Um eleitorado mais maduro e feminino nas eleições de 2010, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Prof. José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O Brasil assistiu, desde o início do século XX, a uma queda das taxas de mortalidade e, em um segundo momento, a uma queda das taxas de natalidade. Este fenômeno conhecido como transição demográfica tem reflexos no século XXI, com a mudança da estrutura etária e o processo de envelhecimento populacional. Paralelamente, devido ao fato das mulheres terem menores taxas de mortalidade e serem mais longevas, existe também o fenômeno da feminização da população brasileira, isto é, a cada ano cresce o superávit de mulheres no país. Se olharmos para as pirâmides demográficas brasileiras veremos que a base da pirâmide está se reduzindo e o lado direito (das mulheres) ficando maior do que o lado esquerdo (dos homens), principalmente nas idades superiores.
O processo de feminização e envelhecimento da população brasileira tem um reflexo imediato sobre o eleitorado brasileiro. Segundo dados do TSE, o número de brasileiros aptos a votar, em fevereiro de 2010, era de 132,6 milhões de eleitores, sendo que 55,98 milhões tinham entre 16 e 34 anos, representando 42% do eleitorado; e 76,64 milhões tinham 35 anos ou mais, representando 58% do eleitorado.
Este envelhecimento ocorreu com mais destaque para o sexo feminino. Em outubro de 1992, as mulheres eram menos de 50% do eleitorado em todos os grupos etários. Porém, em fevereiro de 2010, as mulheres já tinham ultrapassado a barreira dos 50% em todas as idades, expecialmente aquelas acima de 35 anos. O destaque deste processo encontra-se no grupo etário de 60 anos e mais, já que em 1992 as mulheres eram apenas 47,9% e passaram, em 2010, para 54,8%.
A reversão do hiato de gênero entre o eleitorado brasileiro aconteceu de forma bastante rápida. Em outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Brasileira, havia 38,3 milhões de homens registrado no cadastramento eleitoral e 37,2 milhões de mulheres, que representavam 49,2% do eleitorado. Em 1998, aconteceu a última eleição em que as mulheres foram minoria do eleitorado (49,9%). As eleições do ano 2000 foram as primeiras, na história do Brasil, com maioria feminina (50,6%), pois houve 54,2 milhões de homens e 55,4 milhões de mulheres.
Esta diferença em favor das mulheres cresceu rapidamente e, em fevereiro de 2010, as mulheres já superam os homens no eleitorado em praticamene 5 milhões de votos. Em 22 anos, as mulheres praticamente dobraram sua força eleitoral, passando de 37 milhões, em outubro de 1988 e devendo chegar a cerca de 70 milhões, em outubro de 2010.
Desta forma, nota-se que o eleitorado brasileiro tem se tornado, progressivamente, mais envelhecido e mais feminino. As mulheres de 35 anos ou mais constituem 30,3% do eleitorado brasileiro, segundo dados do TSE para fevereiro de 2010. Ou dito de outra forma: as mulheres “balzaquianas” vão ter um peso cada vez maior no processo eleitoral brasileiro, influindo na decisão do voto e na agenda dos candidatos.
Parece não haver dúvidas de que as cinco milhões de mulheres podem decidir as eleições presidenciais de 2010. Só não se sabe ainda em quem elas preferirão votar e se a decisão delas será a favor de uma mulher ou a favor de um homem. Há muito tempo, o eleitorado brasileiro já estava preparado para eleger mulheres para os diversas representações da política. Mas somente no mes de maio de 2010 – antes considerado mês das noivas e das mães – foi que duas mulheres fizeram história. Pela primeira vez na democracia brasileira, duas mulheres passaram a ter mais intenções de voto do que os homens.
Existem 12 pré-candidatos concorrendo à Presidência da República, sendo 10 homens e duas mulheres. Os dez homens são: Américo de Souza (PSL), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), José Serra (PSDB), Levy Fidelix (PRTB), Mario de Oliveira (PT do B), Oscar Silva (PHS), Plinio de Arruda Sampaio (PSOL), Rui Costa Pimenta (PCO), e Zé Maria (PSTU). Na pesquisa Vox Populi, divulgada no dia 15/05, o ex-governador de São Paulo, José Serra ficou com 35% das intenções de voto. Os outros 9 candidatos, juntos, no máximo, somam 3% dos votos. Portanto, no conjunto, a intenção de votos de todos os homens fica em em torno de 38% do total.
Já as mulheres pré-candidatas são somente duas, mas Dilma Rousseff (PT) com 38% de intenções de voto e Marina Silva (PV) com 8%, somam um total de 46% de intenções de voto, fazendo com que as candidaturas femininas, neste momento, tenham maior simpatia do eleitorado do que as candidaturas masculinas. Números parecidos divulgados pela pesquisa IBOPE de 05 de junho confirmam a liderança feminina nas intenções de voto à Presidência.
As eleições de 2010 são as primeiras em que um eleitorado, majoritariamente feminino e envelhecido, vai ter opção real de escolha, entre um presidente ou uma presidenta, para a chefia do posto máximo da República Federativa do Brasil. Em outubro, saberemos qual foi a escolha.
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição.
E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 24/06/2010
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