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Artigo

Sem esquecer de se divertir, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Lembro de uma cena (gravada ao vivo e aberta ao público) em que o Paulo Sant’Ana ganhava um presente de uma professora e dizia no ar que “ela está me dando essa geléia, mas disse que não é para dar nem uma provinha pro Mendelski”, então colega dele na TV, que não apoiava os pedidos de aumento para os professores. Você pode gostar ou não gostar de pessoas como o Sant’Ana, ou o Davi Coimbra, ou até o Sílvio Santos, por exemplo, mas o senso de humor é uma das coisas que torna qualquer assunto mais atrativo.

Claro que há formas muito diferentes de humor, desde as mais grosseiras (que usam preconceitos e ofensas para ridicularizar e humilhar seus alvos, como no “bullying”) até as mais sutis e inteligentes, capazes de divertir sem agredir frontalmente as pessoas, mesmo que questionem algum aspecto de seus valores – é o caso daquela definição de que “status” é “comprar algo que você não quer, com um dinheiro que você não tem, para mostrar para pessoas que você não gosta, uma pessoa que você não é”. Sutil também é a diferença entre a dita “brincadeira sadia” e a de “mau gosto”, depende muito da suscetibilidade de com quem se brinca. Talvez a única forma segura de ser elegante no humor é fazer brincadeiras sobre si mesmo, ao invés de sobre outras pessoas. Como na máxima de Groucho Marx, de que “eu não entraria num clube que me aceitasse como sócio”.

Estudiosos sobre o humor afirmam que ele “abre” a mente para idéias novas, por isso são consideradas pessoas carismáticas, também, aquelas capazes de um toque de humor no seu modo de se comunicar. Por tudo isso, os “marqueteiros” costumam indicar aos candidatos que sorriam muito, sejam agradáveis e simpáticos ao máximo, por mais chatos que sejam os assuntos de que estejam tratando. Nesse ano eleitoral, três presidenciáveis já visitaram os gaúchos e todos tentam seguir à risca essa recomendação. Dilma sorriu bastante para as câmeras e respondeu sobre futebol. Serra, inclusive, fez questão de contar uma piada. Agora, nessa semana, Marina fez brincadeira sobre si mesma, quando perguntada se ficaria ‘uma gata’ por ter um vice da Natura, dizendo que ficaria uma ‘jaguatirica’, que já é maquiada pela natureza (já que ela não pode usar maquiagens, por alergia).

O (provavelmente) mais lido cronista gaúcho, Sant’Ana, não mudou sua posição que já tinha expressado dias antes, que a disputa será entre Dilma e Serra, mas dedicou uma coluna elogiosa a Marina – e suspeito que o bom humor foi um dos fatores que o cativou. O aspecto mais curioso sobre esse assunto é um documento político internacional, chamado “Carta Verde da Terra” (Global Greens Charter, Canberra, 2001), que termina afirmando que os verdes “apoiarão todos os seus membros pessoalmente e politicamente com amizade, otimismo e bom humor sem esquecer de se divertirem durante o processo !”. Já pensou ? Uma coisa é seguir conselhos de marqueteiros e tentar aparentar bom humor, mas ser capaz de se divertir de verdade, em assuntos tão espinhosos, é uma “prescrição política” audaciosa e otimista, tão diferente das disputas políticas que estamos acostumados que é capaz de ser um dos fatores (se houver conteúdo, claro) capaz de “fazer a diferença” para quem tiver, mesmo, esse espírito.

Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 21/05/2010

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