Interesse pelo Haiti precisa se manter depois que vítimas sumirem da mídia, artigo de Ina Rottscheidt
Escola destruída em Cité Soleil, nas proximidades de Port-au-Prince. Foto ONU/Logan Abassi
O violento terremoto já encontrou um país assolado – política, econômica e socialmente. E o destino dos mais pobres do mundo não mudará, se a solidariedade mundial desaparecer quando vítimas e destroços sumirem da TV.
[Deutsche Welle] O Haiti é uma terra esquecida, há décadas. Ele não tem matérias-primas consideráveis, nem interesses estratégicos, nem mercados consumidores – apenas gente pobre. E um sem-número de catástrofes: ditaduras atrozes – a última das quais sob Jean Bertrand Aristide, forçado a fugir em 2004, deixando caos e anarquia para trás; em 2008, as revoltas da fome; poucos meses mais tarde, ciclones que arrasaram o país e fizeram centenas de vítimas.
Estes foram breves momentos em que o Haiti ocupou o foco da consciência internacional – para logo depois cair novamente no esquecimento.
Neste aspecto, a comunidade é corresponsável pelas proporções tomadas pelas consequências do terremoto. Pois o Haiti não estava preparado para um tamanho cataclismo. A assistência médica já era insuficiente, já faltava água e alimento. E, para quem conhece os miseráveis barracos que galgam os morros de Porto Príncipe, estava claro que eles não resistiriam a tal abalo.
Porém raramente se deu atenção a essa realidade: excetuadas umas poucas organizações humanitárias, o Haiti permanece só com sua pobreza, seus problemas e sua instabilidade política. Também as tropas da ONU pouco puderam alterar esse estado de coisas.
As Nações Unidas libertaram o país da anarquia total, das quadrilhas que dominavam bairros inteiros e se combatiam de forma sangrenta, e proporcionaram o retorno de resquícios de democracia a esse caos político – e seu mérito não deve ser subestimado. Porém a organização internacional não conseguiu criar novos empregos, encher barrigas, atrair investimentos ao país, nem neutralizar o clientelismo e a corrupção que exaure o Haiti há 200 anos.
No passado, as conferências de doadores, manifestações de solidariedade e encarregados especiais sugeriram, antes de tudo, um gesto impotente da comunidade internacional. Na última conferência de doadores para o Haiti, no início de 2009, 30 nações concordaram um apoiar o Estado insular com 320 milhões de dólares. Comparando: somente os Estados Unidos gastaram 700 bilhões de dólares com os seus “bancos necessitados”.
O Haiti precisa de ajuda a longo prazo, e de um interesse que se sustente depois que as perturbadoras imagens de vítimas e escombros tenham desaparecido das telas de nossos televisores; quando a ajuda humanitária tenha dado lugar à reconstrução. O Haiti precisa de ajuda agora, já, está claro; mas também precisará dela nos próximos dez, talvez 20 anos. E a comunidade internacional precisa de fôlego longo e paciência, para que o Haiti não volte a desaparecer no esquecimento.
Artigo na Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicado pelo EcoDebate, 18/01/2010
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