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Artigo

Biodiversidade: o declínio continua, artigo de Gilles Van Kote

Entende-se que a perda de biodiversidade não gera grande mobilização, por ela ser progressiva e ainda não ameaçar os empregos. O periquito verde da ilha Maurício prepara-se para viver seus quinze minutos de celebridade.

[Le Monde] Com efeito, o Psittacula eques, seu apelido científico, é a única das 41.415 espécies animais e vegetais (da população de cerca de 1,75 milhão de espécies conhecidas) recenseadas pela União Mundial para a Natureza (UICN) – que divulgou na quarta-feira, 12 de setembro, a edição 2007 da sua lista vermelha – a conhecer uma melhora da sua situação.

Assim, esta ave passa da categoria “Em situação de perigo crítico de extinção” para aquela intitulada “Em situação de perigo”.

Em meados dos anos 1980, apenas uma dezena desta espécie havia sido recenseada em toda esta ilha do oceano Índico.

Medidas de proteção das zonas de nidificação, ameaçadas pelos desmatamentos e por espécies introduzidas pelo homem (macacos e ratos pretos), foram tomadas.

Cento e trinta e nove periquitos nascidos e criados em cativeiro foram soltos na região entre 1997 e 2005. Segundo notícias recentes, hoje haveria mais de 320 periquitos verdes na ilha.

Contudo, programas como este, mesmo se eles mostraram a sua eficiência e encontram uma repercussão positiva junto ao grande público, de modo algum poderiam constituir uma resposta satisfatória para deter a perda acelerada da sua biodiversidade que a Terra conhece atualmente.

“A tendência é concentrar o debate em torno do número de espécies, ao passo que seria preciso refletir em termos de espaços”, constata Robert Barbault, que dirige o Depto. de Ecologia e de Gestão da Biodiversidade no Museu de História Natural, de Paris.

“O que importa é salvaguardar a diversidade dos meios, diferentemente de mostrar uma espécie de encarniçamento terapêutico visando a conservar todas as espécies”.

Mesmo se ela se “limita” a listar as espécies e a classificá-las em oito categorias relativas ao grau de ameaça de extinção, a lista vermelha da UICN, que é atualizada anualmente, continua sendo o mais completo dos indicadores da biodiversidade.

Na sua edição 2007, a organização recenseia 16.306 espécies ameaçadas em graus diversos e 65 espécies extintas no seu estado selvagem.

Neste ano, uma única espécie vem se juntar a outras 784 que a UICN considera como totalmente extintas: a Begonia eiromischa, uma planta da Malásia cujo derradeiro exemplar foi visto em… 1898.

“Um mamífero em cada quatro, um pássaro em cada oito, um terço de todos os anfíbios e 70% de todas as plantas avaliadas estão ameaçadas”, constata a UICN. Dentre as mudanças que foram registradas em 2007, foi constatado principalmente o declínio continuado dos grandes macacos; a deterioração da situação das diferentes espécies de abutres; o aparecimento dos corais, dos quais duas espécies das ilhas Galápagos são consideradas “em situação de perigo crítico de extinção”; além da manutenção do golfinho do Yangzi, ou baiji, na categoria das espécies mais ameaçadas: este cetáceo de água doce parece ter desaparecido do rio chinês, mas a UICN estima que seria preciso efetuar novos estudos para considerá-lo extinto.

“A lista vermelha da UICN demonstra que os esforços inestimáveis que foram empenhados até hoje para proteger as espécies são insuficientes”, comenta Julia Marton-Lefèvre, a diretora geral deste organismo que reúne 83 países, mais de 800 organizações não-governamentais e uma rede de especialistas de 181 países.

“O ritmo da erosão da biodiversidade está se acelerando, e nós precisamos agir sem maiores delongas”.

O objetivo que havia sido definido, em 2002, por ocasião da Cúpula da Terra em Johannesburgo (África do Sul), os Estados signatários da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) parece comprometido. Tratava-se de conseguir “garantir, daqui até 2010, uma forte redução do ritmo atual de perda” de biodiversidade.

Contudo, o processo de conscientização parece estar ganhando efeito. “Nós sentimos por todo lugar uma efervescência”, assegura Robert Barbault.

Ele lembra que atualmente, os espaços protegidos representam 12% a 13% do território terrestre.

“Mas não basta apenas implantar um parque ou uma reserva; é preciso também empenhar meios e gerir o espaço de modo adequado”, explica Jean-Christophe Vié, o chefe adjunto do programa da UICN para as espécies.

Será preciso optar por outras formas de atuação? “A solução, nós a conhecemos”, assegura Robert Barbault.

“Trata-se de manter grandes espaços naturais diversificados”.

Para o biólogo francês, a necessidade de preservar essa diversidade vai se tornar imprescindível, mesmo que isso se dê em conseqüência de episódios de crise, porque a perda de biodiversidade acabará pesando economicamente sobre as sociedades humanas.

“As metas que estão em jogo no campo da biodiversidade são comparáveis àquelas da mudança climática”, estima Jean-Christophe Vié.

“Mas a perda de biodiversidade ainda não está suscitando a mesma mobilização, por ela ser progressiva e não ameaçar ainda os empregos”.

Os especialistas da biodiversidade têm um encontro agendado de 15 a 17 de novembro em Montpellier, no quadro do Mecanismo Internacional de Expertise Científica sobre a Biodiversidade (Imoseb).

Essa é congregação de especialistas fundada por iniciativa da França, em 2005, que se inspira no modelo do Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (GIEC).

Eles esperam encontrar, um dia, a mesma repercussão que este último. (Tradução: Jean-Yves de Neufville)

(www.ecodebate.com.br) matéria do Le Monde, publicada pelo UOL Notícias, Mídia Global – 13/09/2007 – 00h29