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Saiba mais: Fibras vegetais, artigo de Antonio Silvio Hendges

[EcoDebate] 1 – DA PRÉ HISTÓRIA AO SÉCULO XXI

As fibras são componentes estruturais das plantas utilizados desde a pré história para diversas atividades. Em todas as épocas e culturas, as fibras vegetais foram úteis em trançados, fixação, vestuários, adornos, cordoaria, alimentos e outros usos econômicos, culturais e arquitetônicos, fundamentais ao desenvolvimento das relações sociais e econômicas internas e externas entre povos e culturas. Os barcos de juta dos egípcios e os quipos (forma de comunicação “escrita” de alguns povos pré colombianos, nós codificados em cordas de fibras vegetais) certamente foram fundamentais para estas civilizações.

As fibras são tecidos estruturais das plantas, formadas principalmente por lignina, um polissacarídeo presente em aproximadamente 25% da matéria dos vegetais. O tecido vegetal esclerênquima é formado por dois tipos de células: os esclereídes, ou células curtas, e as fibras esclerenquimáticas, células alongadas, resistentes e flexíveis que são o principal componente das fibras vegetais. “O esclerênquima é composto de células mortas, alongadas e dotadas de paredes grossas e resistentes, devido à presença de uma substância chamada lignina. A célula esclerenquimática (ou fibra esclerenquimática) pode atingir mais de 1 milímetro de comprimento” (AMABIS, MARTHO, 1997, p.276). Estas características do esclerênquima vegetal possibilitam sua utilização em atividades em que são necessários tecidos fortes e flexíveis.


Atualmente, as fibras vegetais possuem diversas aplicações industriais e comerciais em muitas atividades cotidianas fundamentais à economia, saúde humana e animal, construção civil, vestuário, cosméticos, indústria automobilística e muitas outras aplicações que se expandem através de novas pesquisas e descobertas.

2 – PLANTAS FIBROSAS E SUAS APLICAÇÕES

Há muitas espécies vegetais com grande importância por produzirem fibras em quantidades e com qualidades necessárias ao aproveitamento comercial em muitas atividades e setores. O algodão é indispensável nas indústrias de tecidos. O cânhamo (a popular maconha) nos países onde é permitido seu cultivo comercial movimenta uma indústria em expansão, principalmente têxtil. “O tecido de cânhamo se parece com o linho, com a vantagem de ser mais durável e ter um custo de produção menor. O cânhamo é mais grosso e menos flexível que o algodão, hoje a fibra natural mais usada no mundo, mas é também mais resistente e aguenta melhor condições naturais difíceis. Isso faz dele o tecido perfeito para roupas duráveis (a calça Levi’s original era de cânhamo). Ao contrário dos tecidos sintéticos que o substituíram, o cânhamo é fresco, absorvente e biodegradável – portanto mais confortável e ecológico (BURGIERMAN, 2002, p. 81 e 82).

O sisal produz fibras muito resistentes, utilizadas em cordoaria, tapeçaria e redes. A piaçava é usada para confeccionar vassouras e escovas. A juta é outra fibra de origem vegetal que possui importância econômica para muitas comunidades. Na construção civil, há pesquisas que demonstram que a mistura de resíduos da fabricação de blocos cerâmicos com polpa de bambu refinada podem substituir com segurança até 20% do cimento utilizado. As fibras de coco também são bastante úteis na indústria, construção civil e paisagismo: indústrias automobilísticas, navais e aeronáuticas utilizam esta e outras fibras vegetais (como resíduos de madeira e esponja vegetal) como enchimentos em estofados, facilitando a reciclagem e evitando a combustão rápida, além de serem mais leves, resistentes e duráveis que as sintéticas. As fibras de coco também são utilizadas na implantação de telhados verdes, construções alternativas e jardins verticais, contribuindo para a preservação do xaxim (samambaiaçu) que se encontra em extinção.

Em cosmética, saúde, nutrição e limpeza também são utilizadas as fibras vegetais. É muito conhecida a esponja vegetal (Luffa cylindrica) utilizada em tratamentos dermatológicos e banhos como estimulante do(s) sistema(s) de circulação. Na alimentação, as fibras presentes nos alimentos são indispensáveis à saúde e adequado funcionamento do aparelho digestivo, estimulam a mastigação e são fonte suplementar de carboidratos para os consumidores primários. A utilização das fibras vegetais são atualmente bastante pesquisadas, e se mostram cada vez mais atuais como alternativas sustentáveis e economicamente viáveis em diversas áreas das atividades humanas.

3 – TECENDO A REDE

As fibras vegetais sempre estiveram presentes no cotidiano da espécie humana e os seus usos e aplicações econômicas e culturais nas sociedades primitivas como em nossa sociedade industrial não podem ser esgotados em um pequeno trabalho como este, que tem como objetivo mostrar alguns exemplos de usos e pesquisas, além de ser introdutório sobre este assunto. Mas, com o desenvolvimento de consciências e práticas mais ecológicas e preservacionistas, as fibras vegetais tendem a ser cada vez mais importantes e valorizadas, inclusive ampliando-se suas possibilidades para muitas áreas industriais que intensificam as pesquisas e investimentos em matérias primas biodegradáveis para seus produtos.

Embora a concorrência das fibras sintéticas, que por razões históricas e econômicas se apresentaram como substitutas adequadas, as fibras vegetais sempre foram mais viáveis economicamente, apresentando vantagens insubstituíveis nos aspectos ecológicos, conforto, resistência e adequação aos diversos ambientes. É importante que países com cobertura vegetal extensa como o Brasil, pesquisem e busquem mercados para espécies de alta produção de fibras vegetais, que inclusive podem ser produzidas e semi industrializadas pela agricultura familiar, assentamentos e cooperativas de pequenos agricultores, gerando empregos e renda de qualidade aos muitos trabalhadores que certamente seriam indispensáveis.

4 – REFERÊNCIAS

AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Fundamentos da Biologia Moderna. 2. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1997, p. 276.

ANJOS, Marcos A. S. dos; KHASROW, Ghavami; BARBOSA, Normando P. Compósitos a base de cimento reforçado com polpa celulósica de bambu. Parte 2. Uso de resíduos cerâmicos na matriz. Disponível em: http//www.scielo.br/pdf. Acesso em: 28 ago. 2008.

BURGIERMAM, Denis Russo. MACONHA. Coleção Para Saber Mais. 1. ed. São Paulo: Editora Abril, 2002. Cap. 5, p. 75-83.

Fibras de coco na implantação de telhados verdes. Disponível em: www.cocoverde.com.br. Acesso em: 19 jul. 2010.

Jardins verticais em fibras de coco. Disponível em: www.cocoverde.com.br. Acesso em: 19 jul. 2010.

* Colaboração de Antonio Silvio Hendges [E-mail: as.hendges{at}gmail.com], Professor de Biologia e Agente Educacional no RS, para o EcoDebate, 28/07/2010

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