Plantio de cana avança no Norte do país
Eduardo Geraque
Governo de Roraima afirma que cultivo é realizado em área de campos naturais e não ameaça a floresta amazônica. Secretário diz que dez empresas já estão instaladas na região; executivo espera rendimento superior ao obtido em São Paulo
[Folha de S.Paulo] A cana-de-açúcar chegou ao extremo norte do país. Empresas interessadas em produzir álcool tanto para o mercado local quanto para o exterior -a Venezuela é logo ali- já plantam suas mudas nas savanas do Estado de Roraima.
“Não está sendo plantado nada sobre a floresta amazônica, é bom que se diga. As áreas ocupadas são campos naturais, em um raio de 50 km de Boa Vista”, explica Alvaro Callegari, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado.
Ele confirma que dez empresas já estão instaladas na região. E todas foram bem recepcionadas pelo governo. “Alguns já plantam soja no Centro-Oeste e agora resolveram investir aqui”, diz o político.
Apesar de os pesquisadores amazônicos considerarem os campos de Roraima áreas importantes para a preservação da biodiversidade, Callegari usa um exemplo secular para explicar o uso dessas regiões.
“As savanas de Roraima são usadas pela pecuária há mais de um século, assim como ocorreu nos pampas gaúchos com os jesuítas”, explica o secretário, que é curitibano e está há mais de 20 anos em Boa Vista.
“A qualidade de vida aqui é excepcional. O clima é ideal para a cana-de-açúcar, temos muita luz, por exemplo. Parece que estamos na praia.”
As impressões climáticas relatadas por Callegari condizem totalmente com a realidade, segundo Milton Steagall, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Biocapital, empresa paulista recém-instalada na região de Boa Vista. “A iniciativa partiu da empresa, mas fomos muito bem recebidos pelo governo”, afirma Steagall. Um dos incentivos fiscais já concedidos é o desconto no ICMS.
As expectativas de produtividade são muito boas, segundo o executivo. Sem citar números, ele diz que o rendimento da cana-de-açúcar nas savanas amazônicas -a empresa já obteve todas as licenças ambientais, segundo ele- deve ser superior ao obtido em São Paulo.
“A questão da produtividade é o fator determinante para a escolha de Roraima. Nas usinas de álcool, 70% do custo é a matéria-prima. Se a produtividade não for boa, o investimento pode ser colocado em risco.”
Por enquanto, a Biocapital está na fase de multiplicar as mudas de cana plantadas em seus viveiros. A variedade levada para a Amazônia não foi desenvolvida especialmente para a região, mas a expectativa dos empresários é que os tipos escolhidos se adaptem totalmente ao solo amazônico.
Moagem em 2009
Pelo cronograma da empresa, o início da moagem deve ocorrer em 2009. Inicialmente, o projeto deve suprir o consumo apenas da região. “O objetivo é chegar a 2014 com uma capacidade de moagem de 6 milhões de toneladas, o que deverá render uma produção de 530 mil litros de álcool”, explica o diretor da Biocapital, que preferiu não revelar o investimento feito pelo grupo.
As contas da empresa também projetam a geração de 5.600 empregos diretos e de 12 mil indiretos.
Como a usina será instalada em uma região de savana, a questão ambiental está resolvida, segundo Steagall. “O projeto não tem riscos ambientais.”
De acordo com ele, a empresa está muito consciente da sua responsabilidade nas questões ambientais. “A questão fundiária, por exemplo, não atinge a Biocapital, pois parte das terras será da nossa propriedade, e uma outra parte, de terceiros, com os quais teremos contratos de arrendamento.”
Se o discurso empresarial é mais comedido, o governamental é repleto de esperanças.
“Temos como plantar cana-de-açúcar em até 65% do nosso cerrado. São quase 4 milhões de hectares. A Venezuela será um grande mercado para nós, porque ela terá que tirar o chumbo da gasolina e, provavelmente, terá que o usar o álcool para ter um combustível mais limpo”, lembra o secretário Callegari.
(www.ecodebate.com.br) matéria da Folha de S.Paulo – domingo, 02 de setembro de 2007