Visão antecipatória, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Oded Grajev já era um empresário de sucesso, quando achou que isso era pouco e que devia ajudar a mudar o mundo, sendo um dos idealizadores do Forum Social Mundial. Nos anos 80, quando os empresários tinham medo que uma vitória de Lula desestabilizasse a economia, ele foi o primeiro a “avalizar” que um projeto mais voltado às questões sociais seria benéfico à própria economia brasileira. Agora, Oded tem percorrido o país na companhia de Guilherme Leal, o presidente da Natura (uma empresa cujo faturamento evoluiu de 12 milhões, nos anos 90, para 2 bilhões e meio atualmente), divulgando um novo projeto, o do desenvolvimento sustentável proposto por Marina Silva, que esteve esta semana na Federasul ladeada pelos dois.
Oded e Leal qualificam como uma “visão antecipatória” essa concepção integrada entre economia e ambiente. Foi o que aconteceu na ONU, pois a primeira recomendação de uma Conferência sobre o Meio Ambiente, em 1972, partiu de seu Conselho Econômico e Social. Evidenciado que os recursos naturais não são inesgotáveis e que o desequilíbrio ambiental afeta a economia (atingindo o clima e a produção agrícola, por exemplo), canalizaram suas preocupações para a realização da Conferência de Estocolmo, em 1972, a primeira do gênero. É interessante esse fato histórico, ressaltado na obra de Antonio Lombardi sobre “Créditos de carbono e sustentabilidade”, porque habitualmente se fala de questões ambientais e econômicas como se estivessem em oposição, como se as preocupações com as primeiras afetassem nossa capacidade de gerar riquezas comerciais.
Sim, podemos adiar essas questões e continuar comemorando o sucesso de nossa economia, os avanços sociais, as conquistas democráticas, pois afinal mesmo a onda de denúncias de corrupção é um avanço em relação à época em que nem ficávamos sabendo de tais fatos. Se estes hoje nos enojam, por outro lado também deveríamos nos orgulhar por termos hoje uma sociedade com liberdade de imprensa, capaz de tornar transparente a vida de homens públicos que, como dizia o Barão de Itararé, fazem “da sua vida pública uma extensão da privada”.
Mas se hoje temos todos esses avanços – mesmo aqueles que não percebemos dessa forma – é porque houve quem, há décadas atrás, lutava para que as coisas mudassem nas décadas seguintes, mesmo aparentemente “remando contra a maré” e os paradigmas hegemônicos da época. Num mundo em acelerado processo de transformação – para o bem e para o mal, como no caso da degradação do ambiente – é fundamental a “visão antecipatória” de que nos falam líderes sociais acima de qualquer suspeita, como Oded.
O que vivemos hoje é fruto de como pensávamos ontem e o modo como pensarmos agora determinará as próximas décadas. Como naquela propaganda do Greenpeace que chegou a passar em alguns canais de televisão, que mostra cenas chocantes de destruição da natureza, com as seguintes legendas: “Sabe aquela geração que queria mudar o mundo ? Parabéns. Vocês conseguiram”.
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 01/02/2010
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