Estudo revela efeitos da mineração no fundo do mar
Pesquisa revela impactos ambientais de longo prazo da mineração em águas profundas em ecossistemas frágeis
Em um cenário de crescente demanda global por metais críticos, como níquel, cobalto e cobre, a mineração em águas profundas surge como uma alternativa potencial para suprir a necessidade desses recursos.
No entanto, um estudo recente, publicado na revista Nature Communications, alerta para os impactos ambientais de longo prazo dessa atividade, especialmente em ecossistemas frágeis e pouco compreendidos, como as planícies abissais.
Localizadas a profundidades entre 3.000 e 6.000 metros, as planícies abissais abrigam nódulos polimetálicos, formados ao longo de milhões de anos a partir de metais dissolvidos na água do mar ou liberados durante a degradação microbiana de matéria orgânica nos sedimentos. Esses nódulos, espalhados por milhões de quilômetros quadrados, são comparados a batatas em um campo.
Apesar de seu potencial econômico, a exploração desses recursos traz consigo riscos significativos para a biodiversidade e os ecossistemas marinhos.
Desde 2015, o projeto MiningImpact, coordenado pelo Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica GEOMAR, na Alemanha, tem investigado os impactos ambientais da mineração em águas profundas. Análises de áreas perturbadas há décadas na Zona Clarion-Clipperton e na Bacia do Peru indicam que a mineração causa danos de longo prazo, afetando a biodiversidade e funções essenciais dos ecossistemas por séculos.
Um dos principais riscos, ainda pouco compreendido, é a dispersão de plumas de sedimentos suspensos geradas durante as operações de mineração. Para entender melhor esse processo, cientistas monitoraram o teste de um coletor de nódulos operado remotamente, desenvolvido pela empresa belga Global Sea Mineral Resources, contratada pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA).
O estudo e suas descobertas
Em 19 de abril de 2021, o coletor de nódulos foi implantado a 4.500 metros de profundidade por 41 horas, percorrendo aproximadamente 20 quilômetros e cobrindo uma área de 34.000 metros quadrados (equivalente a cinco campos de futebol).
A pluma de sedimentos gerada pelo veículo foi medida com sensores calibrados instalados em plataformas fixas no fundo do mar, além de veículos submarinos operados remotamente e autônomos.
Os resultados mostraram que uma corrente densa de partículas suspensas se formou atrás do coletor, deslocando-se por até 500 metros em áreas mais íngremes do leito marinho. A dispersão da pluma foi impulsionada por correntes naturais próximas ao fundo.
Próximo ao local da mineração, as concentrações de sedimentos chegaram a ser 10.000 vezes maiores do que em condições naturais, retornando aos níveis normais após 14 horas. A maioria das partículas permaneceu a até 5 metros acima do fundo do mar, reassentando-se rapidamente devido à floculação.
Além disso, uma pluma de baixa concentração de partículas finas de sedimentos se estendeu por 4,5 quilômetros além da área monitorada. Utilizando mapeamento 3D de alta resolução, os pesquisadores estimaram que, nas áreas mineradas, os nódulos foram removidos junto com pelo menos os 5 centímetros superiores do leito marinho.
A camada de sedimentos redepositados atingiu até 3 centímetros de espessura, cobrindo completamente o habitat dos nódulos em um raio de 100 metros.
Implicações para a regulamentação e o futuro da mineração em águas profundas
O estudo fornece dados cruciais para o desenvolvimento de regulamentações internacionais pela ISA, incluindo tecnologias e estratégias de monitoramento para futuras operações de mineração em águas profundas.
Os pesquisadores do MiningImpact continuam analisando os impactos ambientais, e os resultados deste estudo ajudam a vincular tipos de impactos físicos a efeitos ecológicos específicos.
A mineração em águas profundas representa um dilema entre a necessidade de recursos metálicos e a preservação de ecossistemas marinhos sensíveis. Enquanto a demanda por metais críticos continua a crescer, a comunidade internacional enfrenta o desafio de equilibrar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental.
Estudos como este são essenciais para informar decisões políticas e garantir que a exploração dos oceanos seja feita de forma sustentável e responsável.
Síntese
A exploração de nódulos polimetálicos em águas profundas pode ser uma solução para a escassez de metais críticos, mas os impactos ambientais de longo prazo não podem ser ignorados.
A pesquisa do MiningImpact destaca a necessidade de regulamentações robustas e tecnologias avançadas para minimizar os danos aos ecossistemas marinhos.
Enquanto a humanidade avança em direção a um futuro mais tecnológico, a proteção dos oceanos deve permanecer uma prioridade global.
As plumas de sedimentos que seriam geradas pela crescente mineração de águas profundas representam um risco importante, mas mal compreendido, para os ecossistemas de águas profundas. O novo estudo fornece os primeiros dados detalhados sobre a pegada espacial de campo distante da dispersão de plumas induzidas pela mineração e a reposição além da própria área de mineração. Foto: BGR
Referências:
Gazis, IZ., de Stigter, H., Mohrmann, J. et al. Monitoring benthic plumes, sediment redeposition and seafloor imprints caused by deep-sea polymetallic nodule mining. Nat Commun 16, 1229 (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-56311-0
Projeto MiningImpact, GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel.
https://www.geomar.de/en/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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