Lixo: Cidade dos EUA aproxima-se da meta de desperdício-zero
Boulder, Colorado, EUA. Foto de AFP/DAVID MCNEW
No Colorado, o “desperdício-zero” está prestes a se tornar realidade Se algum dia os Estados Unidos, epítome da sociedade de consumo, conseguirem tirar proveito de suas montanhas de lixo, será graças a ele. De olhar reluzente, sorriso jovial e barba cheia, Eric Lombardi, 54, é o pioneiro americano da reciclagem, o porta-estandarte dos militantes do “desperdício-zero”. Um desafio que ele retoma na cidade de Boulder (Colorado), refúgio da ecologia aos pés das Montanhas Rochosas. Reportagem de Grégoire Allix, enviado especial a Boulder (Colorado, EUA), no Le Monde.
Ali Eric Lombadi dirige a Eco-Cycle, maior organização de reciclagem sem fins lucrativos dos Estados Unidos: seus 60 funcionários triam 50 mil toneladas de dejetos por ano, ou seja, quase a metade do que os 300 mil habitantes do condado descartam. O resto é transportado por caminhão e enterrado em um depósito de lixo, a 40 quilômetros de lá.
Talvez não por muito tempo: a prefeitura e a administração do condado, comprometidos com uma iniciativa “desperdício-zero”, votaram em agosto pela ampliação do ultramoderno complexo de reciclagem administrado pela Eco-Cycle. São US$ 8 milhões (cerca de R$ 14 milhões) de investimento, além dos US$ 14 milhões (cerca de R$ 25 milhões) já desembolsados. Uma política financiada por um dos raros impostos locais do país sobre o lixo doméstico.
Eric Lombardi sabe se mostrar persuasivo. “Tenho um exército de 800 voluntários dispostos a ocupar a prefeitura, caso seja preciso”, ele se diverte. Ele tem argumentos, tanto ecológicos quanto econômicos. “Ganhamos dinheiro que reinvestimos. Há um mercado para todos os tipos de resíduos: papel, metal, entulho de construção, adubo… até os mais difíceis de reciclar, como o plástico e o poliestireno”, ele garante. Alguns vão para a China, e a maioria fica nos Estados Unidos.
Para ele, “os depósitos de lixo e os incineradores só são competitivos porque não pagam o preço justo pelos danos que infligem a nossa saúde, ao meio ambiente e aos recursos naturais. Ao enterrar e queimar o lixo, destruímos para sempre aquilo que deve ser considerado como riquezas a serem reintroduzidas na economia”.
Tudo começou em Boulder, em 1976. Como chefe da primeira associação de recicladores voluntários dos Estados Unidos, Eric Lombardi organizava na época a coleta de lixo diretamente entre pessoas físicas. “A triagem e a reciclagem eram novas demais para os políticos que não gostavam de correr riscos, e sua rentabilidade era incerta demais para o setor privado. A iniciativa só poderia vir da comunidade”, ele acredita.
Irresponsabilidade
Trinta anos depois, munido de uma técnica profissional, ele criou a primeira organização nacional militante pelo “desperdício-zero”: a Grassroots Recycling Network. “Disse a mim mesmo que a reciclagem era só o começo. Sabemos de onde vêm os resíduos: da irresponsabilidade dos industriais na concepção de seus produtos, desde o processo de fabricação até a embalagem”.
Mobilizando milhares de cidadãos e dezenas de universidades, a rede iniciou uma série de quedas-de-braço com os industriais amplamente coberta pela mídia, para forçá-los a tornar seus produtos reutilizáveis e utilizar materiais reciclados. Empresas como a Coca-Cola ou a Dell foram obrigadas a ceder. Outras, como o Wal-Mart, preferiram se converter antes de serem tomadas como alvos.
Cofundador da Zero Waste International Alliance, Eric Lombardi agora leva sua mensagem ao mundo inteiro. Com uma dupla argumentação: “A reciclagem integral é o melhor meio para uma cidade atingir os objetivos de Kyoto. Mas também é um bom negócio, que cria dez vezes mais empregos do que um depósito de lixo”. Sem esquecer o argumento arrasador: “Os primeiros que entrarem nesse mercado ficarão bilionários!”
Tradução: Lana Lim
Reportagem [Dans le Colorado, le “zéro déchet” est en passe de devenir une réalité] do Le Monde, no UOL Notícias.
EcoDebate, 28/09/2009
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