Um viveiro para repovoar Bonsucesso, por Itaan P. Santos
[EcoDebate] Nos dias 24 e 25 de julho o Fórum Carajás promoveu a penúltima oficina do projeto (nome) no povoado Bonsucesso (Mata Roma). A orientação do professor Itaan Santos, teve como objetivo referendar a parceria que o Fórum Carajás vem estabelecendo com o Centro de Ciências Agrárias (CCA) / UEMA via o seu Laboratório de Extensão Rural (LABEX).
Em Bonsucesso já haviam sido realizadas várias oficinas desse projeto, incluindo uma que permitiu a instalação de um viveiro de mudas. Essa oficina, no entanto, voltou a debater o viveiro dentro de outras perspectivas quais sejam: replantio das margens do rio Preto, arborização da agrovila e implantação de fruteiras nos quintais. Essas perspectivas levaram em consideração a proposta fundamental da oficina que era a discussão de sistemas florestais usando como referência as atividades já desenvolvidas pelos moradores do povoado ou de povoados vizinhos, em especial aqueles que estavam participando desta oficina.
Desta forma, no primeiro dia (sábado, 24) a oficina foi baseada em uma extensa discussão sobre duas atividades relacionadas com os sistemas agroflorestais e que são executadas pelos agricultores desse e dos outros povoados onde vivem os participantes da oficina. Pela manhã o tema foi “Quintais Produtivos” e pela tarde a discussão esteve relacionada com as “Capoeiras Melhoradas”.
Os quintais produtivos estão sendo bastante discutidos atualmente, mas nada mais são do que aqueles quintais feitos historicamente pelos moradores da área rural e também das áreas urbanas. Atualmente na moda, os quintais passam a ter uma função econômica e de segurança alimentar, muito além de um local desestressante e de complemento alimentar como era tratado esse espaço antigamente. Portanto, a discussão do tema esteve relacionada com a redefinição do papel dos quintais para a vida das famílias locais. A definição de uma atitude mais voltada para a produção de alimentos para membros de cada família não foi superada pelo desejo de produzir com objetivo de comercializar, até porque a comercialização só se torna possível na medida em que haja uma quantidade de produtos suficiente alimentar a família com sobras, o que não pode ser possível a curto prazo.
A capoeira é um tipo de vegetação que surge após a retirada das culturas do roçado. São plantas originárias da região e que vão se desenvolvendo na medida em que o tempo vai passando fomentando a recuperação dos solos no local onde foi feita a roça. Se não for mexida essa vegetação pode, depois de alguns anos, se transformar em uma mata. Estudos desenvolvidos na região Amazônica indicam que 30% da vegetação da região já é de capoeira e que os agricultores conhecem mais de 130 plantas que compõem esse estrato florestal. De uma forma geral essa vegetação não tem sido aproveitada pelos agricultores de Bonsucesso, nem pelos agricultores dos outros povoados participantes do projeto ou de qualquer povoado do Maranhão. No entanto, é perfeitamente possível adicionar nessas capoeiras plantas frutíferas ou essência madeireiras que sejam aproveitadas para construção. Desse modo a capoeira passa a ter qualidades para, no intervalo do pousio, ser utilizada pelos agricultores na produção de alimentos, podendo ainda gerar renda localmente.
O último dia do encontro foi dedicado ao viveiro. Em uma oficina anterior a equipe do Fórum Carajás havia montado um viveiro de mudas no povoado. No entanto, a equipe que havia se comprometido em executar os trabalhos havia deixado de fazer os acompanhamentos devidos, de forma que os três objetivos fundamentais para os quais o viveiro tinha sido estabelecido não estavam sendo cumpridos. Dessa forma a atividade dessa manhã se caracterizou por um trabalho teórico – prático dentro do próprio viveiro que incluiu rediscussão dos objetivos, revitalização da estrutura no que se refere às partes que estavam se deteriorando e reorganização da equipe de trabalho. Os objetivos passaram então a ser três: replantio da mata ciliar do rio Preto na altura do povoado, rearborização da agrovila e plantio de árvores frutíferas nos quintais das famílias interessadas.
A degradação do rio Preto foi muito comentada durante toda a oficina, assim como foi muito reclamado a pouca quantidade de árvores na agrovila. Em ambos os casos fica a sensação e que o calor e a redução da profundidade da calha do rio tendem a provocar dificuldades cada vez mais sistêmicas para o desenvolvimento da comunidade. O viveiro, portanto, pode ser um grande referencial para a manutenção das condições ambientais locais e, nesse caso, ficou definido que deve haver uma grande ação local para que toda a comunidade se envolva nesse trabalho, incluindo as crianças e os jovens.
* Itaan P.S. é professor da UEMA dos cursos de Medicina Veterinária, Agronomia e Zootecnia, cursa atualmente, o doutorado em agronomia pela Universidade Técnica de Lisboa e coordena o Laboratório de Extensão Rural (LABEX) do Centro de Ciências Agrárias (CCA).
** Colaboração do Fórum Carajás para o EcoDebate, 13/08/2010
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