Educação Alimentar: Somos o que comemos… artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Educação é tudo…
É a construção do ser humano…
Doença é falta de educação.
Roubo, assassinato, agressão é falta de educação.
Falta de alimento e fome é falta de educação.
Explorar o próximo é falta de educação.
Ser explorado também é falta de educação.
Legislar em interesse próprio é falta de educação.
Estresse, depressão, angustia existencial, pânico, tudo isso é apenas falta de educação.
Trair a relação afetiva é falta de educação.
Será que toda e qualquer situação de sofrimento do homem é falta de educação? Como avaliar a qualidade da educação de uma pessoa?
Através do conjunto de suas atitudes e hábitos – dentre elas, como e de que forma a pessoa se alimenta. “Somos o que comemos”: pode-se acrescentar também, o que, como, e o quanto comemos, à medida que deixamos de fazê-lo e passamos a nos alimentar progredimos: ao ponderar que o excesso de alimento que dana nossa saúde pode ser repassado a outro que não tem acesso a ele, assim, nos tornamos mais saudáveis e éticos.
Observando uma criança comendo é possível também avaliar a qualidade de seus pais; tanto como pessoa quanto como educadores. Exemplo, a popular desculpa da pressa da vida moderna e da falta de tempo para preparar alimentos mais saudáveis; no fundo é um esconderijo da preguiça.
Prestar atenção ás falas do dia a dia pode ser muito útil:
– Meu filho não come verduras! – O meu detesta frutas! – Legumes? Nem pensar! – Não sei mais o que fazer para essa criatura comer!
– Sinceramente não sei como essa criança consegue parar em pé, ela não come nada!
– Meu neto é uma beleza, não tem esse problema, parece “lima nova” traça tudo que aparece pela frente! – se deixar ele come o dia inteiro!…
Conversa de mãe e de avó em qualquer lugar onde possam trocar figurinhas a respeito dos filhos. Principalmente na sala de espera dos pediatras.
Educação alimentar parece um bicho de sete cabeças capaz de engolir as boas intenções dos pais em educar os filhos.
Comer qualquer um come; até sem fome. Aprender a se alimentar já exige melhor qualidade humana. Evidente que a atitude mais inteligente seria começar certo; mas, a maioria de nós só desperta para a educação alimentar depois de criado um problema; daí vira reeducação, reforma – sempre sai mais caro reformar do que construir direito.
Antes de se tentar mudar os hábitos alimentares é preciso rever alguns conceitos. Pois, fixar conceitos e mantê-los em épocas de grandes mudanças como na atualidade é um risco para a qualidade de vida e até para a própria sobrevivência dos teimosos e dos que pensam pouco.
Aprender a buscar comida para manter-se vivo é um artifício natural para o progresso das espécies.
Faz parte do chamado instinto de sobrevivência. Para o animal é fácil, cada espécie sabe o que comer, quando e quanto, sem ninguém precisar ensinar. Para o homem a situação complicou-se com a capacidade de pensar e de escolher, a tal da liberdade ou livre arbítrio tornou-se um sério problema para quem tem preguiça de pensar e má vontade em reformar hábitos.
Por que mudar o costume? Antigamente o ato de se alimentar envolvia poucos riscos, o maior problema era não ter o que comer. Se as opções são restritas a chance de errar é bem menor, tudo é mais fácil quando as opções são poucas e localizadas, e quando cada coisa tem a sua época certa, naturalmente. A qualidade humana para resolver situações desse tipo não precisa ser lá essas coisas, basta esticar o braço e colocar na boca o que está á mão e pronto. Hoje, a situação é bem diferente há milhares de opções cada uma mais atraente e perigosa do que as outras.
Daqui á frente a seleção natural vai estar com a corda toda; quem não quiser pensar que se cuide, vai transformar seu corpo numa lata de lixo químico.
Não custa nada revisar alguns conceitos sobre educação alimentar:
FALTA DE APETITE
Pouca fome ou muita fome é um conceito subjetivo e pessoal. Quando o adulto fala a respeito do apetite da criança, a maior parte das vezes está se projetando nela; medindo-a com a régua da sua própria fome e dos chavões culturais que recebeu e, incorporou ao seu sistema de crenças sobre o ato de alimentar-se. Exemplo, pais gulosos ou comilões representam um sério perigo para uma educação alimentar infantil de boa qualidade.
ANOREXIA
A ausência total de fome é comum na criança que vive um momento de doença febril ou um distúrbio digestivo grave. Nesse caso, o desaparecimento da fome é um mecanismo automático, instintivo de sobrevivência e de defesa contra a doença. Principalmente contra a imposição que o adulto lhe faz da comida, como se o ato de comer e em grande quantidade fosse condição essencial de saúde e de vida.
Na vigência da doença o corpo da criança está tentado se recuperar concentrando suas defesas orgânicas para tentar resolver um problema momentâneo e localizado. Para tanto, a digestão deve ser interrompida temporariamente para facilitar o processo de recuperação.
Como um paradoxo, muitas vezes na doença febril uma das importantes causas primárias que possibilitaram a infecção foi o excesso de toxinas resultantes da dieta inadequada e excessiva, que o corpo da criança não foi capaz de eliminar pelas fezes, suor e urina. O mecanismo da febre tem como uma de suas importantes funções, além de ativar o sistema imunológico, neutralizar o excesso de toxinas (“queimar”); que põe o corpo em perigo. Doenças febris repetitivas; dentre outras coisas, sinalizam a necessidade de revisar a dieta.
