Os donos da terra x Os que se acham donos da TERRA, artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Ao ler o artigo: “Análise do censo Agropecuário de 2006” – artigo de Frei Sérgio Gorgen – publicado no EcoDebate de 07/01/2010 – pela sua importância resolvi “desenterrar”, “gradear” e “irrigar” com novos focos um antigo escrito sobre a legitimidade da propriedade da terra; que melhor seria designada como: ocupação do solo – cujo foco era: Até quando vamos confundir o que é legal com o que é justo?
O “enrosco” era mais ou menos o seguinte:
Dia destes, assisti ao final de um debate a respeito do uso da terra que me deixou muito preocupado, porque não dizer desalentado quanto ao futuro do planeta – faz tempo que essa estória rolou; mas, nem tanto quanto o que o IBGE levou entre executar o censo e publicá-lo, apenas 3 anos; num mundo tão célere e informatizado – “tiriricas de burocracia” diria Seu Zé, meu amigo preto velho da gema e da infância, lá no meio do matão do norte do Paraná.
Naquele dia na TV – O assunto era a monocultura, no caso em discussão a cana-de-açúcar e os males que podia gerar ao meio ambiente a curto e médio prazo. De um lado estava um cidadão preocupado com o meio ambiente e um técnico em engenharia ambiental e de outro um usineiro e um fazendeiro – cada qual expôs seu ponto de vista sobre os malefícios e os benefícios da cultura da cana em larga escala como está ocorrendo no estado de São Paulo que virou um imenso canavial. Foram usados todos os argumentos pró e contra como: possibilidade de criar desertos; destruição ambiental não recuperável; alterações climáticas regionais; criação de novos empregos; geração de energia elétrica; uso de subprodutos para a produção de polímeros; exportar tecnologia sucroalcoeira, etc.
Vou irrigar a discussão com novos produtos: Sabiam que os “gatos” ou empreiteiros de mão de obra sazonal estão aditivando o rendimento dos trabalhadores tipo: cortadores de cana e apanhadores de laranja com crak ao invés da tradicional maconha? – Não sabia? – E que essa epidemia está se espalhando entre crianças e jovens viventes em pequenas comunidades e antes de tradição de agricultura familiar. – Como ficam os filhos de mães solteiras órfãos dos trabalhadores sazonais que voltam para suas terras de origem depois de ganhar uma grana no corte de cana e atividades similiares – E o prejuízo do sistema de saúde abarrotado pelos atendimentos aos trabalhadores turistas quando não dava conta nem de atender os de casa; como fica?
Mas, voltando ao bate papo:
A discussão caminhava tranqüila até que, lá pelas tantas, um telespectador por meio de e-mail sugeriu a possibilidade de aplicação de uma idéia já em uso em alguns municípios: zoneamento agrícola, submetendo o uso da terra na área rural a algo semelhante ao que temos na zona urbana; não foi possível discutir a idéia, pois o fazendeiro nem deixou o moderador concluir a mensagem, ele foi categórico: “Isso é uma besteira que contraria a Constituição, pois a terra é minha e faço dela o que bem entender, se não estiver plantando algo ilícito ninguém pode determinar o que devo ou não cultivar na minha propriedade. Me diga algo que esteja dando mais dinheiro do que plantar cana que logo eu vou começar a preparar a terra!”. Como é melhor rir do que chorar; na hora eu me lembrei de uma célebre frase do Homer Simpson (desenho da TV): “A culpa é minha; eu a ponho em quem eu quiser”…
Não importa quem ganhou o debate, no sentido de convencer mais telespectadores, o que realmente me preocupou: até quando vamos confundir o que é legal com o justo, ético e inteligente?
E o que começa a desalentar: em pleno século 21 o conceito de propriedade não se atualizou segundo as conquistas da inteligência e da capacidade de discernir; esperadas.
