Sementes da árvore moringa podem ajudar a prevenir cólera no Zimbábue
Pó pode eliminar 90% das bactérias nocivas das pequenas represas rurais, tornando a água potável
Diante da crescente ameaça de uma nova epidemia de cólera no Zimbábue, pesquisadores locais usam o pó obtido das sementes da árvore moringa para conseguir água potável e prevenir a doença.
Especialistas da Universidade de Ciências e Tecnologia de Bulawayo, no sul do Zimbábue, disseram à Agência Efe que o pó das sementes de moringa pode eliminar 90% das bactérias nocivas das pequenas represas rurais, possibilitando que essa água seja usada para consumo humano. Reportagem da Agência EFE.
Segundo a ONU, mais de seis milhões de zimbabuanos – metade da população do país – não têm acesso ou têm acesso limitado a fontes de água com certas garantias de saúde. As agências internacionais de assistência se preparam para outra possível epidemia de cólera.
Entre agosto de 2008 e julho deste ano, cerca de quatro mil pessoas morreram e mais de 100 mil foram afetadas pela epidemia de cólera que atingiu o Zimbábue, agravada pela situação do sistema de saúde local, praticamente inoperante após dez anos de crise no país.
Agora, os cientistas de Bulawayo, junto com pesquisadores de outras partes da África, testam as quantidades de pó de semente de moringa necessárias para conseguir água potável e com sabor aceitável.
“Vamos nos dedicar a testes realizados pelas comunidades para ver se as pessoas podem realmente usar este pó para seu benefício”, disse à Efe em Harare o pesquisador Karl Riber.
A moringa é largamente cultivada pelas comunidades rurais zimbabuanas, que comem suas folhas verdes cruas ou cozidas e usam o pó das folhas secas para estimular o sistema imunológico, mas o efeito do pó das sementes para deixar a água própria para consumo não foi suficientemente estudado.
Os pesquisadores descobriram que, se o pó de sementes de moringa fica na água por muito tempo, o nível de bactérias aumenta novamente. Por isso, a “principal preocupação é que as pessoas o utilizem adequadamente”, acrescentou Riber.
O processo atual é simples: as sementes são extraídas e moídas; depois, o pó é misturado com a água e um pano é usado como filtro antes de usá-la.
No entanto, Riber insistiu em que são necessárias “amostras de diferentes locais para haver a certeza de que funciona”. Por isso, as pesquisas continuam com o apoio do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido.
“Poderíamos comercializá-lo (o pó das sementes) muito em breve caso os testes de laboratório que estamos fazendo nos demonstrem que é completamente seguro”, declarou Ellen Mangore, pesquisadora da universidade de Bulawayo, que pesquisa o pó de sementes de moringa desde 2007.
Mas Mangore também insistiu na necessidade de mais testes para evitar efeitos colaterais ou nocivos. “Às vezes, podemos encontrar maus resultados”, destacou.
Após dez anos de crise econômica e política, o Zimbábue se encontra em uma situação sem precedentes, com a maior parte do sistema produtivo do país destruído, e há escassez de alimentos e de bens básicos. Os serviços públicos, como saúde e educação, estão jogados às traças.
As organizações internacionais de assistência instalaram em diversos pontos do país sistemas de filtragem de água para que centenas de milhares de pessoas tenham acesso a ela.
A facilidade de acesso à moringa para muitas comunidades pode ser uma solução para os que não conseguem chegar à água limpa.
“Achamos que é preciso dar uma oportunidade a este sistema, porque achamos que pode funcionar”, disse à EFE Riber, para quem as maiores beneficiadas seriam as comunidades rurais do Zimbábue, as mais vulneráveis do país.
* Reportagem da Agência EFE, no Estadao.com.br
EcoDebate, 08/10/2009
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