Crescem os grupos de ultradireita, racistas e xenófobos nos Estados Unidos
A chegada do primeiro presidente afro-americano, Barack Obama, à Casa Branca e a integração da primeira juíza de origem hispânica, Sonia Sotomayor, à Corte Suprema de Justiça, são dois grandes marcos na luta contra o racismo nos Estados Unidos. Todavia, todos os analistas privados, assim como funcionários do Governo Federal, concordam em afirmar que o racismo, a fobia contra os imigrantes e o extremismo de direita anti-abortista e anti-gay atualmente estão aumentando em todo o país. Como se explica esta contradição?
Segue a reportagem de Ana Baron publicada no jornal argentino Clarín, 18-08-2009. A tradução é do Cepat.
Um relatório elaborado pelo Departamento de Segurança Interior ao qual o Clarín teve acesso diz que o aumento do número de grupos supremacistas e racistas de ultradireita se deve “à eleição do primeiro presidente negro e à situação econômica”. Ou seja, a chegada de Obama à Casa Branca foi muito positiva, mas também teve um efeito negativo.
Um estudo do Southern Poverty Law, um centro de muito prestígio que monitora o movimento destes grupos, coincide com o Departamento de Segurança Interior ao afirmar que “o fato de que o Governo Federal – entidade que todos os movimentos radicais veem como seu principal inimigo – esteja encabeçado por um homem negro provocou um grande ressentimento entre os defensores da supremacia branca”, disse.
Intitulado “Extremismo de direita: o clima econômico e político atual está alimentando o ressurgimento da radicalização e do recrutamento”, o relatório do Departamento de Segurança Interior afirma textualmente que “os extremistas de direita estão utilizando a eleição do primeiro presidente afro-americano para recrutar novos membros, mobilizar os membros que já têm e ampliar o seu alcance através da propaganda”.
Durante o recrutamento de novos adeptos, argumentam que as novas políticas de Obama pró-imigração, a favor das minorias e da reforma do sistema de saúde e da restrição da venda de armas vão acabar com a supremacia dos brancos.
O relatório compara o clima econômico e político atual com aquele que imperava na década de 1990, quando a extrema direita experimentou um ressurgimento devido à recessão econômica e às críticas contra as empresas que naquele momento fecharam as suas portas nos Estados Unidos e se transferiram para outros países eliminando milhares e milhares de empregos. O relatório assinala como exemplo dessa época o atentado de Oklahoma, em 19 de abril de 1995. Nesse dia, Timothy McVeigh, membro das milícias, destruiu o edifício federal Alfred Murrah, provocando a morte de 168 pessoas e ferindo outras 658.
Algo semelhante poderia acontecer novamente?
O ódio e a violência vistos durante os debates realizados na semana passada sobre a reforma do sistema de saúde provocou grande preocupação no FBI. “Morte a Obama, à sua esposa Michelle e às suas duas filhas estúpidas”, dizia o cartaz carregado por um dos manifestantes. Além disso, uma suástica apareceu pintada na entrada do escritório de um deputado que defende o plano de saúde proposto por Obama. Mas o alarma cresce porque o número de incidentes racistas e extremistas aumentou nos últimos meses.
Recentemente, um supremacista de 88 anos, James von Brunn, entrou no Museu do Holocausto em Washington e atirou a sangue frio contra um segurança afro-americano, que morreu na hora.
Jim Adkisson, que queria eliminar Obama e os democratas no Congresso, assassinou duas pessoas em uma igreja de Tennessee porque comungavam junto com gays e lésbicas.
Em 16 de junho, houve três incidentes que dão conta da gravidade da situação, mesmo que nenhum jornal nacional lhes tenha dado atenção. Em Mount Vernon, Ohio, um jovem de origem hispânica foi arrastado por um estacionamento com uma corda no pescoço, enquanto um grupo de adolescentes gritava todo tipo de insultos racistas. Em Willamette, Oregon, dois homens foram condenados a cinco anos de prisão depois de terem se declarado culpados por queimarem uma cruz com as letras KKK (Ku Klux Klan) no jardim da casa de um afro-americano. Além disso, um grupo de jovens pintou uma série de suásticas na garagem da casa de uma mulher que escreveu uma nota jornalística sobre “Pais, famílias e amigos de lésbicas e homossexuais”, organização que – como indica seu nome – agrupa familiares homossexuais.
Mesmo que os incidentes ainda sejam isolados, o que mais preocupa é o vertiginoso crescimento do número de grupos racistas e neonazistas que agem pelos quatro cantos do país. O relatório elaborado pelo Southern Poverty Law Center indica que o número de grupos racistas aumentou cerca de 50% desde 2000. “Este crescimento se deveu não apenas ao temor que existe em relação aos imigrantes não brancos, mas também, pelo que parece, à chegada de um afro-americano à Casa Branca”, confirmou o editor do relatório Mark Potok. Acrescentou que a crise econômica, que alguns atribuem à entrada irrestrita de imigrantes ilegais e às minorias raciais, pode piorar ainda mais a situação.
O impacto que a presidência do primeiro afro-americano e a crise econômica está tendo sobre os grupos supremacistas brancos pode ser observada na internet. No dia em que Obama venceu as eleições, stormfront.org, cujo fundador é Don Black, de 56 anos, ex-membro da KKK, ganhou 2.800 novos usuários. Segundo Black, só nesse dia recebeu 50.000 visitas.
Muitos destes grupos estão totalmente convencidos de que a perda de empregos e o problema das hipotecas, que deixaram milhares de pessoas sem teto, se devem a “uma conspiração da elite financeira judaica” e à invasão dos imigrantes indocumentados que – segundo eles – devem ser imediatamente deportados.
Em 14 de julho passado, dois jovens brancos, Brandon Piekarsky e Derrick Donchak mataram a pauladas um imigrante mexicano, Luis Ramírez, de 25 anos, pai de dois filhos, simplesmente porque era mexicano.
(Ecodebate, 20/08/2009) publicado pelo IHU On-line, 19/08/2009 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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