Fevereiro de 2025 marca um novo recorde no degelo marinho global
O Ártico está esquentando quatro vezes mais rápido do que a média global e a Antártida três vezes mais rápido.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O mês de fevereiro de 2025 registrou mais um triste recorde, com a menor extensão de gelo marinho global, conforme mostra o gráfico abaixo.
Menor quantidade de gelo marinho significa menos proteção para as plataformas de gelo da Groenlândia e da Antártica e menor efeito Albedo (medida de refletividade de uma superfície), que acelera o aquecimento global.
Infográfico: Zack Labe https://zacklabe.com/global-sea-ice-extent-conc/
Nas áreas geladas do Planeta se encontram, poeticamente, vastas paisagens de neve e gelo banhadas em luz suave, com baleias jubarte e focas-leopardo cortando mares azuis, além de ursos polares conduzindo seus filhotes pelo gelo marinho. É também onde se encontra as duas camadas de gelo restantes da Terra: a camada de gelo da Groenlândia, situada abaixo do Polo Norte e a camada de gelo da Antártida, envolta ao redor do Polo Sul.
Juntas, elas desempenham um papel crucial na regulação do clima: elas estabilizam os níveis do mar (armazenando 98% da água doce da Terra), moderam as temperaturas da superfície (refletindo mais de 80% da radiação solar de volta ao espaço) e recirculam água rica em nutrientes que sustenta a vida marinha (por meio das correntes oceânicas do Atlântico).
As camadas de gelo estão derretendo diante de nossos olhos e vão continuar derretendo por muito tempo ao longo dos próximos séculos. O Ártico está esquentando quatro vezes mais rápido do que a média global e a Antártida três vezes mais rápido.
Em julho passado, a Antártida atingiu 28ºC acima dos níveis esperados. Se as camadas de gelo derreterem completamente, elas elevariam o nível global do mar em impressionantes 65 metros.
Estima-se que para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de seis milhões de pessoas globalmente estão expostas a inundações costeiras — dezenas de metros, então, ameaçariam completamente a civilização humana.
Um dos conceitos reinantes na ciência do clima são os pontos de inflexão — limites críticos que se acredita existirem em todos os sistemas da Terra, incluindo a criosfera (regiões congeladas da Terra) onde as camadas de gelo se sustentam.
Diversos estudos indicam que estamos perdendo o controle do derretimento da plataforma de gelo da Antártida Ocidental, com consequências catastróficas.
O recorde de degelo marinho em fevereiro de 2025 veio confirmar as conclusões do artigo “Climate tipping points — too risky to bet against”, publicado na revista Nature (27/11/2019), que mostrou as crescentes evidências de que mudanças irreversíveis já estão ocorrendo nos sistemas ambientais da Terra gerando um “estado de emergência planetário”.
Os autores deixam claro que mais da metade dos pontos críticos do clima identificados estão agora em um ponto de não retorno.
Há evidências crescentes de que esses eventos são mais prováveis do que nunca e estão mais interconectados do que se pensava anteriormente, podendo levar a vetores de retroalimentação e a um ameaçador efeito dominó. Um dos pontos de inflexão é o degelo do Ártico, da Groenlândia e da Antártica.
A situação é crítica e requer uma resposta de emergência.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Recorde de degelo nos polos em julho de 2019, Ecodebate, 09/08/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/08/09/recorde-de-degelo-nos-polos-em-julho-de-2019-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O degelo do Ártico e as emissões do permafrost, Ecodebate, 22/01/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/01/22/o-degelo-do-artico-e-as-emissoes-do-permafrost-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O degelo da Groenlândia e a elevação do nível dos oceanos, 10/02/2025
https://www.ecodebate.com.br/2025/02/10/o-degelo-da-groenlandia-e-a-elevacao-do-nivel-dos-oceanos/
LENTON, Timothy M. Climate tipping points — too risky to bet against, Nature, 27/11/2019
https://www.nature.com/articles/d41586-019-03595-0
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]