Rio São Francisco: Água e terra contaminadas
JUSCELINO SOUZA | SUCURSAL VITÓRIA DA CONQUISTA
souza@grupoatarde.com.br
Os moradores ribeirinhos continuam se banhando e consumindo água do Rio
São Francisco, apesar da suspeita de contaminação do manancial por produto
químico.
[Jornal A Tarde] Ontem, uma equipe do Centro de Recursos Ambientais da Bahia (CRA)
sobrevoou a área de seis municípios banhados pelo rio em um helicóptero
cedido pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
(Codevasf).
Foram feitas coletas de amostras em Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Sítio
do Mato, Serra do Ramalho, Paratinga e Malhada, nos pontos onde foram
notificadas alterações na água, seja pelo odor ou pelo gosto. Não há
registro de mortandade de peixes.
A análise das amostras começa hoje no Instituto de Química da Universidade
Federal da Bahia (Ufba), e o resultado deve ser apresentado quarta-feira,
10. O CRA informou que os exames serão concluídos a partir de amanhã, e o
laudo deve sair em três dias.
Além do exame para detectar a existência ou não de metais pesados e
contaminantes químicos, será pesquisada ainda a provável existência de
microorganismos, agentes bacteriológicos e o nível de oxigênio dissolvido
na água.
O pescador Antônio João de Souza, 53 anos, um dos que dependem do produto
para consumo em casa, diz que não tem o hábito de tratar a água e que, por
isso, toda a família já arcou com as conseqüências. “Eu, minha mulher e
uma sobrinha passamos mal”, contou. Às margens do Rio São Francisco, em
Bom Jesus da Lapa (a 900 km de Salvador), Souza mostra os sinais da
provável contaminação.
Ao colher água, as mãos do pescador também trazem uma substância
esverdeada, parecida com as algas. “É isso aqui que tá provocando o mau
cheiro na água, como se fosse uma carniça”, acredita. “A gente coloca a
água no pote e mais tarde o fedor toma conta da casa. O jeito é usar até
Deus abençoar e melhorar, porque não tenho condições de comprar água
mineral”, completa. A poucos metros dali, dezenas de pessoas, entre
crianças e adultos, se divertem nas águas do Velho Chico, ignorando os
riscos.
O São Francisco banha 23 municípios baianos, que concentram uma população
de 822 mil habitantes.
Muitos mergulham na água escura, em companhia de cães, e outros retiram o
líquido em baldes para consumo próprio. “Eu não sinto nada, mas sei de
gente que teve diarréia e tontura”, testemunha o comerciante Edílson
Ribas, 38.
Ele conta que, se o problema persistir, as pessoas que dependem do rio
serão prejudicadas. “Além do prejuízo na saúde, essa contaminação vai
acabar afastando os clientes”. O pescador Jonas Pires, 50 anos, também
teme o pior para os próximos dias. “Essa água está contaminada porque o
cheiro forte não me deixa mentir”, diz, alertando para um provável surto
de diarréia. Segundo Alessandre Custódio, analista ambiental do Instituto
Estadual de Florestas, a população ribeirinha e os pescadores devem evitar
ingerir a água. “Caso tenha que utilizar, é recomendável ferver ou
tratar”, recomenda.
* A análise das amostras de água começa hoje no Instituto de Química da
Ufba, e o resultado deve ser apresentado quarta-feira, 10. O CRA informou
que os exames serão concluídos a partir de amanhã.
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Técnico confirma a presença de algas no rio
No último fim de semana, uma equipe de técnicos do Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (Igam) confirmou a presença de cianobactérias (o mesmo
que algas), após exames em amostras coletadas, no São Francisco.
Mesmo assim, a diretora-geral do Igam, Cleide Pedrosa de Melo, descartou a
interrupção no abastecimento das cidades r ibeir inhas.
Disse ainda que os técnicos vão monitorar a qualidade da água, com o
recolhimento de novas amostras para exames em laboratório. Cleide informou
que o objetivo agora é saber qual é o nível de contaminação e quais
medidas deverão ser adotadas para evitar problemas.
A exemplo da Bahia, foram registrados casos de diarréia, mal-estar e dor
de cabeça, mas, até o momento, não há registro de casos de intoxicação. A
Prefeitura de Bom Jesus da Lapa divulgou nota explicando que a situação
não é tão grave como se alardeia, apesar de a Secretaria Municipal de
Saúde ter recebido informações sobre duas pessoas que teriam se queixado
de mal-estar nas localidades de Juá e Bandeira, esta última às margens do
rio.
O prefeito do município, Roberto Maia (PSDB), recomenda cautela no
tratamento das informações para evitar alarde e pânico na população e
garante que não houve alterações na rede pública de saúde por conta do
consumo da água. “Se houvesse um grande número de casos diarréia, o
atendimento no hospital municipal teria aumentado, o que não aconteceu”.
Outras informações dão conta de que a suposta contaminação é provocada por
medicamentos que tombaram de um caminhão em Minas Gerais ou de substância
química usada pela Marinha do Brasil para evitar vazamento de óleo.
Enquanto não se descobre a verdadeira causa da alteração das águas do São
Francisco, pessoas como o pescador José Francisco dos Santos, 44, continua
ingerindo a água imediatamente após a captação, sem qualquer tipo de
cuidado. “A gente ficou sabendo que foi um caminhão com produto químico
que caiu de uma balsa lá em Minas Gerais, mas como não tem certeza, vai
bebendo assim mesmo”. ( J.S.)
(www.ecodebate.com.br) matérias do Jornal A Tarde, BA
enviadas por João Suassuna, colaborador e articulista do EcoDebate