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Efeitos especiais e ambientais, artigo de Margrit Schmidt

[Jornal de Brasília] Tudo indica que o midiático Carlos Minc – caracterizado assim por si próprio – novo ministro do Meio Ambiente vai ter muitos motivos para insônia. O ímpeto desenvolvimentista-propagandista, por enquanto mais propagandista, do governo Lula esbarra na conservação da Amazônia. Um levantamento da ONG Conservação Internacional apontou que 322 áreas de grande importância para a biodiversidade estão sob risco em função dos planos de construção de estradas, hidrelétricas, portos ou gasodutos. Cinco estradas estão previstas para cortar o caminho nestas regiões sensíveis, diz o documento.

As obras também influenciam diretamente terras indígenas e unidades de conservação já criadas. Em todas elas há risco de aumento de desmate. Técnicos e especialistas produzem relatórios demonstrando os riscos. O Jornal Folha de São Paulo divulgou neste sábado trechos de um relatório ainda inédito produzido por um grupo de consultores contratados pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento fez críticas à forma como as obras de infra-estrutura vem sendo planejadas.

Sabe-se há muito que grandes obras de infra-estrutura na Amazônia especialmente estradas e hidrelétricas são estimuladoras do desmatamento. O governo que propagandeia seu compromisso com políticas preservacionistas do meio ambiente, ficou nisso, apenas propaganda.

Para os consultores contratados para avaliar o programa “a efetividade do planejamento racional de infra-estrutura na Amazônia, sobretudo as estradas e as hidrelétricas, ainda não está assegurada”. Não há um novo paradigma que sustente a necessidade de desenvolver e realizar obras para integração entre regiões e geração de energia e ao mesmo tempo manter a floresta em pé. Desse jeito vai ser sempre, em cada decisão, “a escolha de Sofia”, para lembrar o filme onde a atriz Meryl Strip teve que fazer a cruel escolha entre seus filhos, qual ela salvaria da morte na câmara de gás nazista.

A julgar pelos cortes feitos por Lula e pela Casa Civil no Plano Amazônia Sustentável (PAS), no entanto, a balança pende para o lado das obras – e não da floresta. Uma das principais unidades de conservação cuja criação foi proposta ao plano por Marina Silva, a Reserva Extrativista do Médio Xingu, no Pará, foi vetada porque poderia atrapalhar a criação de barragens adicionais da usina hidrelétrica de Belo Monte. As comunidades indígenas da região impediram a construção da usina 20 anos atrás, quando se chamava Cararaó. A ministra Dilma Rousseff vê Belo Monte como vital para evitar que o Brasil sofra um apagão energético na próxima década. Os índios se reunirão nesta segunda-feira para discutir os possíveis impactos sobre suas terras.

Não é uma questão fácil. Crescer e promover o desenvolvimento econômico e tecnológico é um imperativo para os países e para o bem estar de suas populações. Por outro lado essa arrancada não pode se dar, como diz a agora senadora Marina Silva, matando a galinha dos ovos de ouro – a biodiversidade – sintetizada para o mundo na preservação da floresta tropical.
Outro relatório produzido em conjunto pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) e do Fundo Mundial da Natureza (WWF) mostra que mais de um quarto da fauna do planeta desapareceu desde 1970 exclusivamente por causa da ação humana. Os estudos geraram um índice – ILP – Índice Planeta Vivo na sigla em inglês, que mostra o quanto houve de perda na população de animais, em média 27% em 35 anos. O índice mostra também que as maiores perdas ocorreram na América Latina, África e Sudeste Asiático onde o processo de industrialização foi acelerado neste período.

O estudo alerta ainda que nos próximos trinta anos, a mudança climática, provocada pelo homem, será uma das principais ameaças para a biodiversidade. Definitivamente não poderemos, cada um de nós, seja no plano das escolhas individuais, seja nas escolhas coletivas e políticas fingir que o meio ambiente não está na pauta de discussões. Os partidos, os candidatos terão que se posicionar. As empresas terão que mostrar que são ambientalmente responsáveis. A biodiversidade tem um impacto direto nas nossas vidas e é assustador porque ao mesmo tempo que ficamos sabendo mais e mais desse fato, continuamos perdendo a batalha.

* Artigo originalmente publicado no Jornal de Brasília, na coluna Descomplicando a Política .

[EcoDebate, 10/06/2009]

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