Em virtude de sermos um povo Cristão em predominância; eu uso muito as falas de Jesus para ilustrar as Leis da Vida a que estamos, quer queiramos ou não; submetidos – Ele cansou de nos avisar para não desperdiçarmos muito tempo nem gerarmos débitos graves com os outros e com o planeta tentando armazenar em celeiros ou guardar em cofres as coisas materiais; no caso da agricultura, tudo apodrece muito rápido mesmo com o uso de conservantes e estabilizantes (in) sustentáveis – fazendo uma analogia com as riquezas mentais de sapiência: os conservantes são: as desculpas, justificativas e o conceito de normalidade – conservar dogmas e conhecimentos científicos “apodrecidos” pelo tempo; sem replantar é suicídio intelectual; câncer mental transgênico e transmissível.
Salta aos olhos de quem quer ver que, não somos donos de nada, estamos donos, temporariamente.
No caso do fazendeiro, deu para perceber que ele se sentia realmente e ferrenhamente “dono” da sua terra – um titulado proprietário acima de qualquer suspeita sem “grilo”; esquecia que dali a alguns minutos poderia estar morto.
Um parêntese: Já ouviram falar de “terras ou casas mal assombradas”? – Isso, não é brincadeira de copo; nem script de filmes; é vero; confesso que na hora tive a intuição: Se esse cara morrer hoje; coitados dos herdeiros ou do que se achar o novo dono da terra; ele vai ficar pentelhando todo mundo por séculos.
Mas voltando ao assunto:
É possível que pouco tempo depois ele resolvesse vender as terras e, a pessoa que se acharia dono delas seria outra e outra.
Ainda não somos donos de nada, nem do nosso tão decantado livre arbítrio, que ainda é precário e relativo. Orgulhosos e egoístas, devido à nossa teimosia em manter posturas como a dele; ainda estamos fortemente sujeitos a ação da lei de causa e efeito pelo lado negativo; tanto no aspecto individual como coletivo (não vá pensando que não tem nada com isso; só por ser um adepto dos braços cruzados, uma coisa do tipo: não me comprometa).
As pessoas que se acham donas da terra, ou de qualquer outra coisa se soubessem o que as aguarda no futuro teriam com certeza uma conduta diferente no presente.
Será que Deus é Pai agricultor que nos tenta ensinar a semear? – Será que a vida é uma eterna agricultura: você planta e colhe?
– Será?
Provavelmente; se novamente nos lembramos do Mestre Jesus nos dizendo que herdaremos a Terra – Será que voltando a 3D á TERRA até aprendermos a plantar e a colher? – Será que vai dar tempo? – Será que a paciência ou o saco de Deus também não se enche?
– Talvez seja preciso juízo; pois de retorno, sofreremos pelo comodismo e pela covardia de hoje. Claro que junto com os desculpistas e os acomodados; alguns vândalos que se acham proprietários do Mundo vão colher o que plantaram com mais intensidade; mas um dia se aliviarão com a caridade alheia – uma bela lavoura para colher depois; tadinhos de nóis.
Parece que, nada desta dimensão nos pertence nem aos nossos herdeiros, pois não somos donos nem da própria existência. Abrimos mão da competência para dispor dela se estivermos descontentes com o rumo que tomou; ou se nos sentimos infelizes porque ela não está rendendo tudo que esperávamos – quem plantou abacaxi não vai colher figos – é preciso recomeçar e aguardar o concurso do tempo.
O planeta é um bem de uso comum.
Ainda dependemos muito uns dos outros, nossa soberania emocional é pouco desenvolvida colocações infantis como “a vida é minha faço dela o que quiser” ou “não tenho medo nem me importo de morrer… nem quero ficar velho para não dar trabalho para os outros”; a terra é minha faço dela o que quiser – afirmações desse tipo sinalizam ignorância e pouca maturidade psicológica da nossa parte e talvez passagem só de ida para algum lugar antes ignorado.
