As forças do equilíbrio, artigo de Maurício Gomide Martins
[EcoDebate] É ponto pacífico que no Cosmo tudo é energia. Einstein, estabeleceu essa unicidade na célebre fórmula E=mc², pela qual podemos deduzir que toda matéria é energia concentrada. Dito de outra forma: energia é força indestrutível. É eterna e está presente, sob diversas formas, em toda a estrutura de relações existentes nessa grandeza a que chamamos Cosmo, Universo, Tudo.
Esse mundo total, que compreende trilhões de estrelas, organizadas em galáxias, sistemas, ciclos existenciais, está em equilíbrio ou em busca de equilíbrio. Desde os volumes enormes até os ínfimos, como os quarks que se aglutinam para formar prótons e nêutrons.
Não precisamos ir tão longe para ver, perceber e entender que o sistema solar a que pertencemos funciona com perfeição superior à de um relógio. Tudo por conseqüência do equilíbrio entre seus diversos, imensos e misteriosos componentes. E esse estado de estabilidade impressionante do presente é a resultante do embate de poderosíssimas forças havido no passado, no processo de gênese do sistema. Toda harmonia cósmica é obtida dessa forma.
Os planetas, satélites, asteróides, exercendo forças colossais no sistema, estão de tal forma harmonizados que proporcionam à Terra tranqüilidade à biosfera para que possa abrigar e dar condições favoráveis ao seguimento normal da Vida.
Nossa mãe-Terra possui forças transformadoras inimagináveis. Pelo sadio estado de equilíbrio, oferece acolhimento, suavidade, conforto, alimento, sombra e tudo de bom. Essa situação pode muito bem ser simbolizada pela imagem de uma grande cadela alimentando e zelando com amor materno a seus pequenos, indefesos e inocentes filhotes, nos quais está inserida uma cria de outro animal, quadro perfeitamente factível na vida real.
E o que os humanos estão fazendo com esse paraíso, esse conjunto de possibilidades e benefícios para a vida? Em nome de uma cultura fundada na atividade econômica predatória – cujo objetivo é saciar uma ganância voraz, sem limites e contraproducente – vem praticando o sacrilégio de violar os seus secretos domínios do desconhecido, desequilibrando todo esse paraíso vivencial.
Tais pensamentos ocorrem por estarmos, nos tempos atuais, presenciando diversas ações humanas malignas que constituem o começo da etapa final da vida na Terra. Lamentavelmente. Os humanos ainda não ambientalistas, se quiserem fugir dos efeitos danosos do progresso material, que enterrem a cabeça na areia, tal como o faz o avestruz. Somente cegos mentais não enxergam as evidências.
Quais são essas evidências? Já viram que uma criança, quando quebra uma vidraça, esconde as mãos? Já viram que um criminoso sempre procura esconder o fato? Já viram governos esconderem suas ações maléficas, sempre contando com a mídia que os ajuda a confirmar suas mentiras? Tudo para fugirem das conseqüências.
Já ocorreram no mundo perto de 50 acidentes nucleares, sendo o mais célebre e danoso o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Ali o processo de irradiação ficou livre, espalhando-a para a atmosfera (a mesma atmosfera que não pertence a pais nenhum, mas ao mundo). A solução emergencial foi a de tapar todo o conjunto do reator com concreto armado. Foi uma solução emergencial. E assim ficou até hoje.
Acidentes nas atividades petrolíferas ocorrem com mais freqüência. São de naturezas diferentes, mas causam estragos imensos aos ecossistemas. Agora mesmo está a humanidade passando por um momento de expectativa muito grave. Não parece ser tão trágica porque a mídia está colaborando, não lhe dando o real significado. Referimo-nos ao acidente ocorrido com o poço extrativo de petróleo da BP no Golfo do México. Essa tragédia já dura mais de 3 meses e a melhor tecnologia do mundo ainda não conseguiu tapar o vazamento. A pressão livre é muito grande e a crosta terrestre esponjosa de fundo do mar (1.700 metros) é frágil, pouco resistente. Isso traduz que, se for definitivamente tapado o vertedouro produzido pelo homem, a pressão interna pode romper o terreno subaquático em outras fissuras, deixando escapar o insigne sedutor negro.
Acidentes vários ocorrem em todas as circunstâncias. Nas estradas, na escola, na cozinha doméstica, deixando suas marcas restritas aos locais. Mas os acidentes ambientais são abrangentes. Têm potencial para produzir seus efeitos no mundo porque interferem no equilíbrio de que já falamos acima. A ação do homem nesse cenário se constitui de efetiva violação insana de um sacrário. Tudo em busca do lucro, esse vil motivo de vida do sistema econômico vigente.
A principal característica de reação do acidente é a sua imprevisibilidade. Pois bem, nesses citados tipos de ocorrência, com efeitos irreversíveis ao ecossistema, podem ser previstos? E as conseqüências trágicas e totais podem ser ignoradas? Quem vai querer retardar a rotação terrestre com o fim de obter lucros?
As ofensas humanas à Natureza não ficam sem seus efeitos. A Natureza não se defende na hora, mas reúne forças para restabelecer o equilíbrio perdido, pautando suas ações pelas leis naturais. Veja-se que a interferência no equilíbrio ambiental do Mar de Aral (semelhante à do Rio São Francisco), deu como conseqüência a morte do próprio Mar e de todo o ecossistema da região. Assim se constroem desertos.
Que a humanidade tenha conhecimento de que o desastre de Chernobyl ainda não está solucionado. A radiação ali está latente, esperando as condições adequadas para se libertar. Por quê? Porque a energia radioativa, como todas as energias do Cosmo, é indestrutível. Da mesma forma, as outras usinas nucleares possuem potencial para desequilibrar nosso ambiente vivencial.
Afinal, pode o mundo sobreviver sem o risco ambiental da ganância do lucro, que chega ao ponto de macular o ambiente dadivoso que lhe dá a suprema e divina energia, a Vida?
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e colunista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
EcoDebate, 28/07/2010
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