INPE vai monitorar desertificação no Semiárido; Açudes e águas do São Francisco não amenizarão desertificação, diz diretor do Inpe
As mudanças climáticas vão aumentar a vulnerabilidade do processo de desertificação do Semiárido nordestino, disse ontem (9) o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara. Ele não acredita que a transposição de águas do Rio São Francisco e os açudes conseguirão amenizar o problema da desertificação que tem origem no aquecimento global.
“Há uma tragédia anunciada no mundo e estamos todos perplexos ante a incapacidade de mudar o clima, enquanto os países mais desenvolvidos, que são os mais poluidores da atmosfera, como é o caso dos Estados Unidos, não assumem abertamente compromissos para reduzir os efeitos, mesmo a longo prazo“, afirmou. Para Câmara, as regiões polares e tropicais é que vão sofrer as maiores consequências nos próximos anos.
O diretor do Inpe falou durante assinatura de acordo de cooperação entre o instituto e o Ministério do Meio Ambiente, para criação de um sistema de alerta precoce de secas e desertificação no Semiárido nordestino. O sistema vai fazer previsões sobre o clima na região, apontar as probabilidades de uso da terra e prever as variações climáticas. Segundo Gilberto Câmara, o Semiárido é a região do país que merece mais atenção em relação às consequências do aquecimento global.
Sistema vai monitorar risco de desertificação no Semiárido
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) vai elaborar o Sistema de Alerta Precoce de Secas e Desertificação no Semiárido brasileiro. O objetivo é desenhar cenários de vulnerabilidade resultantes do uso da terra, com ênfase na questão da desertificação, além de fazer previsões sobre mudanças climáticas.
Para viabilizar a implantação do sistema, o Inpe e o Ministério do Meio Ambiente assinaram ontem (9) em acordo de cooperação, durante a 2ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD).
No encontro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, defendeu a adoção de políticas públicas destinadas ao Semiárido para os próximos dez anos, a fim de amenizar os efeitos negativos das mudanças climáticas. Segundo a ministra, a Caatinga já perdeu 50% da cobertura original. “É necessário, pelo menos, tentar evitar que a situação se agrave ainda mais”, disse ela, ao destacar a necessidade de investimentos dos bancos públicos na área.
Na ocasião, foram empossados no CNDC 11 membros da sociedade civil, a maioria da Região Nordeste. Izabella Teixeira afirmou que o colegiado “precisa ter a mesma importância do Conselho Nacional do Meio Ambiente [Conama], dada a magnitude da sua destinação”.
Para a ministra, o CNDC deve buscar a adoção de medidas estruturantes, sem as quais não será possível obter resultados. “É preciso que a comissão aponte caminhos, com a convergência de objetivos e de ações.” Ela destacou, por exemplo, que a demanda por alimentos no país nas próximas décadas estará condicionada ao uso sustentável dos recursos naturais. “Sem água não haverá energia nem agricultura.”
Izabella Teixeira criticou a falta de engajamento dos prefeitos nas discussões sobre sustentabilidade do meio ambiente, “crucial num momento em que o tema desperta a atenção no Brasil e no mundo inteiro”. Ela lembrou que todas as previsões para os efeitos negativos do clima feitas há 30 anos se confirmaram.
Segundo a ministra, os prefeitos, “quando fazem suas marchas a Brasília, não trazem na sua agenda assuntos de interesse do meio ambiente”.
Izabella Teixeira disse que tratar do assunto de forma estratégica é fundamental, dada a importância para a produção de alimentos, a geração de energia e a redução de desastres naturais, como as enchentes ocorridas em Alagoas e Pernambuco em consequência de chuvas, que também tiveram exemplos drásticos em outros pontos do planeta, como no Paquistão.
Reportagem de Lourenço Canuto, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 10/08/2010
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