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Protesto antinuclear acirra campanha eleitoral na Alemanha no aniversário de Chernobil

Maioria da população quer desistência nuclear, diz Sigmar Gabriel, líder do SPD.
Maioria da população quer desistência nuclear, diz Sigmar Gabriel, líder do SPD.

Aniversário de 24 anos da tragédia de Chernobil foi precedido por protestos contra energia nuclear. Mais de 100 mil pessoas uniram-se em corrente humana às vésperas de eleições estaduais na Alemanha.

O dia 26 de abril de 1986 ficou marcado na história pelo acidente mais grave já ocorrido em uma usina nuclear. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a explosão ocorrida na cidade ucraniana de Chernobil, que na época fazia parte da União Soviética, ocasionou a morte de quase 9,3 mil pessoas devido aos efeitos da radiação.

Na Alemanha, 24 anos mais tarde, mais de 100 mil pessoas fizeram uma corrente humana em uma das maiores manifestações antinucleares das últimas décadas. O protesto ocorreu neste sábado (24/04), duas semanas antes das eleições estaduais no estado da Renânia do Norte-Vestfália, impondo-se como um fator que pode ser decisivo no pleito eleitoral.

O objetivo dos manifestantes foi enviar um sinal claro contra a política nuclear do atual governo de coalizão em Berlim, que pretende prorrogar o prazo de funcionamento de reatores nucleares na Alemanha. O protesto ocorre em um momento político importante, devido às eleições estaduais que se anunciam.

Protesto com campanha política

Políticos alemães de peso participaram da corrente humana no sábado, como os chefes das bancadas parlamentares verdes, Jürgen Trittin e Renate Künast, e o líder do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel, que perfilaram de mãos dadas.

Só que, enquanto para os verdes a oposição à energia nuclear sempre fez parte da identidade partidária, para os social-democratas, isso nem sempre ficou muito claro.

Apesar de Sigmar Gabriel ser conhecido em seu partido como contrário a usinas nucleares desde o início, seus companheiros, até agora, não participaram ou se mantiveram à margem da maioria dos protestos antinucleares.

Segundo Gabriel, a população é claramente a favor da desistência do uso de energia nuclear, mas a coalizão de governo formada por conservadores e liberais, eleita no ano passado para governar a Alemanha, pretende prolongar a vida útil das usinas atômicas por mais 28 anos.

“Energia atômica? Não, Obrigado.”

om 120 quilômetros de extensão, a corrente humana formada pelas cerca de cem mil pessoas contornou três usinas nucleares no norte da Alemanha. Em muitos locais, os ativistas levantaram cartazes com o slogan “Energia atômica? Não, obrigado.”

Os manifestantes protestaram contra o plano do governo alemão de prolongar a vida útil das atuais 17 usinas nucleares do país. No estado de Hessen, o protesto reuniu cerca de 10 mil pessoas em torno da usina nuclear de Biblis. E na Renânia do Norte-Vestfália, mais de 5 mil pessoas engrossaram o coro antinuclear em frente ao depósito provisório de resíduos nucleares de Ahaus.

“As usinas nucleares devem ser desativadas, porque são perigosas e porque não se tem uma solução para o lixo nuclear”, defendeu uma manifestante. “O projeto de desistência do uso de energia atômica já havia, já tínhamos chegado lá. E agora a coalizão liberal-conservadora quer uma política nuclear diferente. Assim não dá”, queixou-se a manifestante.

Usinas desativadas apresentaram panes

Defensores da energia nuclear, como Sven Minge, do partido da premiê Angela Merkel, União Democrata Cristã (CDU), na cidade de Geesthacht, acham que os protestos não têm sentido.

Em sua opinião, ainda será encontrada uma solução para o lixo nuclear, e a tecnologia atual é suficientemente segura. “Certamente existe um risco mínimo em muitas áreas. Mas nesse caso eu defendo que ele é calculado”, disse Minge.

De fato, duas usinas nucleares, em Brunsbüttel e Krümmel, relataram diversas panes nos últimos anos. Ambas foram desativadas em meados de 2007. A empresa de energia Wattenfall planeja reativar os reatores assim que possível, provavelmente no início do próximo ano.

Renate Backhaus, perita em energia nuclear da organização para a proteção do meio ambiente e da natureza na Alemanha (BUND), disse estar convencida de que não é possível garantir a segurança de usinas nucleares.

“Alguns anos atrás quase tivemos um desastre na usina de Biblis. Uma luz vermelha de alerta foi ignorada durante 24 horas. Por sorte, viu-se o aviso a tempo e as válvulas puderam ser fechadas. Agora, ninguém venha me dizer que na tecnologia nuclear nunca ocorrem problemas inesperados ou erros humanos.”

Autora: Silvana Gardenal (NDR) / Francis França
Revisão: Carlos Albuquerque

Reportagem da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicada pelo EcoDebate, 28/04/2010

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