande detergente para lava-louças, a linha Cascade da Procter & Gamble passou recentemente por uma reformulação. Respondendo a leis que entraram em vigor em 17 Estados em julho, os fabricantes de detergentes do país reformularam seus produtos para reduzir os fosfatos, que eram ingredientes essenciais, a uma quantidade muito pequena.
Embora os fosfatos ajudem a evitar que os pratos fiquem manchados no ciclo de lavagem, eles acabam indo parar em lagos e reservatórios, estimulando o crescimento de algas que acabam com o oxigênio necessário para os peixes e outras plantas. Reportagem de Mireya Navarro, The New York Times.
[Leia na íntegra]Mas agora, com o conteúdo reduzido, muitos consumidores estão achando as novas fórmulas tão sedutoras quanto chuveiros de baixo escoamento, ressaltando as trocas que as pessoas precisam fazer hoje num mercado mais ambientalmente consciente. Desde os carros híbridos até os painéis solares, as alternativas boas para o ambiente podem ser mais caras. Elas podem ser menos convenientes, como carregar sacolas de pano ou cantil em vez de sacolas de plástico ou água engarrafada. E essas alternativas também podem se mostrar menos efetivas, como alguns dos novos produtos de limpeza.
“A maioria dos norte-americanos querem fazer coisas boas para o meio ambiente, mas ninguém quer pagar o preço”, disse Elke U. Weber, diretor do Centro para Pesquisa sobre Decisões Ambientais na Universidade de Columbia.
No mundo dos agentes de limpeza, onde os químicos e fragrâncias podem causar problemas respiratórios e alergias além de poluir as águas, os benefícios ambientais da mudança são claros. Mas os novos produtos podem encontrar dificuldades por causa de hábitos antigos e até mesmo conceitos culturais do que é limpeza.
O fósforo na forma de fosfato suspende as partículas para que elas não grudem nos pratos e “amacia” a água para permitir que a espuma se forme.
Agora que a quantidade no detergente para lava-louças caiu de 8,7% para 0,5%, muitos consumidores perceberam a mudança no ciclo de lavagem à medida que ficam sem o produto antigo.
“Os detergentes com pouco fosfato são um desperdício de dinheiro”, diz Thena Reynolds, dona de casa de 55 anos de Van Zandt County, Texas, que diz que usa a máquina de lavar louças duas vezes por dia para uma família de cinco pessoas. Agora ela precisa dar uma lavada nos pratos antes de colocá-los na máquina para ter certeza de que eles sairão limpos, diz. “Estou usando mais água e detergente, que tipo de economia é essa?”, disse Reynolds. “Precisa haver um meio termo em algum lugar.”
Da mesma forma, um grupo sem fins lucrativos de Oakland, Califórnia, que ajuda mulheres a formarem cooperativas ambientalmente conscientes e treina faxineiras, diz que os patrões costumam resistir a novos produtos de limpeza.
“Existe o mito de que para ser limpo é preciso brilhar ou ter cheiro ou fazer muitas bolhas”, disse Ivette Melendez, uma das educadoras do grupo Ação Feminina para Ganhar Segurança Econômica. Ela diz que produtos como vinagre, bicarbonato de sódio, entre outros, funcionam tão bem quanto os itens tradicionais se usados na mistura e na quantidade certas.
Mas Jessica Fischburg, gerente comercial do CleaningProductsWorld.com em Norwich, Connecticut, que vende produtos de limpeza no atacado, disse que não está surpresa com o fato de que muitos clientes rejeitem os produtos ditos “ecológicos”.
“A realidade de qualquer produto ecológico é que eles não costumam funcionar muito bem”, disse ela. “Nossos clientes não gostam deles na verdade.”
Mas alguns consumidores atestam alguns benefícios quantificáveis. Os relatos de queimaduras, irritações, tontura e garganta raspando entre as empregadas domésticas caíram no Hospital Central do Norte do Bronx e no Centro Médico Jacobi desde que os funcionários passaram a usar novos produtos de limpeza em 2004, disse Peter Lucey, diretor-executivo associado para serviços de apoio na Corporação para Saúde e Hospitais da Cidade de Nova York. O número de dias perdidos por causa de danos causados por produtos de limpeza caíram de 54 em 2004 para zero no ano passado, disse ele. “É a mudança e o treinamento”, disse Lucey.
No caso dos novos detergentes para lava-louças, o principal benefício é visto como a proteção dos corpos de água doce. Depois que descem pelo ralo e vão para o ambiente, os fosfatos são levados até as estações de tratamento de esgoto, e vão parar nos lagos, rios e reservatórios de água potável.
A poluição pelo fósforo vem de muitas fontes, incluindo os fertilizantes e esterco que entram na água pelo escoamento. Os detergentes de lava-louças contribuem com uma fração disso, mas os ambientalistas dizem que qualquer redução pode resultar em melhorias tangíveis. (Os detergentes de lava-roupas e sabonetes já são livres de fosfatos nos EUA.)
As primeiras reclamações significativas pelas regulamentações surgiram no Estado de Washington em 2006. À medida que mais e mais Estados seguiram o exemplo, os fabricantes enfrentavam a perspectiva de leis desiguais que poderiam prejudicar a distribuição no varejo em todo o país, disse Dennis Griesing, vice-presidente para assuntos governamentais do American Cleaning Institute, que representa o setor de produtos de limpeza. A mudança nacional dos produtos começou no final do ano passado.
Autoridades do setor costumam insistir que a maioria dos consumidores não percebeu a mudança. Mas na edição de setembro, a Consumer Reports relatou que dos 24 detergentes de lava-louças sem fosfato que testou, incluindo aqueles de linhas ecológicas que estão no mercado há anos, nenhuma se equiparou ao desempenho dos produtos com fosfatos.
A revista observou que as fórmulas estavam melhorando, e classificou sete detergentes como “muito bons”, incluindo dois de seis produtos Cascade que testou. Susan Baba, porta-voz da Cascade, disse que embora a maioria dos consumidores do Cascade não tenham percebido nenhuma mudança, a Procter & Gamble esta modificando as fórmulas de alguns produtos em resposta às reclamações.
“À medida que investigamos mais, estamos descobrindo que há muito mais variação do que vimos nos laboratórios”, diz ela.
Baba acrescentou que a conversão para os detergentes com pouco fosfato foi complexa, com o acréscimo de três ou quatro ingredientes para fazer o que os fosfatos sozinhos faziam.
Elise Jones, 32 anos, mãe de duas crianças em Chatham, Nova Jersey, e editora do blog do Babybites, um grupo para novas mães, disse que percebeu “uma película branca e poeirenta” em sua louça e nas canecas das crianças há mais ou menos um mês. “Achei que fosse a lava-louças”, disse ela, antes de saber da mudança nas fórmulas.
Entretanto, ela concorda com as restrições sobre os fosfatos porque “todos se preocupam com o fornecimento de água.”
Lavar totalmente os pratos a mão não é necessariamente melhor para o ambiente, dizem os especialistas, porque as pessoas tendem a deixar a torneira aberta mesmo quando não estão enxaguando. Então Jones agora enxágua toda a louça a mão depois do ciclo de lavagem, tentando economizar água para que o enxágue tenha a mesma eficiência do da máquina.
“Você tenta fazer as coisas da forma mais consciente possível”, diz ela.
Tradução: Eloise De Vylder
Reportagem [Cleaner for the Environment, Not for the Dishes] do New York Times News Service, no UOL Notícias.
EcoDebate, 21/09/2010
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