O sentimentalismo do governo brasileiro na construção de barragens, artigo de Mayron Régis
[EcoDebate] As regras de boa conduta no cenário da economia mundial aquecem ou esfriam os ânimos dos governos dos países não mais obedecendo a teorias econômicas, mas simplesmente triturando a ortodoxia econômica e a heterodoxia econômica no mesmo pilão para no fim as duas se amalgamarem numa mesma gororoba de sabedoria duvidosa.
Posando para a posteridade, os ortodoxos defendiam o corte de gastos na máquina pública e o corte de impostos que incidiam sobre as atividades produtivas como forma de incentivar a iniciativa privada. Posando para a posteridade, os heterodoxos defendiam a intervenção do Estado na economia com a injeção de recursos através de investimentos das empresas estatais.
As elites brasileiras cansaram um pouco desse confronto e por isso, no começo dos anos 90, numa conjunção extraordinária de Marte com Plutão, abraçaram a aliança PSDB e PFl. Para a conjuntura política da época, essa aliança possibilitou que a economia brasileira se internacionalizasse em setores considerados estratégicos como energia, mineração e telefonia e que os investimentos ou os não-investimentos em áreas como saúde e educação satisfizessem a lógica do capital.
O mundo econômico alterna duas personalidades neuróticas. Em um momento, o Estado desaba em seus propósitos mais nobres e a iniciativa privada salva o mundo com sua redução do espaço público e com o aumento do ego. Em outro momento, a sanha de valorização se trumbica em papéis de ópera bufa e o Estado comparece como o maestro de uma nova ordem sentimental.
O governo brasileiro sentimentaliza tudo que seja em relação a qualquer coisa, mas para o mundo da economia abstrato-concreta o que importa é que o governo brasileiro sentimentaliza qualquer coisa com relação aos impulsos para a economia brasileira e um desses impulsos tem a ver com a construção de barragens.
Sendo bastante historicista, esse governo é ortodoxo e defende com unhas e dentes a construção de grandes barragens como promotora do desenvolvimento econômico e social. Esse governo também é heterodoxo porque molda uma imagem de democrático-popular quando defende a expansão da oferta de energia elétrica para setores das classes populares.
Mayron Régis, assessor do Fórum Carajás, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 11/03/2010
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