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Artigo

‘Coisas de mulher’ e 2010, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Numa acirrada partida de xadrez, na casa de um tio em Soledade, fomos distraídos pelas risadas cúmplices entre minha namorada e minha priminha então com dez anos, que tinham acabado de se conhecer. Curioso, quis saber o assunto e a garotinha respondeu, sorridente: “Coisas de mulher”. Assuntos que alguns homens tentam desvendar, como as crônicas do David Coimbra sobre conversas nos banheiros femininos. Lembrei dessas coisas quando um jornal de Gramado criou um Suplemento Feminino e encomendou perfis de mulheres em evidência em 2009, suponho que variadas, tipo assim da Angelina Jolie até a Madre Teresa de Calcutá. Não sei quem escreveu sobre a Dilma, me encarregaram de escrever sobre a Marina e eu topei pela liberdade que me deram, que incluiu até uma referência ao Olívio Dutra. Aí vai minha opinião, é a que segue.

Gosto de fazer “pesquisas de opinião” por conta própria, quando a situação me leva a conversar com pessoas desconhecidas, do nada pergunto “em quem vai votar pra presidente?”. Um funcionário de um clube de Porto Alegre (onde meu filho disputava campeonato de skate) me disse que votaria na Marina Silva porque está cansado da velha politicagem, confia nela como esperança de honestidade. Já um taxista de Brasília respondeu que não sabia em quem votar e quando perguntado sobre Marina disse que “não votaria porque, pra ser sincero, eu sou machista”.

Achei coerente a resposta de não votar em Marina por ser machista. Na verdade, talvez seja o único motivo coerente. Porque ela representa uma nova mulher em todos os sentidos. È uma líder combativa e corajosa, desde os tempos de seringueira como Chico Mendes, mas tem uma doçura que está ficando até rara hoje em dia. É simples e culta ao mesmo tempo, é inteligente sem perder a humildade. Um adolescente me disse, outra vez, que a Marina “é feia” e acho que ela ainda não se dedicou, na verdade, a ser um pouco mais vaidosa, o que não seria pecado. Se quisesse, podia usar pinça nas sobrancelhas, mas talvez isso tenha a ver com alguma forma de “naturalismo”, não sei bem se é isso, como aqui no Sul parece sagrado não aparar aquele bigodão do Olívio. Mas na verdade eu nunca consegui imaginar a Marina feia e tirando aquele adolescente não sei quem mais a vê assim, tamanha a beleza que ela irradia quando fala. Tenho de me cuidar pra não falar muito isso, minha namorada é bem vaidosa e sabe que é amada, mas eu admiro tanto a Marina que ela já deve andar com um pouco de ciúmes.

Faz sentido imaginar que Marina Silva não queira ficar uma hora por dia se maquiando porque ela dedica sua vida às causas que dão sentido à vida, mesmo que também lhe dêem olheiras. Desde problemas básicos de sobrevivência dos trabalhadores mais simples, que vem de sua origem humilde, até os problemas mais complexos do desenvolvimento sustentável. De como fazer com que os modos de produção das empresas e os planos de governo sejam capazes de preservar nossa principal riqueza, os recursos naturais. De como fazer a política partidária incluir valores humanos e de convivência harmoniosa. Em 2009, ela contribuiu na liderança de um novo projeto para o país, evitando que as eleições de 2010 sejam um mero plebiscito entre os candidados dos governos dos últimos oito anos e dos oito anos anteriores.

Montserrat Martins é Psiquiatra, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 04/01/2010

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