O estilo de vida atual cria desastres como a anorexia mórbida que resulta dum choque de paradoxos: criança bela e vencedora é a gordinha – adulto belo e vencedor são os magros; nesse distúrbio cultural quem sofre mais são as mulheres.
APETITE SELETIVO
Simpatia e aversão a determinados alimentos é natural, e ás vezes até um problema de nascença.
A origem mais comum do apetite seletivo na maior parte das crianças enjoadas para comer: gosto disto; odeio comer aquilo; é decorrente dos seguidos episódios da anorexia das doenças febris não respeitados pelo adulto; pois, quando o apetite da criança some os pais ficam inconformados e desesperados; daí, eles partem para as guloseimas e o que a criança gosta. Há um fundo cultural capaz de justificar, apenas em parte, esse erro grosseiro, disseram para essas pessoas e elas acreditaram que, se a criança não come não vai sarar e pode até morrer; no entanto durante os primeiros anos de vida da criança, isso vai se repetir seguidas vezes e mesmo assim as pessoas não querem livrar-se dessa cultura da comilança; nem perceber nem aprender com as lições do cotidiano.
Na recusa ao alimento normal do cardápio da criança oferecem todo tipo de tranqueira. Para o adulto desprevenido não importa o que a criança coma, interessa apenas que coma alguma coisa.
Outro componente importante na formação de hábito alimentar seletivo é a falta de qualidade do pensar do adulto que só prepara e oferece o que a criança gosta. O desastre existencial é fantástico; essas crianças tornam-se pessoas ortodoxas demais; que não ousam experimentar o novo; e correm o risco de levar uma existência medíocre em todos os sentidos.
Apenas para aprender; selecionem uma pessoa conhecida que come sempre a mesma coisa; que não experimenta nada diferente – vida amorosa pobre; vida profissional medíocre; pois, aprendeu a vida toda a fechar portas e não a abri-las ao novo…
Infelizmente a maioria de nós vai precisar reciclar os hábitos de alimentação depois de adultos; e não raro; á força – espremidos por uma contingência ou doença.
Mas, na nossa eterna vida nunca é tarde para começar nada – quando encaramos cada nova situação como um novo desafio de aprendizado.
O que fazer?
De forma resumida:
Numa primeira fase de progresso “sentimos” os alimentos que nos fazem mal; depois, os que nos fazem bem; a seguir os que nos ajudam a pensar com mais clareza; depois os que nos trazem sensação de plenitude espiritual por serem mais desmaterializados. Nossa dieta espelha o grau de evolução: ancorados no plano físico mais grosseiro necessitamos de alimentos mais “pesados”; ao avançar, as necessidades diminuem em quantidade e melhoram em qualidade.
Além disso:
A dieta pode ser usada como exercício de força de vontade; pois ao a ajustarmos precisamos fazer pequenas “renúncias” diárias fortalecendo-a ao perseverar.
Qual a dieta ideal?
Conforme colocaremos na palestra do feriado de junho em Curitiba:
“A dieta ideal ou a do Apóstolo Paulo” permite comer de tudo; a inteligência é que mostra se devemos ou não; conduzida pela razão torna-se simples, ecologicamente correta e justa; desenvolve a humildade, pois quem a busca sem estar doente reconhece a perda de um estado de saúde orgânica, estético ou mental. Dentre outras coisas bem mais relacionadas ao simples estado físico de saúde ou doença.
Aprender a se alimentar implica na percepção energética do universo e ajuda a abandonar a visão de mundo puramente material; o ato de alimentar-se pode adquirir um significado transcendental; pois alimento é vida e se a recebo da natureza como retribuo?
A simples atitude de questionar-se ao receber o alimento pode oferecer um novo sentido para muitas vidas.
Alimentar-se também é aprender e praticar ecologia e ética; é saber receber e trocar; e, não apenas enfiar alimento “goela abaixo”; a energia tem que fluir para que exista vida e, é preciso manter aberto o circuito executando trocas, pois quem o mantém fechado retém o excesso que não flui, engorda, adoece ou morre; na verdade receber funde-se com entregar, passar adiante o que não é nosso e, reter naquele momento o que não é próprio cria doenças e morte. O conceito de amar ao próximo como a si mesmo (Jesus) é na realidade um conceito de recebimento-troca na sua pureza energética plena, até no ato de comer.
Mas, como repassar as verdades da vida aos comedores de chip?
A vida em si é um infindável recurso pedagógico. Quer se conhecer analise friamente seus hábitos de alimentação.
Quer saber como será a vida com seu novo amor?
Preste atenção ao que ele come; á maneira como o faz – e Bingo!
Já dá prá saber o que esperar dessa amada criatura.
Só gosta de comer tranqueiras – cuidado; pois, o efeito espelho da nossa personalidade na dieta é vero.
NA VIDA SÓ NÃO APRENDE QUEM NÃO QUER.
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 13/05/2010
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Dr. Americo,
Gosto muito de ler seus artigos.Eles são informativos e orientam bem as pessoas.
Parabéns pelo belo artigo sobre Educação Alimentar.
Abraços,
Regina Lima