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Artigo

O Socialismo e a Ecologia, artigo Roberto Malvezzi (Gogó)

O Socialismo e a Ecologia
Imagem: Corbis

A questão ecológica trouxe novos desafios aos que têm convicções socialistas. Significa que o instrumental analítico histórico dos socialistas não é mais suficiente, embora continue essencial, para compreender a realidade.

[EcoDebate] O capitalismo não tem solução para a questão ecológica. O capitalismo verde é um jogo de aparências, de marketing, não uma solução para problemas reais. Basta ver que o “mercado de carbono”, assim como os “selos verdes”, servem para alimentar a propaganda de certas empresas, mas não para resolver o problema fundamental do planeta. Portanto, não está em discussão nesse texto o capitalismo esverdeado, mas as insuficiências dos instrumentais analíticos do socialismo para compreender a nova realidade em que se encontra a humanidade e o planeta no qual habitamos. Hoje precisamos incorporar em nossas análises os instrumentos analíticos que nos oferecem as ciências da Terra, particularmente a climatologia. Esse instrumental analítico ainda está para ser organicamente construído.

A dificuldade da esquerda, em geral, é que não consegue compreender e respeitar a “alteridade da Terra”. É difícil para quem pensa deter a chave de interpretação da história, admitir que a Terra é autônoma em relação ao ser humano, que tem suas próprias leis, enfim, que ela não depende do ser humano, mas o ser humano depende dela. É a quarta humilhação humana. As três primeiras nos foram ensinada por Lúcio Flório, um teólogo argentino.

A primeira humilhação é que nos julgávamos o centro do universo e descobrimos que a Terra é um planeta que gira me torno do sol, uma estrela de quinta categoria numa franja de uma galáxia. A segunda humilhação nos foi imposta por Darwin. O ser humano, biologicamente, não é mais que um descente dos macacos. A terceira humilhação nos foi imposta por Freud. Cada pessoa é um poço de desejos e interesses instintivos e inconfessos. A quarta humilhação humana eu acrescento por conta própria e nos foi imposta por Lovelock: a Terra é um ser vivo autônomo que não depende do ser humano, ao contrário, o ser humano depende dela para existir.

A esquerda está aberta para compreender e respeitar as leis da Terra? Ou vai continuar dependendo dos paradigmas produtivistas dos capitalistas?

Enfim, hoje não há como falar do socialismo do século XXI sem considerar teórica e praticamente a queda do muro de Berlim e os desafios que a crise ecológica nos coloca. Do contrário vamos continuar interpretando a realidade, propondo soluções estruturais, com as calças curtas de nossa infância.

Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 24/09/2009

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3 thoughts on “O Socialismo e a Ecologia, artigo Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Álvaro R Santos

    Gostei do artigo. Essa é uma ótima e necessária discussão para a Esquerda. Diga-se de passagem que as nações que experimentaram a tentativa de construção de sociedades socialistas, União Soviética e China à frente, cometeram verdadeiros e catastróficos estupros ao Meio Ambiente. Tanto pelas questões bem apontadas no artigo, mas também pela perda progressiva dos fundamentos e raízes humanistas do socialismo real, pois que juntamente com as agressões ao Meio Ambiente, por consequência de programas econômicos desenvolvimentistas a qualquer custo (os heróis eram medidos por suas contribuções ao progresso econômico, vieram juntas as agressões à liberdade e a tudo que dizia respeito à meta original de plena felicidade e realização do ser humano.
    Essas coisas todas fazem parte de um mesmo pacote de deformações ideológicas e progrmáticas, exigindo coragem da Esquerda para entendê-las, assumi-las e superá-las.

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