Invasores de sonhos, artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Na atualidade, a mídia tornou-se uma fábrica de sonhos que invade a mente das pessoas para colocar seus produtos através de uma política de marketing extremamente invasiva. O desastre era inevitável; os sonhos alheios se reproduzindo como uma praga mata a esperança; em teoria: a última que não poderia morrer.
Manipular os sonhos alheios envolve riscos incalculáveis para o futuro de todos; tanto dos manipuladores quanto dos que deixam invadir suas mentes.
Nossa vida é um vir a ser sem fim – um mundo de sonhos á espera de virar uma fugaz realidade; no próximo segundo, o segundo atual já é passado – ou será o futuro na dobra do tempo?
O sonho de todo desejo ainda não realizado; é um dia transformar-se em esperança. É humano idealizar, sonhar, antes de realizar; porém, nem sempre os frutos da imaginação podem ser colhidos e saboreados na hora em que os desejamos; daí a importância do sentimento da esperança.
De quem é o sonho?
Na vida contemporânea, essa pergunta, á primeira vista, estranha é mais do que pertinente; pois, a interferência dos mercadores de sonhos atuando através da mídia; embota o raciocínio das pessoas; e planta idéias e desejos com muita facilidade em suas mentes; como um câncer.
Após caracterizar a idéia acalentada; depois de deixar claro; se, é um ideal ou um devaneio; é necessário também definir sua identidade e origem.
De onde veio esse sonho? Foi uma idéia minha ou foi plantada na minha mente?
Esse problema é antigo; mas, nunca representou tanto perigo quanto nesta era de tecnologia digital.
Milênio após milênio, dia após dia, aos poucos, permitimos que nossos sonhos e desejos fossem induzidos e comandados por mentes estranhas á nossa – nos dizendo: o que é gostoso, o que é bonito, o que é feio, o que é chic, o que é brega, o que é prazer, o que é dor, qual a moda do momento, como viver e como morrer.
Mesmo para os descrentes da justiça natural; mesmo para turma que adora a desculpa do nada a ver – a cada dia a lei de causa e efeito está sendo esfregada em nosso nariz; pois, causa e efeito; já se encontram enquadradas na mesma foto; destruindo milenares mitos, tais como: sorte, azar, milagre, sobrenatural.
Claro que cada um pagará o que deve (nada a ver com sofrer); se foi propaganda enganosa ou artifício para vender e lucrar mais – problema do vendedor; mas, azar do descuidado comprador que não quis ler as entrelinhas do contrato.
Pessoas mais descuidadas não atentam para a gravidade do processo. Intoxicar a mente das pessoas com sonhos inúteis; alguns com prazo de validade vencida; além de matar a esperança; pode ajudar a perder a sanidade, a saúde, matar até; pois, esse mecanismo de manipulação dos sonhos tem importante papel na formação do estresse crônico; potencializado pela quantidade excessiva de informações que deixa a mente cada vez mais inquieta.
Juízo:
Ao deixarmos de tornar bem claras nossas aspirações; nós criamos o estresse inútil potencializado pelo excesso de sonhos ou devaneios não realizados. A sensação de frustração na atualidade é muito forte e criou um problema: a morte da esperança – caracterizada na angústia, depressão e síndrome do pânico.
Cuidado perigo!
Até pouco tempo, nossos instintos adquiridos no reino animal nos sinalizavam perigo ou paz; hora de atacar ou defender, para depois relaxar e procriar; mas, a partir do momento em que fizemos a primeira escolha de vontade própria, tudo mudou – passamos a influenciar; dominar; e a sermos influenciados ou dominados – criando a decepção, a mágoa, o ódio, o orgulho, a avareza, a dor, o sofrer…, todas as não qualidades humanas que devemos substituir passo a passo pelas cósmicas: amor, tolerância, paciência, desprendimento.
O momento exige reflexão; uma parada para avaliar nossa parcela de responsabilidade no contexto da nossa vida e da vida dos que sofreram ou sofrem de alguma forma nossa influência.
Influenciar; manipular…
Será que, até quando cometemos o pecado original; ou a primeira escolha de cada um de nós; que contrariou alguma das leis Divinas nós fomos induzidos? Será que desde então; nós continuamos a transgredir mais pela vontade dos outros do que pela nossa?
E isso, começa a nos deixar fortemente desalentados e sem esperança? Será que a serpente que seduziu a Eva chamava-se mídia?
Estamos á beira de um processo coletivo de depressão, angústia, pânico, surto psicótico, loucura, violência. Aos poucos entristecemos, adoecemos. E, o mais triste de tudo, é que nem transgredimos as leis cósmicas de plena vontade própria. E a cada dia, nos esgotamos mais e mais ao darmos ouvidos aos outros; nas novelas; nos noticiários; nos torneios de futebol pré-arranjados; nas corridas de F1 pré-combinadas; nas pesquisas manipuladas, etc.
Há solução?
Quem se encontra motivado para viver segundo seus próprios valores – mesmo que ainda de forma errada e danosa – ao adquirir consciência; sobrevive com a esperança de que muitos e novos caminhos podem abrir-se; se está no caminho certo melhora e aprimora; se no caminho inadequado, muda de rumo.
O momento é o de desligar todos os canais; respirar fundo; bater um papo com nossos botões para eliminar todas as desculpas, justificativas e assumir a responsabilidade que nos cabe; para evitarmos a perda da referência pessoal – pois, devido á educação que recebemos: os adultos enchem a cabeça das crianças de expectativas e não vacinam contra frustrações.
Somos analfabetos em se tratando de ler a vida; boa parte de nós não consegue interpretar um texto de duas laudas; daí; há um tremendo descompasso entre nossa capacidade de filtrar informações e a enxurrada delas, propiciada pela tecnologia e a mídia de consumo. Educados a viver segundo o que se passa no meio externo, perdemos de vez a referência pessoal do que é importante ou não para nós; isso, desagrega, mata e enlouquece.
Nesse contexto; era inevitável a perda do senso de limites que estão sendo extrapolados a jato.
O estilo de vida consumista está consumindo o próprio homem.
Ao admitir que; eu não agüento mais viver dessa forma, sinalizo claramente que, perdi o senso de fronteiras do que é possível, do que é real, ou do que é ilusão.
Na arte de influenciar e ser influenciado, a melhor política pessoal talvez seja deixar claro: se quiser seguir minhas idéias e ideais que o faça por sua própria conta e risco. Ao invés de caminhar atrás de mim; caminhe ao meu lado para que juntos possamos decidir o melhor caminho a seguir.
Só os tolos têm vocação para guru…
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 13/08/2010
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