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Expansão do Deserto do Saara poderá ser contido por um Projeto de Arquitetura, análise de Carol Salsa

As areias de desertos e dunas estão em constante movimento. Foto SPL/BBC
As areias de desertos e dunas estão em constante movimento. Foto SPL/BBC

[EcoDebate] O arquiteto sueco Magnus Larsson apresentou em Oxford, Grã-Bretanha, um projeto para a construção de uma barreira de seis mil quilômetros através do deserto do Saara, norte da África, para tentar conter a desertificação de terras vizinhas.

Dunas solidificadas de areia formariam uma barreira que se estenderia da Mauritância, no oeste da África, até o Djibuti, no leste.

“ Minha resposta ( ao problema da desertificação) é um muro de arenito, feito de areia solidificada”, afirma Larsson, que se descreve como um arquiteto de dunas.

Países no norte da África já apresentaram um plano de plantar árvores para formar o que chamaram de Grande Cinturão Verde para evitar que a areia do deserto se expanda.

O plantio de árvores é um complemento à proposta do arquiteto e não uma substituição do projeto.

“Forneceria o suporte físico para as árvores”, disse o arquiteto à BBC. E, o mais importante, segundo Larsson, poderia ser mantida no local mesmo se as árvores fossem cortadas.

“As pessoas destes países são tão pobres que elas cortam as árvores para fazer lenha”, acrescentou.

“Congelamento” de dunas

Em 2007 um relatório da ONU – Organização das Nações Unidas afirmou que a desertificação é o grande desafio dos tempos atuais. O fenômeno ameaça potencialmente um terço da população da Terra, cerca de dois bilhões de pessoas.

A ONU teme que a expansão dos desertos obrigue populações inteiras a se retirarem de cidades, os refugiados ambientais. Segundo Larsson o problema da desertificação atinge cerca de cento e quarenta países.

Em Oxford, Larsson mostrou o exemplo de um vilarejo chamado Gidan-Kara, na Nigéria, que teve que ser removido por conta do avanço das dunas. Ele afirmou que este é apenas um dos muitos exemplos encontrados na região

A muralha seria construída com o “congelamento” das dunas de areia do deserto que se movem com o vento transformando-a em arenito. Os grãos de areia seriam unidos com o uso de uma bactéria chamada Bacillus pasteuril encontrada em terras úmidas.

“É um micro-organismo que produz, por processo químico, a calcita, um tipo de cimento natural”, afirmou o arquiteto.

Larsson teve a idéia de usar a bactéria a partir da pesquisa de uma equipe da Universidade Davis da Califórnia, que investigava o uso da Bacillus pasteuril para solidificar o solo em áreas com propensão a terremotos.

De acordo com o plano do arquiteto as bactérias seriam injetadas nas dunas em larga escala, ou seria usada uma espécie de represa, com balões gigantes cheios de bactéria.

“Permitiríamos que as dunas fossem para cima da estrutura e então estouraríamos os balões”, disse.

Vantagens

O plano também proporcionaria vantagens para populações locais, afirmou o arquiteto. Por exemplo, a muralha poderia fornecer sombra, abrigo ou uma estrutura para coletar água. No entanto, Larsson admitiu que o problema apresente uma série de problemas.

“Existem muitos detalhes que ainda precisam ser considerados nesta história: políticos, práticos, éticos e financeiros. Meu projeto está repleto de desafios”, afirmou.

“No entanto, é um começo, é uma visão: gostaria que, pelo menos, este projeto iniciasse uma discussão”, acrescentou.

Vou arriscar uma discussão.

Inicio aqui uma discussão mesmo sem ter conhecimento de que o projeto “deslanchou” em relação a vários aspectos supracitados. Destaco as limitações técnicas como um dos maiores desafios à execução do projeto.

Um deles é que temos que coletar amostras de areia em pontos previamente selecionados através de prospecção no solo in situ e submete-las a ensaios de laboratório. Obteríamos então a granulometria e as características físico-químicas deste material para emprego (?) como material de construção. O procedimento diz respeito à Tecnologia de Materiais de Construção.

Sem ensaios no material composto pela areia, cimento além da adição da bactéria (traço do material) e ensaios num corpo de prova formado pelos três componentes, teríamos um caso inusitado na engenharia civil. Sem o conhecimento de dados da fundação onde se apoiará o muro, como poderemos dimensionar a seção transversal ( comprimento, largura, altura contando com a profundidade enterrada da barreira) capaz de assegurar a estabilidade da estrutura?

Concordo que faltam detalhes preciosos para a execução do projeto, embora faça votos para que a idéia siga em frente.

Fonte: “Arquiteto projeta muro para conter expansão do deserto do Saara“, BBC News , atualizado em 27 de julho de 2009

Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM.

EcoDebate, 17/10/2009

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