Ambientalista alerta para risco de hidrelétrica no Cerrado
Tokarski diz que o desmatamento no Cerrado chega a ser três vezes maior do que na Amazônia.
O diretor da ONG Ecodata, Donizete Tokarski, um dos organizadores do Seminário de Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Alto Tocantins, encerrado nesta sexta-feira na Câmara, acusou os empreendimentos de usinas hidrelétricas de colocar em risco grande parte da biodiversidade do Cerrado. Segundo ele, o desmatamento na região chega a ser três vezes maior do que o verificado na Amazônia, mas, por falta de apelo social, os protestos são menos intensos do que os contrários à devastação da floresta tropical.
Tokarski lembra que a biodiversidade do Cerrado é equivalente à da Amazônia. São cerca de 4,4 mil espécies de plantas (sendo 44% delas endêmicas). Elas correm riscos de extinção pela “interrupção do fluxo gênico” provocada pelas hidrelétricas da região, que fragmentam a área e impedem a reprodução de algumas espécies.
Apesar de o Cerrado ocupar originariamente 24% do território nacional, pouco mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, estudos atuais demonstram que restam 61,2% desse total, em áreas distribuídas no Planalto Central e no Nordeste. “Além disso, preocupa o fato de a reserva legal ser de 20% no Cerrado, enquanto na Amazônia é de 80%, sendo que 40 municípios em Goiás não respeitam nem 10% da reserva legal”, acusou Tokarski. Ele não listou quais seriam esses municípios.
PEC do Cerrado
Para amenizar o quadro, o ambientalista defendeu a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC 115/95, que reconhece o cerrado como bioma nacional, além de projetos que recuperem áreas degradadas pela agricultura e pecuária. “Noventa e cinco por cento da população brasileira depende de energia gerada pela água que nasce no Cerrado. Isso é um forte argumento para se proteger o bioma”, considerou.
A argumentação de Tokarski foi rebatida pelo especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA) José Luiz Gomes Zoby, que defendeu uma maior participação do Cerrado na matriz energética brasileira, especialmente do rio Tocantins. Segundo ele, dos 12 mil megaWatts que ainda podem ser gerados nos rios deste bioma, 74% são do Tocantins. Zoby explica que esse rio tem natureza “mais encaixada” do que outros cursos de água, como o rio Araguaia, mais “espalhado” e propício a outras atividades, como a piscicultura e irrigação. Além do Tocantins, Zoby destacou o potencial dos rios Araguaia (12%), das Mortes (2%) e do Sono (2%).
Além da Ecodata, o seminário foi promovido pela ONG WWF-Brasil e pelo Consórcio Intermunicipal de Usuários de Recursos Hídricos para Gestão Ambiental da Bacia Hidrográfica do Alto Tocantins (Conágua Alto-Tocantins). O evento também contou com o apoio da Frente Parlamentar Ambientalista e das comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Legislação Participativa; e de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
Reportagem de Rodrigo Bittar. Edição de Francisco Brandão. Agência Câmara – 27/06/2008 17h02