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Savanização da Amazônia é risco iminente, por Nelson Batista Tembra

[EcoDebate] O discurso do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, no recente lançamento do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC reafirmou conclusões anteriores da ciência: a Amazônia está sufocada. Ele esteve no Pará, no início de novembro de 2007, para conhecer a floresta, onde encerrou um giro pela América do Sul sob críticas de ambientalistas e representantes comunitários, por ter se limitado a encontros protocolares sem efetivamente observar a depredação do bioma nem visitar trabalhos extrativistas sustentáveis.

As áreas susceptíveis à desertificação, enquadradas no escopo de aplicação da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, são aquelas de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco. Segundo o Atlas Mundial da Desertificação, publicado pelo PNUMA, e que serve como parâmetro mundial, no Brasil as áreas susceptíveis estão localizadas apenas na região Nordeste e no Norte de Minas Gerais. Há pouco mais de dois anos atrás, nunca imaginei que veríamos no vizinho Estado do Amazonas, um dos mais preservados da Amazônia Brasileira, o cenário das famílias da localidade Manaquiri, a 65 quilômetros de Manaus, tomando carona em um caminhão, lembrando os retirantes nordestinos.

A desertificação é um dos principais problemas ambientais do mundo. O principal sintoma é a degradação dos solos, e suas causas são essencialmente duas, as alterações do clima e a atividade humana. Como fenômeno, é antiga, pois segundo estudos, algumas regiões atualmente áridas já abrigaram uma rica vegetação no passado. Infelizmente, à medida que aumentam os fatores que causam a aridez, os desertos continuam avançando. A natureza se vinga!

Aproximadamente um bilhão de pessoas em uma centena de países está ameaçado pela desertificação no início do século XXI. Segundo as Nações Unidas, o planeta corre o risco de ver até 41% da superfície terrestre transformada em desertos.

Na América Latina o problema é grave e afeta a superfície da maioria dos países. As práticas agrícolas inadequadas, o desmatamento, a pressão social, a ignorância, a omissão e a guerra são consideradas fatores que causam a desertificação, agravada pelas evidências do efeito estufa, que também é atribuído às atividades humanas, além das causas naturais.

As conseqüências do avanço dos desertos são graves. A fome, as migrações e as fortes perdas econômicas. Inúmeros organismos internacionais criaram divisões especiais para agir diante deste problema e tudo começa pela informação e esclarecimento ao cidadão sobre este perigo. Isto se verifica, principalmente, no setor agrícola, com o comprometimento da produção de alimentos. Além do enorme prejuízo causado pela quebra de safras e diminuição da produção, existe o custo quase incalculável de recuperação da capacidade produtiva de extensas áreas agrícolas e da extinção de espécies nativas, algumas com alto valor econômico e outras que podem vir a ser aproveitadas na agropecuária, inclusive no melhoramento genético, ou nas indústrias farmacêutica e química.

Os problemas sociais estão intimamente relacionados aos custos econômicos. Segundo estimativas das Nações Unidas, uma dieta nutricionalmente adequada para a crescente população mundial, implica a triplicação da produção de alimentos ao longo dos próximos 50 anos, meta difícil de alcançar, mesmo sob condições favoráveis. Dentro desta perspectiva pode-se esperar um agravamento significativo no quadro de desnutrição, falência econômica, baixo nível educacional e concentração de renda e poder que já existem em muitas áreas propensas à desertificação nos países pobres e em desenvolvimento. Sob essas condições vivem milhões de pessoas com pouca ou nenhuma chance de se enquadrar em uma economia cada vez mais globalizada.

A falta de perspectivas leva a população a migrar para os centros urbanos, procurando condições mais favoráveis de sobrevivência. Estes migrantes tendem a agravar os problemas de infra-estrutura, transporte, saneamento e abastecimento, já existentes nos centros urbanos. Verifica-se o aumento nos níveis de desemprego e na violência urbana. A desertificação agrava o desequilíbrio regional e nas regiões mais pobres do planeta existe grande lacuna a ser preenchida quanto ao desenvolvimento econômico e social entre as áreas susceptíveis ou em processo de desertificação e as áreas mais desenvolvidas.

Nelson Batista Tembra, Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional, é colaborador e articulista do EcoDebate