Mudam os prefeitos, mas o lixão continua, artigo de Ana Echevenguá
Mudam os prefeitos, mas o lixão continua... Timbé do Sul é apenas um dos exemplos da impunidade reinante. Uma pesquisa Água e Vida, realizada pela UNICEF em 2008, apurou que nosso país possui lixões em 72,73 % das cidades com mais de 50 mil habitantes, e em 66,67 % das cidades com menos de 50 mil habitantes.
[EcoDebate] A localização privilegiada de Timbé do Sul – no pé da Serra Geral, quase na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul – viabiliza a exploração do turismo ecológico. Suas belezas naturais: praias de rios, trilhas, a represa do Rio Rocinha, cachoeiras, furnas… são ótima fonte de renda aos munícipes em geral. Com um dos melhores pontos para a prática de vôo livre – o Morro das Antenas – Timbé criou o Festival Nacional de Vôo Livre que atrai mais de 5.000 visitantes anualmente. Nessa época, a população (5.136 habitantes) do município duplica.
Um grupo de gaúchos que visitou a cidade para a prática desse esporte entrou em contato com o Eco&Ação, através do website. Elogiou muito os recursos naturais daquela região. Mas ficou indignado com um lixão a céu aberto, no meio da vegetação, próximo a um curso d’água.
Devido à precariedade das informações dos moradores e das placas, não souberam precisar se o rio era o Amola Faca – um dos principais rios da bacia hidrográfica do rio Araranguá – ou o rio dos Saltos (que é famoso por suas quedas d’água).
Fiz uma rápida pesquisa na web e apurei que:
– segundo informações do IBGE, desde 2004 o município exige taxa de limpeza urbana e de coleta de lixo*. Limpa a cidade, coleta o lixo e o joga num lixão?
– em janeiro de 2005, a fiscalização do Ministério Público Estadual e FATMA encontrou lixões a céu aberto em Bom Jardim da Serra, Calmon, Correia Pinto, Criciúma, Forquilhinha, Içara, Jacinto Machado, Lages, Meleiro, Monte Carlo, Nova Veneza, Rio do Sul, São Joaquim e também em Timbé do Sul**.
(Não sei se tramita alguma ação exigindo a responsabilização civil e penal, dos municípios e de seus respectivos prefeitos, relacionada a este crime ambiental).
– na época, a Prefeitura de Timbé do Sul informou que estava à espera de verba do FUNASA para a construção de um Centro de Triagem de Resíduos Sólidos e aquisição de um caminhão para coleta***.
– mas, em março de 2006, o prefeito de Timbé do Sul firmou contrato de prestação de serviços de disposição final de resíduos sólidos urbanos****. (Ou projeto nunca existiu ou não foi aprovado no FUNASA).
Claro que este contrato facilitou a continuidade da ‘porca-economia’ do prefeito. Papelada boa pra enganar a fiscalização!! Para ajudar os cofres públicos, continuou a lançar o lixo de Timbé do Sul no bom e velho lixão, que está ativo há mais de 09 anos. Segundo a dona Sueli, a chefe dos catadores que exploram o lixão, eles recebem 6 caminhões de lixo por semana (2 na segunda-feira e 1 de terça a sexta); catam o que é vendável e negociam este produto com uma empresa de Criciúma. “A Prefeitura manda uma máquina cobrir o lixo restante com terra, talvez pra esconder o cheiro e as moscas”.
Se a média per capita de produção de resíduos sólidos é de 0,69 kg/habitantes/dia, estima-se que são geradas, em Timbé do Sul, 3.500 toneladas/dia. Boa parte deste lixo está coberto por vegetação, degradando solo e água.
Mudam os prefeitos, mas o lixão continua. Timbé do Sul é apenas um dos exemplos da impunidade reinante. Uma pesquisa Água e Vida, realizada pela UNICEF em 2008, apurou que nosso país possui lixões em 72,73 % das cidades com mais de 50 mil habitantes, e em 66,67 % das cidades com menos de 50 mil habitantes.
No Brasil contamos com administrações municipais (despreparadas e/ou corruptas) que consideram o “lixão” uma forma barata de descarte dos resíduos do município. Não se preocupam em destruir os recursos naturais do entorno deste lixão; em causar danos à saúde dos munícipes; nem em provocar óbices ao turismo ecológico…
Embora tenhamos um bom arcabouço jurídico, somente alguns administradores públicos são réus em processos que envolvem crimes ambientais.
Quando o gestor municipal vai entender que suas ações é que efetivam o direito constitucional de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado?
Quando os munícipes vão exigir do gestor municipal os meios adequados de defesa, proteção, conservação e fiscalização de atividades nocivas ao meio ambiente?
Lixões, além de poluentes, são focos de doença, como a leptospirose, dengue, diarréias, febre tifóide, cólera, … e de transmissores dessas doenças… trata-se de um câncer que precisa ser extirpado das nossas cidades, com a punição civil e criminal das pessoas físicas e jurídicas envolvidas nestas ilegalidades.
* – http://www.ibge.gov.br/munic2004/
** – http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_impressao.asp?campo=3213&conteudo=fixo_detalhe_noticia
*** – http://www.adjorisc.com.br/jornais/voltagrande/noticias/index.phtml?id_conteudo=42351
**** -http://www.santecresiduos.com.br/not_destaq.php?vIDNoticia=69.
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Água, e-mail: ana{at}ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.
EcoDebate, 02/09/2009
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È muito facil apontar os erros,e acredito que a imprensa esta certa, mas será que todos os municipios gostariam de lixão como destino final de seu lixo? Enquanto acharmos que o lixo é barato e só jogar na natureza que ele some não será criada politica publica. A destinação de Lixo urbano é um serviço ambiental, de uma cadeia de consumo linear e quem para a conta por este serviço é quem consome iresponsavelmente.Existem outros agentes como o produtor por exemplo que deveria pagar o serviço ambiental prestado pela prefeitura,