Incêndios nas regiões contaminadas pelo desastre radioativo de Chernobyl: As ‘florestas da morte’ na Rússia
As “florestas da morte” estão em chamas na Rússia. Volta o pesadelo Chernobyl: o alarme dos cientistas é de que há partículas radioativas no ar. Isso porque as árvores de Briansk, onde “dormem” os restos da nuvem tóxica de 1986 estão queimando. Em 1992, a fumaça fez elevar o nível de atenção na Lituânia, a 800 km de distância.
A reportagem [In fiamme le ‘foreste della morte’ Russia, torna l’ incubo Chernobyl] é de Nicola Lombardozzi, publicada no jornal La Repubblica, 12-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Desperta-se o fantasma de Chernobyl e volta a ameaçar a Rússia, os países bálticos e grande parte da Europa oriental. Os incêndios que aumentam em todo o país atingiram, no amanhecer desta quarta-feira, os abetos e as bétulas das chamadas “florestas mortas” da região de Briansk, onde dormem há 24 anos milhares de partículas radioativas que choveram da nuvem tóxica emitida pelo incêndio do reator ucraniano em 1986. Uma assustadora concentração de material radioativo, que naquela vez parou milagrosamente na metade do caminho entre Chernobyl e Moscou, mas que agora poderia voltar a voar no ar se um vento forte soprar sobre os incêndios.
O alarme foi disparado pelo ecologista russo mais reconhecido, Aleksej Yablokov, membro da Academia das Ciências, que rompeu o muro das declarações oficiais que tendem, como sempre, a minimizar e a tranquilizar: “É preciso apagar rapidamente essas chamas. O vento pode levá-las até Moscou, e haveria consequências desastrosas. Talvez até piores do que as de 1986”.
O primeiro dia de trégua aparente na Guerra do Fogo se transformou, assim, em um outro dia de angústia. De manhã, a nuvem de cinzas e fumaça que havia estrangulado a cidade por quatro dias havia se dissolvido completamente, e os moscovitas haviam voltado às ruas sem máscaras. Mas o que está acontecendo entre as árvores secas das “florestas mortas”, com 28 focos de incêndio que não se consegue apagar, corre o risco de se tornar muito mais perigoso do que tudo aquilo que aconteceu até agora.
As florestas de Briansk, Tula e Belgorod, em uma região da Rússia localizada entre a Bielorrússia e a Ucrânia, a 600 km a leste de Moscou, são, desde 1986, uma bomba ativada pronta a explodir. Naquele momento, depois daquele que continua sendo o maior acidente nuclear da história, todas as moradias, as instalações industriais, os vilarejos foram evacuados para sempre. A população foi distribuída em outras regiões, e toda a zona foi declarada intransitável.
Nos bosques abandonados, os radionuclídeos de Chernobyl continuaram emitindo as suas radiações mortais em centros habitados a uma teórica distância de segurança. Teórica porque é fato que, há 24 anos, nessa região, o número de tumores entre os habitantes das zonas que circundam as “florestas mortas” duplicou com relação à média.
É impossível, também segundo os cientistas, qualquer forma de purificação. Porém, nunca foi pensada qualquer possível prevenção de acidentes. Abandonadas ao seu destino, sem nem aqueles ocasionais e distraídos controles reservados às outras florestas da Rússia, as “florestas mortas” secaram e cobrem-se com um tapete de galhos e folhas secas que aumenta sempre mais o risco de incêndios.
Ainda em 1992, a fumaça de um incêndio da região de Tula fez elevar acima do nível de atenção a radioatividade em Vilnius, capital lituana, a 800 km de distância. O vento então soprou para noroeste, e os incêndios foram apagados rapidamente. Agora, os bombeiros têm a tarefa desesperadora de apagar tudo antes que o vento, previsto para o final de semana, aumente ainda mais.
As autoridades de Briansk repetem que “a situação está sob controle” e indicam um plano futuro para monitorar as “florestas mortais” depois de 24 anos de desinteresse total. Mas a confiança em um sistema sempre mais angustiante começar a cair. Nesta quarta-feira, enquanto a TV estatal mostrava Putin em uniforme de motorista bombeiro apagando incêndio e salvando árvores, na Internet circulava um vídeo anônimo feito com um celular, no qual, diante das ruínas de um vilarejo queimado, agricultores e bombeiros calavam um primeiro-ministro consternado gritando-lhe: “Vocês nos deixaram sozinhos, nunca se preocuparam conosco”.
(Ecodebate, 16/08/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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