Carros elétricos abastecidos por bioeletricidade são mais eficientes do que os abastecidos com etanol
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] No Brasil podemos até defender o etanol de cana-de-açúcar como o melhor combustível possível, mas, nos EUA, cujo etanol é majoritariamente produzido a partir do milho, a resposta pode não ser tão simples assim. Os agrocombustíveis são, de fato, uma alternativa aos combustíveis de origem fóssil, mas o crescimento da área plantada, para a sua crescente produção compete com as culturas alimentares e com as áreas florestais.
Diante dos impactos e riscos permanece a questão de como tornar mais eficiente a relação de consumo (quilômetros por hectare) a partir da biomassa. A questão foi discutida em um estudo [Greater Transportation Energy and GHG Offsets from Bioelectricity Than Ethanol] publicado na edição online da revista Science.
Os pesquisadores, analisando a utilização do etanol (a partir de milho ou a partir de switchgrass), concluíram que é melhor converter a biomassa em eletricidade, em vez de etanol. Eles calculam que, comparado ao etanol utilizado para motores de combustão interna, utilizando a bioeletricidade para abastecer as baterias dos automóveis elétricos, haveria um ganho médio de eficiência de 80% (no estudo o cálculo foi realizado em termos de milhas de transporte por acre de culturas), mas também proporcionaria o dobro de compensação em termos de gases com efeito estufa.
Se acordo com os autores um pequeno SUV elétrico e abastecido a partir de bioeletricidade, poderia viajar quase 14.000 milhas em estrada, a partir da energia produzida a partir de um acre de switchgrass, enquanto um veículo de combustão interna comparável só poderia viajar cerca de 9.000 milhas na mesma rodovia.
A chave do cálculo está na área necessária para produzir a energia consumida (bioeletricidade ou etanol). A bioeletricidade, portanto, permitiu que o veículo percorresse uma distância maior com a mesma área plantada.
A bioeletricidade também ofereceu mais possibilidades de redução da emissão de gases com efeito estufa, tais como a captura e sequestro de carbono, que poderiam ser aplicados em centrais térmicas a biomassa, mas não individualmente veículos de combustão interna.
Crescem as pesquisas que avaliam as possibilidades se substituição dos combustíveis derivados de petróleo, mas, de fato, a questão continua em aberto porque ainda não existe o que possa efetivamente substituir estes combustíveis fósseis.
Outra questão em aberto está na própria indústria automotiva que precisaria ser completamente remodelada. Em termos conceituais a indústria baseada nos motores de combustão interna é ‘velha’, desenvolvida ao longo do século 20 a partir da premissa de combustíveis fartos e baratos.
Os agrocombustíveis seguem o mesmo conceito e, logo, ainda são uma tentativa de sobrevida desta indústria.
Até 2050, quando estaremos diante do cenário mais real do aquecimento global e das mudanças climáticas, será necessário rever todos os nossos conceitos relacionados ao transporte de massa e individual, bem como de quais serão os combustíveis utilizados, com o menor impacto ambiental e social, ao menor custo possível.
Para acessar o gráfico demonstrativo da pesquisa e seus resultados clique aqui.
O artigo “Greater Transportation Energy and GHG Offsets from Bioelectricity Than Ethanol” apenas está disponível para acesso dos assinantes da revista Science.
Greater Transportation Energy and GHG Offsets from Bioelectricity Than Ethanol
Originally published in Science Express on 7 May 2009
Science 22 May 2009:
Vol. 324. no. 5930, pp. 1055 – 1057
DOI: 10.1126/science.1168885
[EcoDebate, 02/07/2009]
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