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Notícia

Palmeira em pé dá mais lucro Projeto ajuda a preservar Serra do Mar

Produtores que antes cortavam ilegalmente a palmeira juçara para extrair o palmito agora produzem o açaí

A descoberta de que a partir da semente da palmeira juçara pode-se produzir uma polpa tão nutritiva e gostosa quanto a do famoso açaí da Amazônia pode ser o caminho para combater a extração ilegal do palmito juçara, um dos maiores problemas na Mata Atlântica. Em São Paulo, a Fundação Florestal desenvolve há alguns anos programas de fomento da produção e manejo sustentável de juçara e os primeiros resultados começam a surgir. Por Niza Souza, do O Estado de S.Paulo, 16/07/2008.

Um deles é o projeto de repovoamento da palmeira juçara no Vale do Ribeira, no sul do Estado, que teve início em 1998, com a proposta de combater a extração ilegal da espécie, prática que atinge inclusive áreas de parques estaduais. A idéia, diz o agrônomo Guenji Yamazoe, era aproveitar áreas já desmatadas e abandonadas por bananicultores para a produção sustentável do palmito. “No meio do caminho percebemos que era possível aproveitar a semente e produzir uma polpa semelhante à do açaí. O que é ainda mais viável e interessante, pois o produtor pode ter renda sem precisar cortar a palmeira”, diz.

Os primeiros plantios, cerca de 50 hectares (mil árvores por hectare), foram feitos no bairro do Rio Preto, em Sete Barras. “Ali há cerca de 100 famílias e 30 já estão no projeto”, diz o biólogo Wagner Gomes Portilho, da Fundação Florestal, unidade de Registro. Ele destaca que é preciso trabalhar o manejo sustentável de espécies da floresta atlântica e para isso é “essencial deixar as árvores em pé”. “Conseguimos conscientizar esses produtores mostrando que o aproveitamento da polpa é mais lucrativo que o palmito.”

O presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro Rio Preto, Antonio Neves Teixeira, conta que, antes de aderir ao projeto, a maioria dos agricultores do bairro plantava bananas. “Com a sigatoka negra e a broca os custos aumentaram e ficou inviável continuar. Além disso, produtores do Sul começaram a plantar banana de qualidade melhor e os compradores sumiram daqui”, conta Teixeira.

SOBREVIVÊNCIA

Ele argumenta que os palmiteiros retiram o palmito da mata para sobreviver. Agora, com o projeto de manejo sustentável, a expectativa é melhorar as condições dos produtores. “Ainda estamos começando, mas incentivamos todos a plantar. Inclusive, temos o viveiro e produzimos as mudas para vender”, diz.

Para processar a semente, a Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro Rio Preto recebeu em 2003 a doação de R$ 100 mil, da Embaixada Britânica, para instalar um laboratório-piloto de extração da polpa. Este é o segundo ano que a comunidade testa a produção. A colheita da semente é manual e exige certa habilidade, pois as sementes ficam no topo da árvore. A polpa equivale a 30% da semente. O que sobra também é aproveitado para as mudas.

Este ano, a comunidade produziu 500 pacotes (de 400 gramas) de polpa congelada. “Ainda é pouco, porque mais da metade da área é de plantio novo. Mas o projeto ainda está começando e podemos dizer que é um caminho seguro, pois o açaí já tem mercado”, diz Yamazoe. O potencial para plantio, só no Vale do Ribeira, é de 50 mil hectares de área agricultável abandonada.

Projeto ajuda a preservar Serra do Mar

Em Ubatuba, colheita de 2 mil quilos de frutos rende 1.300 quilos de sementes para polpa e replantio em parque

A merenda escolar da rede municipal de Educação de Ubatuba, no litoral norte paulista, vai receber em breve um reforço significativo, vindo de uma nova proposta de sustentabilidade para a Serra do Mar. Cerca de 700 quilos de polpa de juçara serão acrescentados à dieta dos alunos em forma de suco, com propriedades altamente nutritivas para o organismo das crianças, sendo também um passo muito importante para o futuro do meio ambiente naquela região. Por João Carlos de Faria, do O Estado de S.Paulo, 16/07/2008.

A polpa vendida para a prefeitura é parte da colheita da safra do juçara – no ano passado já houve uma primeira experiência -, mas é a primeira com plano de manejo aprovado pela Fundação Florestal e uma estrutura de processamento de frutos aprovada pela Vigilância Sanitária.

MANEJO SUSTENTÁVEL

O plano faz parte de outra ação para combater a extração ilegal do palmito juçara, o projeto Educação Agroflorestal para o Manejo Sustentável nas Comunidades Tradicionais da Mata Atlântica, financiado pelo Subprograma PDA/Mata Atlântica do Ministério do Meio Ambiente e é executado pelo Instituto de Permacultura da Mata Atlântica (Ipema), com sede em Ubatuba.

A proposta visa a coleta de frutos de juçara no entorno e no interior do Parque Estadual da Serra do Mar e está vinculada a uma pesquisa para avaliar os impactos da atividade. A aprovação do plano de manejo possibilita que as comunidades que vivem no interior do parque possam ter renda com o manejo sustentável da floresta e agroflorestas.

As ações de produção de polpa de juçara estão sendo desenvolvidas em cinco comunidades tradicionais de Ubatuba: Ubatumirim, Quilombo do Camburi, Quilombo da Fazenda, Aldeia Indígena Boa Vista e Corcovado.

Segundo o coordenador do projeto, Luciano Corbelini, do Ipema, uma segunda fase, no valor de R$ 350 mil, está sendo negociada com o ministério, para estender o projeto para os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro, formando a Rede Juçara. “Além do Ipema, estão envolvidas outras 12 entidades que trabalham diretamente no processamento da polpa, de caráter socioambiental atuante, com foco na agricultura familiar e tradicional e a sustentabilidade da Mata Atlântica”, explica Corbelini.

COMUNIDADES COMEMORAM

A colheita deste ano, apesar da quebra de cerca de 30%, por causa do excesso de chuva, que impediu que a coleta dos frutos fosse feita a tempo, e por causa de alguns problemas de manejo, deixou animadas as 13 famílias que fazem parte do projeto. No total foram colhidos este ano cerca de 2 mil quilos de frutos, com rendimento de mil quilos de polpa e 1.300 quilos de sementes para serem plantadas, repovoando a região.

“Foi a melhor coisa que aconteceu para a comunidade”, afirma entusiasmada a agricultora Laura de Jesus Braga, moradora do Sertão da Fazenda, um remanescente quilombola, onde vivem mais de 40 famílias. Muitas dessas famílias, segundo ela, viviam do corte clandestino do palmito, única alternativa de renda que lhes restava. A comunidade colheu 115 quilos de frutos, o que deve resultar em 50 quilos de polpa e cerca de 75 litros de suco.

A produção será congelada, para ser vendida aos turistas na temporada, na praia, numa lanchonete cedida à comunidade pela administração do Parque Estadual da Serra do Mar. “No ano passado nós já vendemos e a aceitação foi muito boa”, revela Laura.

INFORMAÇÕES: Ipema, tel. (0–12) 3848-2682

[EcoDebate, 18/07/2008]