Pesquisa da USP pede mais atenção dos médicos ao índice de gordura visceral, um dos mais claros sinais de doenças coronarianas
Entenda o índice de gordura visceral. Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no tamanho original clique aqui.
Sinal escondido – A circunferência da cintura e do quadril e o índice de massa corporal são indicadores de riscos conhecidos para a doença coronariana. Um estudo realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) analisou a artéria coronária e a gordura visceral de 125 indivíduos, com idade média de 56 anos. O trabalho reforçou que a alta quantidade de células adiposas nas vísceras está diretamente relacionada ao comprometimento das coronárias, responsáveis pela irrigação do coração. Até aí, poderia ser apenas um reforço científico para um dado costumeiramente em estudo.
A novidade apresentada pelos médicos do InCor/USP, entretanto, é mais um alerta para os profissionais da saúde que para os obesos. Segundo eles, a pesquisa demonstrou que, diante do resultado de uma tomografia computadorizada, exame requisitado com frequência a pacientes com problemas na região visceral, os clínicos ou especialistas de outras áreas devem ficar atentos em relação ao alto índice de gordura visceral. Hoje, embora a imagem aponte com muita clareza essa mazela, o indicador quase nunca é visto com relevância. O olhar atento pode salvar vidas. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.
Se a gordura visceral já ultrapassou os níveis aceitáveis, é bem provável que as artérias estejam comprometidas, pois esse tipo de adiposidade expõe o paciente a três vezes mais risco de obstrução coronária do que os níveis elevados de gordura subcutânea, por exemplo. “Os médicos devem atentar para a quantidade de tecido adiposo visceral e, quando os indivíduos apresentarem taxa elevada dessa gordura, encaminhá-los imediatamente à cardiologia. Diante desse quadro, a tomografia computadorizada na região do coração é bem indicada e detecta obstruções não reveladas em exames convencionais”, explica Luiz Francisco Ávila, médico assistente da Divisão de Diagnóstico por Imagem do InCor.
A doença arterial coronariana (DAC) é uma das principais causas de morte em todo o mundo. O mal é silencioso e os sintomas demoram a aparecer. Os pesquisadores da USP vinham notando que os resultados de exames de peso e medidas ou até tomografias tradicionais nem sempre são suficientes para apontar o comprometimento coronário. “Até a artéria ter 70% de obstrução, geralmente, não há sintomas e os exames convencionais não apresentam alterações significativas. É preocupante, porque mais de dois terços dos infartos, cerca de 68%, têm ocorrido em pessoas com placa obstrutiva de 50%”, pondera Ávila.
Limites
O cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Dislipidemias do InCor, Raul Dias dos Santos, também coordenou o estudo e enfatiza que o risco entre a gordura visceral e a DAC é realmente conhecido. “O que fizemos de inédito foi estudar os danos coronários nos pacientes que apresentaram altos índices de gordura visceral. E o nosso instrumento para fazer isso foi a tomografia computadorizada, que não faz parte do arsenal padrão de diagnóstico”, explica. Segundo o especialista, o trabalho não pretende induzir os médicos a solicitarem esse exame para todo paciente obeso, sem limites, e sim para aqueles que apresentam muita gordura na região das vísceras. “Tanto a gordura subcutânea, que é aquela de aparência mole, quanto a visceral, que se mostra mais resistente, são prejudiciais. A diferença é que aquela que se encontra nas vísceras se mostra bem mais nociva do ponto de vista metabólico, porque libera continuamente substâncias que minam a artéria coronária”, afirma. “E isso não aparece nos exames convencionais.” Lesadas, as artérias se tornam alvo fácil para o acúmulo de placas que obstruem o fluxo sanguíneo.
Nem sempre o paciente com muita barriga é o que tem mais gordura visceral. A obesidade abdominal em forma de “maçã” geralmente a denuncia, mas há casos de pessoas obesas que apresentam altos índices das duas gorduras ou de apenas uma delas. E existem também aqueles com índice de massa corporal normal que concentram muita adiposidade nas vísceras. Por isso, o estudo também analisou pacientes como o radiologista Sávio Cardoso, 33 anos. O médico tem um histórico familiar grave de doença coronária na família. O pai teve um infarto aos 45 anos. “Faço exames tradicionais constantemente para acompanhar, porque sei que sou um forte candidato a ter danos coronários. Embora esteja em forma, com o peso indicado para a minha altura, temia que os exames convencionais não apontassem o perigo. Agora, tenho certeza que a gordura visceral está sob controle, mas mudei meu estilo de vida porque percebi o quanto ela danificou as coronárias dos voluntários que estão com taxas elevadas desse mal”, afirma.
A receita continua a mesma. Para prevenir a doença arterial coronariana é preciso evitar as duas gorduras. Mas entender que a visceral pode antecipar as doenças do coração pode ajudar a evitar o pior. Embora seja muito mais maléfica, ela é mais fácil de perder com exercícios e dieta equilibrada. O trabalho dos pesquisadores do InCor/USP será levado adiante. “Vamos acompanhar todos os pacientes que foram submetidos ao estudo. Pretendemos comparar os dados com análises bioquímicas. O objetivo é identificar outros marcadores no sangue com a gordura visceral alterada”, adianta Ávila.
EcoDebate, 05/03/2010
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