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Poluição é o principal fator de empobrecimento dos pescadores da Baía de Guanabara. Dragagem do Canal do Fundão ameniza poluição

O canal separa o continente da Ilha do Fundão, onde fica o câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O canal separa o continente da Ilha do Fundão, onde fica o câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foto de O Globo, 22/12/2008

A poluição é o principal fator de empobrecimento das comunidades pesqueiras da Baída de Guanabara. Esta é a avaliação do presidente da Federação dos Pescadores do Rio de Janeiro (Feperj), José Maria Pugas. Para ele, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, que poderia reativar a pesca na região, anda em ritmo lento.

“O nosso maior apelo é que as questões ambientais sejam enfrentadas verdadeiramente, e os critérios de licenciamento de empreendimentos industriais sejam mais rígidos. O programa de despoluição da baía ficou parado por 4 meses, só as estações de tratamento de esgotos estão evoluindo, mas não em sua plenitude. As redes de coletas, que ao meu ver são a prioridade, estão sendo construídas e tem melhorado. Mas tudo está longe do ideal”, destacou Pugas.

Pugas também critica a ocupação industrial das áreas ao redor da baía. E é acompanhado pelo ambientalista Sérgio Ricardo, da Organização Não Governamental Verdejar, que denuncia os impactos ambientais que decorrentes dessa ocupação sem planejamento. “De quatro anos para cá, a baía está sofrendo um processo de reindustrialização. Isso gera vários impactos ambientais como as áreas de exclusão de pesca: cada empreendimento ocupa um local que proíbe a pesca a determinada distância. Sobraram apenas 13 áreas pequenas próximas do canal central e da ponte Rio-Niterói, e não está havendo nenhuma compensação ambiental”, afirmou o ambientalista.

Na comunidade da Vila Pinheiro, no Complexo da Maré, zona norte do Rio, existe uma colônia de pescadores embaixo do viaduto da Linha Vermelha, uma das principais vias expressas da cidade. Aproximadamente 40 pescadores circulam cotidianamente na região, entre os canais do Cunha e do Fundão. Dependendo das condições do mar, chegam a pescar, em média, 40 quilos de peixes, que são vendidos na Central de Abastecimento (Ceasa).

“Estamos tendo muitos barcos danificados devido às obras, os canos de dragagem têm obstruído o canal (do Cunha). Antes nós passávamos até com maré vazia. Amanhã eu não sei, a tendência é melhorar, mas hoje não vemos diferença nenhuma”, reclama o pescador Francisco de Assis, da colônia da Vila Pinheiro.

Pedro Machado, também da colônia, elogiou a implantação das barreiras ecológicas, chamadas Eco Barreiras que, além de conter o lixo, geram renda para as cooperativas da região. Mas o pescador pondera que as pessoas precisam ser educadas para não jogar lixo nos rios. “A minha família mora às margens do rio Faria Timbó, em Manguinhos. A última chuva forte no Rio encheu mais de um metro dentro de casa, coisa que as pessoas achavam que não ia mais acontecer por causa da dragagem que fizeram na região há 5 anos. Colocaram essa barreira de contenção, que ajudou muito. Mas ainda falta conscientização, reeducar as comunidades e explicar que não pode jogar lixo nos rios”, disse o pescador.

“O Canal do Cunha é a parte mais poluída da Baía de Guanabara, tanto por esgotos como pela poluição industrial. Recebe esgoto sem tratamento de toda a Zona Norte e da Leopoldina, onde concentram-se grandes favelas, como Maré, Manguinhos, Jacarezinho e Alemão. Além do parque industrial instalado na região, como a refinaria de Manguinhos, que há décadas polui a Baía de Guanabara”, explicou Sérgio Ricardo.

Dragagem do Canal do Fundão ameniza poluição que afeta a Baía de Guanabara

A degradação ambiental do Canal do Fundão é preocupante. O canal está assoreado, o que dificulta a navegação pesqueira. O mau cheio é habitual. O problema começou em 1950, quando a região foi aterrada para a criação da Ilha do Fundão, onde hoje funciona a maioria das instalações da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Complexo da Maré, que já foi a maior favela sobre palafitas do Rio e hoje está parcialmente urbanizada.

Desde essa época, o risco de doenças nas comunidades da região é permanente, sobretudo nos afluentes do Canal do Cunha, cujas águas desembocam no Canal do Fundão, antes de chegar à Baía de Guanabara. O acúmulo de materiais contaminados, do lixo sólido e do grande volume de esgoto doméstico e industrial contribuem para aumentar os índices de poluição.

As obras no Canal do Fundão, que iniciaram em maio de 2009, integram o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). O projeto está sendo executado pela construtora Queiroz Galvão, com financiamento da Petrobras, sob responsabilidade da Secretaria Estadual do Ambiente e da Fundação Bio-Rio. O valor do contrato é de R$ 184 milhões, e visa a recuperação ambiental da região com a reurbanização completa do local.

O subsecretário estadual do Ambiente, Antônio da Hora, destaca que já foram dragados cerca de 400 mil m³ de sedimentos com a retirada de 150 toneladas de resíduos no Canal do Fundão. Uma das dificuldades, segundo o subsecretário, é levar as máquinas para o canal, por causa das pontes e da falta de acessos às margens. Depois de concluído o trabalho de dragagem, da Hora acredita que os benefícios serão sentidos rapidamente pela população local. “Essa região é a foz do Canal do Cunha, que por sua vez é a foz de diversos rios da região. Uma vez que vamos desobstruir a boca de saída deles na Baía de Guanabara, vamos desobstruir o fluxo dos rios e também reduzir a possibilidade de enchentes”, disse.

Instalados em aproximadamente 56.000 m², divididos em duas áreas, os bolsões de desassoreamento do canal irão retirar 200 m³ de material contaminado por mês. Em um dos bolsões, os resíduos retirados do fundo do canal já chegam a 2 metros de altura.

Mas os ambientalistas criticam a dragagem do canal. “Aquilo ali não tem nenhum benefício concreto para as comunidades em volta, não é saneamento básico, não é recuperação de nada, é uma dragagem sem conter o assoreamento. Nós corremos o risco de, daqui a três anos, ter de dragar novamente”, critica o ambientalista Sérgio Ricardo, da Organização Não Governamental Verdejar.

Antônio da Hora contesta o ambientalista. Ele garantiu que a dragagem não é “algo para 5 ou 10 anos”. Barreiras ecológicas foram instaladas para conter o lixo que flutua nos rios e, assim, as águas passariam a circular normalmente. “Nossa expectativa é de que a região passe a ter um assoreamento normal de 1 a 3cm por ano. A água que não circula terá seu fluxo normalizado, trazendo benefícios para toda a região”, afirmou da Hora.

Reportagem da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/05/2010

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