Vale a pena sempre avançar em conceitos:
Mesmo os que se acham mais espiritualizados da boca prá fora que os demais; quando se encontram na condição de donos da terra, ainda criam animais para matança, aterram nascentes para plantar um pouco mais de capim, soja ou cana; já que as multas são “baratas” e elas vivem até no propinoduto; aproveitam a estiagem para atear fogo à reserva obrigatória de lei e, depois, já que está queimada, na cara dura, a aproveitam para plantio, etc.
Infelizmente a maior parte de nós quando vive a prova do poder e da propriedade ainda pensa mais com o bolso do que com o coração.
Mas, depois, na hora H, na hora da verdade que tanto nos “assombra”, desencarnados em 4D; mas ainda muito apegados ao que rola em 3D; damos trabalho por décadas ou centenas de anos na condição de matrix de donos do que não possuímos de fato; pentelhando, enchendo o saco, tirando o sossego de herdeiros e até de terceiros.
Dia destes na condição de buscador de dúvidas, como um ecochato espiritual participando de um bate papo com o além, conversando com um dono de terras que havia desencarnado há mais de cem anos foi difícil explicar prá ele sua condição atual; e que a propriedade não mais lhe pertencia; aquelas pessoas a quem ele perturbava não eram ladrões nem se apossaram dos seus “bens”; haviam comprado.
Quando nos apegamos às posses materiais não apenas destruímos o meio ambiente ou assassinamos animais; ainda transportamos essas encrencas para o outro lado da vida. Claro que dentro da perfeição do ecossistema da criação, todos os males “as tiriricas do Seu Zé” acabam tornando-se um bem.
Q
uem comete desatinos torna-se um sofredor ou até obsessor (que prefiro chamar de pentelho cósmico) e; nessa “pisada de bola”, torna-se ferramenta para que outros devedores de si mesmo ou do coletivo possam progredir – quando mais conscientes e esclarecidos.
Mas, até quando será dessa forma?
Claro que vai demorar! – Basta ler o já mais do que ultrapassado censo do IBGE; pois ainda estamos relutando em realizar uma Reforma Agrária urgente e justa – quando o momento de mudanças é urgente, até mesmo para aqueles que vão se achar os velhos ou novos donos da terra.
A dúvida: Será que o planeta suporta tanta agressão cada vez mais rápida e intensa dos que se acham os donos do planeta? – E não é só da terra não; mas, também da sapiência e do poder como as populações e corporações do hemisfério norte e os proprietários da terra abaixo do equador.
Nosso querido planeta está agonizando – será que não seria hora de depurá-lo das pessoas que não gostam dele?
O que estará atrasando o tão esperado final dos tempos?
Será que os habitantes dos mundos que vão receber os terráqueos estão protestando junto a Deus, fazendo passeatas cósmicas para não nos receber?
Talvez muitos governadores de mundos estejam preocupados com a possibilidade da nossa eminente chegada e estejam negociando cotas e bolsas – algo assim: o meu planeta só agüenta uns dez mil; outro: – até uns dois milhões dos mais mansos dá para acomodar, mais do que isso vai ser problema…
Mesmo tentando manter a fé na raça humana ainda fico com um que de desconfiança de alguns mentores espirituais afirmarem que mesmo expulsos daqui levaríamos o progresso a esses mundos: nossos novos lares.
Será?
E se nós levarmos a doença do orgulho e do egoísmo a povos primitivos? – Não será um novo desastre ambiental; só que desta vez cósmico?
Parece que já assisti a esse filme várias vezes, apenas o enredo e alguns personagens mudam…
É esperar para ver. Com a palavra o senhor do Tempo.
Mas, pessoal do IBGE façam o favor – levar 3 anos para publicar um relatório – ninguém merece – pois, tudo hoje já é diferente de ontem e de amanhã…
Prá finalizar a cumprida conversa de hoje, fico com os ensinamentos do meu preto velho da infância – Seu Zé: “Zinfiu; até as tiriricas são fius di Deus – ele sabe o qui fazê cum elas”.
Mas, brincadeiras espirituais á parte – O artigo de Frei Sérgio merece muito estudo dos seres viventes com mente pensante e braços fortes…
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 12/01/2010
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