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Não há mais tempo … Entrevista com Lester Brown

“Não há mais tempo para negociações. O jogo acabou e é preciso agir imediatamente para chegar a uma sociedade neutra em termos de carbono, ou seja, a um mundo capaz de criar riqueza e bem-estar sem alterar o equilíbrio da atmosfera”. Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute e presidente do Hearth Policy Institute, encara com ceticismo a conferência da ONU sobre o clima, em Bali. A reportagem e a entrevista é de Antonio Cianciullo e publicada pelo jornal Repubblica, 4-12-2007.

Eis a entrevista.

Mas, sem uma negociação global, como se podem cortar radicalmente as emissões de gás serra?

Pode-se chegar a uma redução de 80 por cento até 2020, o objetivo necessário para desativar a mina climática, na condição de não perder mais tempo. Os governos devem agir imediatamente e há quem já começou. O primeiro ministro da Nova Zelândia se empenhou, até 2020, em reduzir de 70 a 90 por cento as emissões de anidrido carbônico e em fazer plantar 250 mil hectares de bosques. Até 2040, reduzirá à metade a quantidade de gasolina utilizada por cada automobilista. Apostará no sistema hidroelétrico, um recurso muito abundante no país, e na geotermia para obter eletricidade limpa.

Que margens pode ter um país como a Itália, que já utiliza ao máximo os seus recursos hídricos?

A Itália tem muitas possibilidades no campo da energia solar, da eólica e, também off shore [longe da costa], da geotermia.

Uma reconversão energética da Nova Zelândia pesa pouco em nível global.

Mas, há fortes sinais também em outros países. O governo conservador da Austrália foi desafiado por suas posições anti-ambientalistas. O líder dos democratas no Senado americano se opôs a toda nova central a carbono nos Estados Unidos. O republicano Schwarzenegger lidera os Estados americanos que recorreram à magistratura para obter mão livre nas medidas de contenção dos gases serra, medidas estas hostilizadas por Bush. Quinhentas cidades americanas se enfileiraram a favor do protocolo de Kioto.

Que papel desempenha a Europa?

A União européia está em primeira linha. Há países, como a Irlanda, que eliminaram virtualmente o uso dos combustíveis fósseis e aquecem os edifícios em 90 por cento com a energia geotérmica. E muitas outras coisas sucederão no próximo ano, porque os sinais que nos chegam são terríveis.

Refere-se às alterações climáticas descritas pelo quarto relatório Ipcc?

Aquele é o quadro de partida, mas a situação piora rapidamente. No Ártico, numa só semana, desapareceu uma área de gelos duas vezes maior que a Grã Bretanha. A perspectiva de um degelo da Groenlândia, que levaria a um aumento de 7 metros do nível do mar e a 600 milhões de prófugos ambientais, se aproximou muito: atualmente já não se mede mais com o metro dos milênios. O Ganges está se transformando num rio sazonal, alimentado somente durante a estação das chuvas, e isto quer dizer que se desfaz o sistema de irrigação.

Menos alimentos e mais famintos, porque aumenta a população e porque aumenta a riqueza de biocombustíveis.

O objetivo dos biocombustíveis, no modo como foi impostado nos Estados Unidos, carece de sentido: há um percentual insustentável de cereais destinados ao uso energético e isto conduziu a uma onda de aumentos de todos os produtos coligados a estas matérias primas, incluindo leite e carne. A exasperação dos protestos pelo custo das tortilhas no México mostra o que se arrisca. Mesmo porque desta vez não se trata de crises alimentares episódicas: em sete dos oito últimos anos o consumo mundial de grãos superou a produção e foram consumidas as provisões. A verdade é que converter o grão em petróleo não convém, mas os dois mercados estão atualmente tão estreitamente interligados que cada aumento do petróleo se reflete num aumento dos preços dos cereais”.

Nada de biocombustíveis. Sobre que concentrar-se agora?

Nada de biocombustíveis de cultivos intensivos: eles podem ser extraídos da recuperação dos refugos agro-alimentares. Além disso, existem as máquinas híbridas para substituir aquelas movidas a óleo, bem como a eficiência energética e as fontes renováveis. O Texas, um Estado sempre ligado ao petróleo, programou centrais energéticas a vento para 23 mil megawats, o equivalente a 23 grandes centrais a carvão.

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 11/12/2007 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]