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Por que Irmã Geraldinha está ameaçada de morte? Artigo de Frei Gilvander Moreira

Irmã Geralda Magela da Fonseca, conhecida como “Irmã Geraldinha”
Irmã Geralda Magela da Fonseca, conhecida como “Irmã Geraldinha”

[EcoDebate] Irmã Geralda Magela da Fonseca, conhecida como “Irmã Geraldinha”, 47 anos, freira da Congregação Romana de São Domingos – CRSD – tem sofrido uma série de ameaças de morte, assim como membros do Acampamento Dom Luciano Mendes, em Salto da Divisa, Vale do Jequitinhonha, MG. Militantes do MST também estão sendo ameaçados. E, pior: as ameaças estão se intensificando. As ameaças são do tipo: “Eu vou quebrar o pescoço da Irmã Geraldinha e ninguém vai ficar sabendo quem foi”. Um jagunço mandou este recado à Irmã Geraldinha: “Já matei 15 e para completar 16 é daqui pra li”. “Se o fazendeiro Ronaldo Cunha ganhar a eleição para prefeito, vamos acabar com o Acampamento Dom Luciano incendiando tudo”. “A primeira cabeça que quero ver rolar é a da tal de Irmã Geraldinha. Ela só irá ficar quieta quando acontecer com ela o que aconteceu com a Irmã Dorothy Stang”. Outro, por telefone, disse à Irmã Geraldinha: “Quando você passar na frente da minha casa, você vai levar um tiro na cara”.

Por que Irmã Geraldinha está incomodando tanto? Desde 1993, Irmã Geraldinha, em Salto da Divisa, se dedicou ao acompanhamento dos Grupos de Reflexão Bíblica, organização de Cebs – Comunidades Eclesiais de Base – e de Associações Comunitárias que resultaram na criação de Associações de pescadores, de lavadeiras, de pedreiros, de moradores… Coordenou a Pastoral da Juventude – PJ – e, sucessivamente,  a Pastoral da Criança, ambas em nível Paroquial e Diocesano. Ela coordenou, também, em Salto da Divisa, as atividades da Associação Asas da Esperança, cuja finalidade era dar suplementação educacional às crianças carentes; além de dar assistência à Rádio Comunitária (criada sob a liderança das Irmãs Dominicanas) e em especial ao Grupo de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos – GADDH de Salto da Divisa, do qual, hoje, Irmã Geraldinha é vice-presidente.

Todo esse trabalho pastoral libertador desaguou na luta pela Reforma Agrária em Salto da Divisa. O MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – chegou também a Salto da Divisa e, com o apoio e participação ativa de Irmã Geraldinha, dia 26 de agosto de 2006, com cerca de 185 famílias Sem Terra, ocupou a Fazenda Manga do Gustavo para pressionar a desapropriação da Fazenda Monte Cristo – 1.385 hectares – que é improdutiva e não está cumprindo função social. Ali se instalou o Acampamento Dom Luciano Mendes que vem sendo acompanhado por Irmã Geraldinha desde o início. É sabido na região que a atuação pastoral de Irmã Geraldinha tem sido crucial para angariar apoio popular à causa do Acampamento Dom Luciano Mendes.

Ao ser questionada por um policial, Irmã Geraldinha disse: “Fico uma parte de meu tempo lá no Acampamento Dom Luciano junto com o povo ajudando eles a se organizarem em projetos e atividades produtivas, educativas e religiosas. Convivo com eles, pois são meus irmãos em Cristo. Não poço deixá-los desamparados. Tem que ter alguém por eles/com eles. Ajudo no que posso para que eles tenham mais conhecimentos para defenderem seus direitos. São pessoas simples que sempre sobreviveram nas fazendas, foram empurradas para a cidade e, hoje, no Acampamento Dom Luciano, estão tendo oportunidade e esperança para continuar sua profissão de agricultor. Não tiveram oportunidade de estudar; muitas vezes, não sabem dos direitos que têm. Juntos aprendemos a viver melhor, eles com a sabedoria do campo e eu fazendo o que poço.”

A partir de janeiro de 2009, Irmã Geraldinha se dedicou também à organização de 11 famílias de posseiros da fazenda Monte Cristo. E, é claro, iniciou a defendê-los lutando ao lado deles pelos seus sagrados e justos direitos. Por isso irmã Geraldinha está sendo ameaçada de morte (e de ressurreição).

Foto de Irmã Geraldinha. Autoria: Rosa Barboza.

E-mail para contato com Irmã Geraldinha é cjpdominicanas{at}gmail.com

Frei Gilvander Moreira: Mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Via Campesina, colaborador e articulista do EcoDebate; e-mail: gilvander{at}igrejadocarmo.com.br

EcoDebate, 16/11/2009

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