Crise da Grécia: O Diabo Veste Prada III, a Vida Imita a Arte, artigo de Jorge Barros
A CRISE DA GRÉCIA É A PONTA DE UM ICEBERG DA CRISE DA EUROPA, MÃE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E DO NEOLIBERALISMO, QUE É A CRISE DE INSUSTENTABILIDADE PLANETÁRIA, INCLUSIVE DO BRASIL EM MÉDIO PRAZO.
[EcoDebate] Depois da gravíssima crise exteriorizada na vida do milionário e famoso jogador e campeão de golf, Tiger Woods, como pessoa física, vítima do modo capitalista de produção e consumo neoliberal (meu artigo O diabo veste Prada II), agora é a vez da Grécia, como pessoa jurídica, caminhar para o mesmo cadafalso, guardando as devidas proporções é claro, mas ambos dependentes, em crise e altamente viciados e infelizes.
O mundo inexoravelmente terá que caminhar para uma economia de baixo carbono, menos pela questão do aquecimento global, e sim por causa do diagnóstico contido no relatório “Nosso Futuro Comum” (1987) que aponta a imperiosa necessidade de mitigar e adaptar o grave problema da insustentabilidade do planeta Terra. E para que isto efetivamente aconteça, terá que haver, entre outras ações de mitigação e adaptação, uma radical mudança no padrão de produção e consumo, preconizado na ECO/92 e lavrado na Agenda 21 Global, mas que encontra muita resistência para a sua aplicação e razão de ser da crise grega.
O desabafo do presidente grego, senhor Carolos Papoulias, afirmando que seu país encontra-se à beira do abismo, além de apontar para uma crise mundial sistêmica e não cíclica, pior que a crise financeira internacional, ele também atira no que viu para matar aquilo que ele não está percebendo, que tanto os gregos, cuja reação, além de ser sintomática, será também em efeito dominó de escala planetária, é só esperar para ver, quanto o próprio mundo não estão sendo preparados, e o pior, muito menos desejam essa mudança do padrão do consumo. E é exatamente por isto que a Grécia está reagindo, para não perder o seu padrão de vida, que os alemães classificam-na de perdulária, isto é, gastadora, esbanjadora e desperdiçadora. E qualquer pessoa minimamente séria poderá perceber que este “nó górdio” não é exclusivo só da Grécia, mas da totalidade dos países ocidentais e que desgraçadamente já atingiu também o modo de vida oriental que é o vício da droga lícita denominada de consumismo.
O jornal britânico Financial Times acaba de criticar o Brasil, acusando-o de “fanfarronice latina (Latin swagger)”, a respeito do estardalhaço feito internamente do modo de recuperação econômica do país frente à crise financeira mundial. Esta crítica está eivada de razão, uma vez que, se por um lado o país, graças aos seus fundamentos macroeconômicos, neste primeiro instante passou quase que incólume frente a esse tsunami financeiro de escala mundial, por outro lado ele precisa ainda fazer o principal ajuste e dever de casa e mudar drasticamente seus fundamentos microeconômicos, onde a cultura do consumismo doméstico, jeito grego de ser, que o jornal em questão denomina de “complacência latino americana e brasileira”, deve ser imperiosa e urgentemente substituído pela Cultura da Poupança interna doméstica, hábito que o brasileiro perdeu, e o pior, é incentivado pelo governo a não fazer, e aí caminhamos à médio e longo prazo para sermos a próxima “bola da vez” aqui na América, como foi no passado recente a Argentina, ou efeito Orloff da Grécia. Quem viver verá! Se não houver é claro uma mudança do curso atual que está sendo inclusive agravado pela desmobilização gradativa dos fundamentos macroeconômicos, como é o mais recentíssimo caso da queda pela Câmara dos Deputados do Fator Previdenciário, importante marco e conquista do nosso sucesso econômico, em nome de um socialismo com o bolso alheio e com um custo avassalador a médio e longo prazo.
Hoje desgraçada e tragicamente cada habitante da Grécia representa uma Miranda Prestley, principal personagem do filme “O diabo veste Prada”, criatura humana deformada pelo modo capitalista de produção e consumo, bem sucedida por fora, mas profundamente infeliz, derrotada e vazia por dentro, mas, que se viciou no hábito dos holofotes e do consumismo desenfreado e que já não sabe mais viver a vida natural, porque foi totalmente capturada pela vida artificial, a ponto de Alemanha, para negá-la um empréstimo, classificou-a de perdulária. Pobre Grécia, berço da história, da civilização, do conhecimento e um dia templo dos filósofos. Este fato configura a verdadeira “tragédia grega” que será de escala planetária.
Adm.prof. Jorge Barros
Educador e Administrador Socioambiental e
Membro da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do CRA/RJ
www.administradores.com.br/home/jorge_barros
Coordenador de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Escola Técnica UNISUAM – ETUS
institutoverde{at}gmail.com
EcoDebate, 11/05/2010
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