Desequilíbrio humano, artigo de Montserrat Martins
Imagem: Corbis
[EcoDebate] Para o deprimido, decepcionado com a sociedade, dizia o Analista de Bagé: “Não te preocupa que eu dou uns telefonemas aí e mudo o mundo“. E quando o paciente reagia, “mas doutor, isso não é possível“, vinha a interpretação terapêutica: “Ainda bem que tu te dá conta, bagual !“. Os jovens americanos, mais otimistas, passaram uns emails e ajudaram a mudar o mundo mesmo, pois segundo os analistas políticos a internet foi decisiva na campanha de Obama. Sim, é verdade que ele teve apoio inclusive de grandes grupos econômicos na eleição, mas o apoio empresarial foi crescendo na proporção da sua popularidade pessoal – pois nem seria bom para a imagem dessas empresas, investir num cara impopular.
Agora que entrou na moda, finalmente, pensarmos no ambiente como resultado das ações humanas, podemos aproveitar esse entendimento para avaliar também a sociedade e várias formas de desequilíbrios humanos. Se estamos decepcionados com nossas instituições, o que podemos fazer pela “despoluição” dos sistemas de representação e delegação de poderes, para chegarmos a um “desenvolvimento sustentável” dos próprios seres humanos ?
Um outro modismo, mais questionável, é o de livros sobre “mentes perigosas”, como se os “psicopatas violentos” fossem fruto apenas de uma doença psíquica que não tem nada a ver conosco, ou com seus contextos de vida. Há mais de um século Freud já explicou o conceito de “introjeção”, pelo qual podemos compreender como relações humanas deturpadas podem ficar marcadas no nosso inconsciente de modo a formar personalidades perturbadas. Sim, existem psicopatas violentos e eles são perigosos, temos de aprender a identificar sinais de risco para nos protegermos. Mas quem sabe está na hora de nos preocuparmos em evitar que se formem novas gerações de seres humanos em condições de vida sub-humanas, introjetando as violências que sofrem no cotidiano das regiões dominadas pelo tráfico, por exemplo.
Se o desequilíbrio ambiental tem sido capaz de mobilizar os jovens para uma nova atitude diante da vida, ele pode ser um “catalisador” também de uma mudança mais ampla, na qual o desequilíbrio do ambiente humano seja incluído em nossa forma de perceber a vida e a sociedade. Porque a mente (psique) e o cérebro (orgânico) humanos, tanto quanto quaisquer sistemas ecológicos, também reagem a tudo o que ocorre à sua volta. Pelo menos é assim que entendem todas as pessoas e entidades (desde as várias abordagens psicoterapêuticas, até as de cunho espiritual) que tem obtido algum resultado na recuperação destas pessoas, que tem sido tratadas como “lixo” pela sociedade – mas mesmo que o fossem, porque suas vidas não poderiam ser “recicladas” ? Sabendo o quanto custa essa reciclagem, é mais racional investir em prevenção (com planejamento familiar, políticas sociais mais eficazes e planejamento urbano) dessa violência que já se volta contra nós, tanto quanto o desequilíbrio do clima.
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colaborador e articulista do EcoDebate.
EcoDebate, 18/12/2009
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