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Será que o óleo de palma ‘verde’ não é tão verde assim?

Os esforços para melhorar as credenciais “verdes” do óleo de palma, de reputação manchada por certa ligação com o desflorestamento, podem torná-lo caro demais para os consumidores e trazer benefícios ambientais apenas limitados.

O primeiro óleo de palma certificado pelo Fórum de Óleo de Palma Sustentável (RSPO, na sigla em inglês) foi descarregado em Roterdã (Holanda) em novembro, mas alguns ambientalistas afirmaram que o sistema não faz o suficiente para acabar com questões como o desflorestamento e a abertura de clareiras. A indústria sustenta que esse ceticismo dos grupos de defesa do meio ambiente deixará as empresas com poucos incentivos para adotar o óleo mais caro e melhorar sua imagem ética. Matéria de Catherine Hornby, da Agência Reuters.

“O óleo de palma não possui uma boa imagem e ela não deverá melhorar com esse esforço pela sustentabilidade”, observa Ernesto Zamudio, gerente de negociação da AarhusKarlshamn (AAK), fabricante de óleo e gordura.

A certificação pode aumentar o preço em cerca de US$ 50 por tonelada de óleo de palma no atacado. A produção da commodity é concentrada na Indonésia e na Malásia, onde provocou a rápida eliminação de milhões de hectares de floresta tropical. É usado como óleo de cozinha e em margarinas, biscoitos, batatinhas fritas, batons, sabões e biocombustíveis, entre outros fins.

Produtores e compradores do óleo criaram o RSPO em 2004 para desenvolver um sistema de certificação ética, com compromissos de preservação da floresta e da vida selvagem e para lidar com as comunidades locais de uma forma responsável. Atualmente, existe uma capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de óleo de palma certificada como sustentável, mas a disponibilidade mensal é de apenas 100 mil toneladas, de acordo com o presidente do RSPO, Jan Kees Vis.

Ele estima que menos de 100 mil toneladas de óleo certificado foram negociadas até agora. Em novembro, os líderes do setor previam que até 750 mil toneladas poderiam ser vendidas até o fim do ano passado. “A adesão é lenta, o que está ligado à crise econômica do momento”, afirma Vis. “As companhias não estão realmente dispostas a pagar um preço maior; qualquer coisa que aumente o custo está fora de questão”.

No geral, cerca de 35 milhões de toneladas de óleo de palma são exportadas a cada ano, conforme a Oil World, publicação alemã especializada em oleaginosas. A previsão é de manutenção da demanda mesmo com recessão, já que o produto costuma ser mais barato que seus concorrentes – custa cerca de US$ 700 por tonelada, enquanto o óleo de soja, por exemplo, chega US$ 800.

“Em função do mau momento, as pessoas tornam-se mais dependentes do óleo de palma, já que é negociado com relativo desconto. Na verdade a recessão é algo bom para o óleo de palma”, afirma o analista Dougie Youngson, da Ambrian.

Zamudio, da AAK, diz que a demanda por óleo de palma foi 10% menor do que a esperada no primeiro trimestre, mas não recuou tanto quanto nos óleos mais caros, como o azeite de oliva. Destaca, contudo, que sua empresa não conseguiu vender até agora a maioria das mil toneladas de óleo de palma certificado como sustentável que comprou.

Vis, que também é diretor de agricultura sustentável da Unilever, afirma que o RSPO tenta estimular o comércio pedindo aos membros para demonstrar publicamente seu compromisso em aderir ao óleo de palma sustentável. Poucos o fizeram.

A Unilever comprometeu-se a usar em 2015 apenas o óleo de palma com origem integralmente identificável. Empresas como a varejista britânica J Sainsbury e a rede de supermercados holandesa Ahold assumiram compromissos similares. Mas muitas empresas evitam discutir publicamente seus planos, já que a questão ainda é polêmica e alguns grupos de conservação argumentam que as regras voluntárias para os 266 membros do RSPO são ineficientes na proteção do ambiente.

“O fato de uma empresa ser certificada pelo RSPO em uma plantação não a impede de continuar com práticas inaceitáveis em outros lugares”, diz Andy Tait, da ONG Greenpeace. “É preciso garantir que não se abram mais florestas para produção”, afirma ele.

Matéria de Catherine Hornby, da Agência Reuters, no Valor Online

* Enviada pelo Fórum Carajás

[EcoDebate, 19/05/2009]

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