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Inca estima que 2009 terminará com 50 mil novos casos de câncer de mama no Brasil

Inca estima que 2009 terminará com 50 mil novos casos de câncer de mama no Brasil
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no seu tamanho original clique aqui.

Tempo de dor e de luta – Especialistas advertem que incidência tem aumentado entre mulheres de 30 a 40 anos

Tempo de luta. É assim que a dona de casa Joana Xavier da Silva, 69 anos, define sua história nos últimos sete meses. O diagnóstico do câncer de mama, confirmado em março deste ano, tirou o chão dos pés dessa nordestina que mora em Brasília há 12 anos. “Foi como se eu tivesse recebido uma sentença de morte. Me abati muito, mas pensei nos meus filhos, no sofrimento deles em me ver doente. Jamais imaginei que um câncer desse tipo pudesse me atingir. Nunca houve casos desse mal em minha família. Eu nem sequer notei o caroço em minha mama. Não sentia dor ou qualquer outro sintoma”, revela. Um ato de carinho da filha caçula de Joana levantou a suspeita, confirmada nos dias seguintes. “Ela sempre apalpou meus seios para examiná-los e, quando notou o nódulo, levou um susto e me fez procurar um médico no dia seguinte. Fiz a mamografia e a biópsia. O resultado foi positivo, mas eu decidi lutar pela vida”, conta. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.

Joana é um dos 50 mil novos casos de câncer de mama estimados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) para 2009 — 2 mil a mais do que em 2007. Sem contar que, em localidades extremas e desasistidas do país, muitas mulheres nem sequer chegam a receber o diagnóstico. Especialistas observam, mesmo com problemas para confirmação das estatísticas, que a incidência tem aumentado principalmente entre as jovens, com idade entre 30 e 40 anos.

O oncologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e do Centro de Câncer de Brasília (Cettro) João Nunes confirma que a mortalidade ainda está em ascendência. “Não temos um fator que podemos identificar e responsabilizar de modo inquestionável, mas o hábito de vida moderno priva a mulher de atividades físicas. Elas estão mais sedentárias, se alimentam mal e o excesso de peso é um grande fator de risco. Infelizmente, nos consultórios e ambulatórios temos atendido mulheres bem novas, o que era raro há até pouco tempo”, explica.

Sinal atrasado
A doença é silenciosa. O principal sintoma é um nódulo palpável. “No entanto, gostaríamos que todo diagnóstico fosse feito antes que o tumor pudesse ser percebido. Quando o nódulo tumoral é evidente, tem mais ou menos 1cm de diâmetro e quase 1 bilhão de células cancerígenas. O melhor, então, é tentar fazer o rastreamento para que o problema seja descoberto o quanto antes possível. A mulher deve estar ciente da importância da mamografia”, afirma. “Não é possível prevenir o câncer de mama, mas ele é passível de detecção precoce. Mulheres com mais de 50 anos devem fazer a mamografia todos os anos. Antes disso, indicamos um exame aos 40 anos. Se o resultado for normal, deve ser repetido a cada dois anos. O diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura”, acrescenta.

Outras manifestações, além do nódulo, podem ser notadas em algumas pacientes. “Quando ocorre saída de secreção sanguinolenta ou límpida pelos mamilos é preciso investigar. Alterações da pele que recobre a mama também são sinais indiretos da presença desse câncer”, revela o médico. As opções de tratamento são definidas após a análise do tumor. A cirurgia de retirada parcial ou total da mama é indicada em praticamente 100% dos casos.

O câncer de mama também acomete os homens. É nas mulheres, porém, que ele provoca grande sofrimento emocional e psicológico. Eliane Moscoso, chefe do serviço de psicologia do Hospital do Câncer III, unidade do Inca dedicada ao câncer de mama, explica que, para a mulher, os seios são muito representativos. “É o símbolo da maternidade, da sexualidade, da feminilidade. Eles são a expressão mais forte da identidade feminina. Como os tratamentos são altamente invasivos e mutiladores, as mulheres perdem a autoestima, ficam sensíveis, inseguras. Muitas não se reconhecem ao olhar no espelho, algumas não têm coragem de se olhar. Por isso, o apoio psicológico é fundamental para o tratamento. Ajudamos as pacientes a lidarem com os medos, as expectativas, as frustrações e as angústias relacionados à doença”, diz..

Companheiros
A psicóloga pondera que as reações das pacientes diante do câncer dependem da história de vida de cada uma. “Trabalho há 25 anos no Inca e tenho notado que os companheiros e filhos das pacientes estão cada dia mais participativos, e isso é extremamente importante para o enfrentamento da doença. Aprender a encarar o problema e o sofrimento decorrente dele traz equilíbrio e isso é benéfico ao tratamento. O câncer ainda é muito associado à morte. Embora os recursos da medicina sejam mais favoráveis atualmente, o primeiro pensamento após o diagnóstico é: estou com os dias contados”, acrescenta Eliane.

Foi exatamente isso que imaginou a dona de casa Dirce Macedo dos Santos, 37 anos. Em 2005, ela se deparou com um nódulo saliente na mama esquerda. A suspeita foi confirmada após uma série de exames. “Fiquei em choque e imaginei que fosse o fim da linha mesmo. Com o tempo, fui entendendo que poderia lutar. Precisei passar por uma mastectomia total, mas, na mesma cirurgia, minha mama foi reconstruída. Hoje, as mulheres contam com essa alternativa, que é essencial para não nos sentirmos mutiladas. A reconstrução ficou perfeita. Somos vaidosas. Como me senti bem fisicamente, tive mais calma para enfrentar os desafios da quimio e da radioterapia. Meu marido e minha família deram apoio incondicional e isso foi fundamental para mim. Meu filho tinha apenas 4 anos. Olhava para ele e tinha certeza que queria vê-lo crescer. Eu superei o câncer de mama”, relata.

EcoDebate, 28/10/2009

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