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Artigo

98% fóssil+2% bio = Biodiesel, por Ana Echevenguá

[EcoDebate] O assunto do momento (além do affair de Renan Calheiros e a pensão do seu filho bastardo) é: o Brasil vai produzir energia alternativa renovável para todo o planeta. O etanol e o Biodiesel estão se preparando para seu ingresso triunfal na União Européia, eliminando barreiras econômicas, socioambientais e logísticas.

Vocês sabiam que o Brasil ainda não exporta Biodiesel?? Mas logo, logo isso vai ocorrer… afirma o governo. Não é verdade!! Há uma série de barreiras externas; o principal entrave é o padrão europeu de Biodiesel (óleo transesterificado) que, na União Européia, é obtido a partir da Colza e da Canola. O Engenheiro Agrônomo Telmo Heinen ainda não sabe “como poderemos exportar para eles o nosso Biodiesel feito a partir de soja, etc… devido aos problemas com Iodo e Fósforo: “Os mais otimistas aguardam mudanças nos padrões europeus já estabelecidos e todos sabemos como eles demoram para alterar regras…”.

Mesmo assim, nosso presidente Lula compareceu ao encontro do G-8 levando na bagagem vários projetos e discursos sobre a boa nova chamada ‘Biodiesel’. Esperava que sua platéia fosse tão ignorante a respeito do assunto quanto seus administrados brasileiros. No entanto, as 07 maiores potências do mundo mais a Rússia, não deram ouvidos aos planos lulistas de energia alternativa.
Bom, vamos aos fatos!

O governo federal adotou o Biodiesel como uma de suas prioridades; deu a ele um pai – o professor Dr. Expedito Parente – e já está chamando o Biodiesel de “petróleo verde”. Vejam o que disse o “Pai do Biodiesel” em Terezina, Piauí, no Congresso Internacional de Agroenergia e Biocombustíveis: “Em 1977, quando identificamos a possibilidade do Biodiesel e propusemos um programa. Naquela época existia uma miopia, ninguém acreditava que aquilo fosse possível. Fui chamado de louco, alguns mais carinhosos me chamavam de poeta da tecnologia. Não tem nada pior do que enxergar algo sozinho” (http://www.portalaz.com.br/az/noticias.asp?secao=Cidades&noticia_id=70232).

Mas a indústria petrolífera entendeu que o Biodiesel era ótimo para o enriquecimento dos seus cofres e apostou no projeto; ela seria responsável por 98% de sua composição fóssil e poderia perpetuar o desnecessário monopólio. Tanto é verdade que colocaram a Petrobras pra tomar conta desse “milagre brasileiro”.

O termo ‘Biodiesel’ foi escolhido propositalmente para criar confusão e provocar mal-entendidos. Sabem por quê? Porque o Biodiesel é composto atualmente de 98% de diesel fóssil (derivado do petróleo) e 2% de um material oriundo do óleo vegetal transesterificado (operação na qual o óleo vegetal é transformado quimicamente em um componente parecido com o Diesel). Essa transesterificação é complicada, onerosa e desnecessária. Mas seu objetivo é óbvio: canalizar para a Petrobras e para o governo federal o monopólio da bioenergia. Nada mais!

É preciso que fique bem claro: na composição final do Biodiesel, 98% e mais um pouco é fóssil… pois dos 2% daquela mistura transesterificada, uns 15% é metanol… e metano é fóssil… (então nem esse percentual de 2% é biocombustível puro). E a adição de 2% do Biodiesel ao óleo diesel só vai ser obrigatória a partir de 2008, por força de lei.

Qualquer pessoa, ao tomar ciência da real composição química do Biodiesel, vai dizer que não acredita que essa mentira pegue ou que vire estratégia nacional para substituir o petróleo.

Mas a farsa não terá final tão cedo. O Brasil investiu, entre 2003 e 2005, R$ 16 bilhões em projetos sobre o Biodiesel; e vai investir o dobro nos próximos dois anos. Com isso, pretende gerar conhecimento científico e recursos humanos de qualidade sobre este produto.
(http://www.biodieselbr.com/noticias/biodiesel/brasil-abraca-biodiesel-plano-estrategico-analistas-05-06-07.htm)

Além disso, o Ministério de Minas e Energia apresentou, no início de 2007, ao presidente Lula, o “projeto-chave da sua nova política energética”, ou seja, o Programa Nacional de Biodiesel, que começou a ser escrito em 2003, por um grupo composto de 09 ministérios e de outros órgãos do governo. Alegam que o objetivo primordial do Programa é reduzir a pressão e a necessidade de produção e de importação do diesel fóssil. Além disso, o projeto almeja conseguir a inclusão socioeconômica no campo, priorizando, a agricultura familiar como grande fornecedora de matéria-prima. Para os mentores do projeto, a adição do Biodiesel ao combustível fóssil, apesar de pequena, é vislumbrada como uma mina de ouro para quem está na jogada, já que o consumo vai ser incentivado por força de lei.

E a mídia – sustentada pelo nosso governo – que não quer que a gente saiba a diferença entre biocombustível e Biodiesel – anuncia verdadeiras aberrações. Esta é uma destas: “UE já optou pelo Biodiesel”. Ora, não é nada disso: a União Européia traçou um plano estratégico para reduzir 20% das suas emissões de gases de efeito estufa; e pretende que, daqui a 23 anos, um quarto de seu sistema de transporte funcione com “combustíveis não-fósseis”. Pergunto: Biodiesel pode ser considerado combustível não-fóssil???

Por favor, Administradores e Administrados do Brasil, vamos dar ouvidos às pessoas certas. É preciso, por exemplo, que as idéias de algumas pessoas como o físico e engenheiro José Walter Bautista Vidal, sejam passadas de boca-em-boca, em botequim, saída de cultos religiosos, festinha de aniversário, sala de espera do SUS… Este homem, com números, prova que o Brasil só não é uma grande potência energética porque não quer; que estamos cada vez mais nas mãos dos especuladores internacionais e que a era do petróleo está com os dias contados. E que o Brasil, “como grande continente tropical do planeta, terá, por isso, um poder inimaginável, desde que conte com dirigentes à altura desse papel histórico (…) porque o que determina os rumos da história é a política”.

– Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa televisivo Eco&Ação, email: ana@ecoeacao.com.br

in www.EcoDebate.com.br – 28/06/2007

Nota do EcoDebate
Ana Echevenguá é colaboradora e articulista do EcoDebate. O Eco&Ação – Ecologia e Responsabilidade [ http://www.ecoeacao.com.br/ ] e o EcoDebate são parceiros estratégicos, somando esforços na socialização da informação sócio-ambiental, compartilhando conteúdos e divulgando informações de suma importância para a defesa e preservação do meio ambiente.