Derretimento da Groenlândia: o ponto de não retorno e as implicações globais
Um estudo recente revelou que, atualmente, uma média de 30 milhões de toneladas de gelo é perdida a cada hora
A Groenlândia, com sua camada de gelo cobrindo mais de 1,7 milhão de quilômetros quadrados, é o maior reservatório de água doce do hemisfério norte. No entanto, esse gigante gelado está em declínio acelerado.
Desde a década de 1980, a Groenlândia perdeu mais de um trilhão de toneladas de gelo, com taxas de derretimento seis vezes maiores na última década.
Um estudo recente revelou que, atualmente, uma média de 30 milhões de toneladas de gelo é perdida a cada hora.
Esse fenômeno não só ameaça o ecossistema local, mas também tem implicações globais, como o aumento do nível do mar e mudanças na salinidade dos oceanos.
O Ponto de Não Retorno
Pesquisas publicadas na revista The Cryosphere identificaram um ponto crítico a partir do qual a perda de massa de gelo da Groenlândia pode se tornar irreversível, levando ao derretimento completo da camada de gelo.
Os cientistas utilizaram modelos climáticos para simular o impacto de diferentes cenários no equilíbrio da superfície de gelo.
Eles descobriram que, quando aproximadamente 230 gigatoneladas de gelo são perdidas em um único ano — o equivalente a 60% do equilíbrio de massa superficial em comparação com os níveis pré-industriais —, o sistema atinge um ponto de inflexão. Esse limiar pode desencadear um processo relativamente rápido (em termos geológicos, entre 8 mil e 40 mil anos) de perda total do gelo da Groenlândia.
Esse ponto crítico corresponde a um aumento da temperatura média global de 3,4°C. Em 2024, o planeta atingiu pela primeira vez 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando um dos limites estabelecidos pelo Acordo de Paris de 2015 para conter os efeitos das mudanças climáticas.
Mecanismos de Feedback e Impactos
O derretimento acelerado da camada de gelo ocorre quando a perda de gelo supera o reajuste isostático da paisagem — o lento levantamento do solo após o recuo do gelo. Esse desequilíbrio pode levar a uma perda de massa de gelo que varia de 50% até quase 100%.
Além disso, o fenômeno é agravado pelos chamados feedbacks de albedo: à medida que o gelo derrete, a superfície branca e refletiva diminui, expondo áreas mais escuras de terra e oceano que absorvem mais radiação solar. Isso aquece o ambiente, acelerando ainda mais o derretimento e criando um ciclo vicioso.
A Importância da Margem Ocidental
Um dos achados mais relevantes do estudo é o papel crucial da margem ocidental da Groenlândia. Enquanto essa região mantiver sua conexão costeira e topografia elevada, a perda de gelo nas áreas norte e sul pode ser minimizada.
No entanto, se essa conexão for perdida, a camada de gelo pode recuar para o leste, resultando em uma perda de mais de 80% de sua massa.
Curiosamente, durante o último período interglacial (entre 130 mil e 115 mil anos atrás), a topografia elevada e as calotas de gelo no oeste podem ter evitado a perda total da camada de gelo.
Isso sugere que essa região pode ser uma chave para a estabilização futura da Groenlândia, desde que seja mantida uma presença significativa de gelo nessa área.
Limitações e Advertências
Os pesquisadores reconhecem que seus modelos não incluem feedbacks entre o gelo e a atmosfera, como o possível aumento da cobertura de nuvens e da precipitação sobre o interior da camada de gelo, o que poderia levar a um espessamento localizado.
No entanto, eles argumentam que esse efeito não alteraria drasticamente suas conclusões, já que o reajuste isostático tem um impacto maior.
Um Alerta Global
O estudo reforça que as mudanças climáticas antropogênicas estão nos aproximando perigosamente de pontos de inflexão críticos, não apenas na Groenlândia, mas em todo o planeta.
A perda completa da camada de gelo da Groenlândia elevaria o nível do mar em até 7 metros, com consequências devastadoras para comunidades costeiras e ecossistemas marinhos.
Portanto, é imperativo intensificar os esforços para combater as mudanças climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e limitando o aumento da temperatura global.
A janela de oportunidade para evitar esses cenários catastróficos está se fechando rapidamente, e a ação humana será decisiva para o futuro do planeta.
Referência:
Michele Petrini et al, A topographically controlled tipping point for complete Greenland ice sheet melt, The Cryosphere (2025). DOI: 10.5194/tc-19-63-2025.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
Multipliquei as 30 milhões de toneladas por hora citadas no início do texto por 24 horas e depois por 365 dias e achei o valor de 262 giga toneladas. Então se o estudo das perdas de 30 milhões de toneladas estiver certo entramos no ponto de não retorno. Sobre a costa Oeste da Groenlândia eu abro o mapa interativo do MSN Clima todos os dias e hoje dia 13/02/2025 12h Nuuk capital da Groenlândia está fazendo 2°C em pleno inverno, está muito estranho, tenho observado altas temperaturas na costa da Groenlândia nas últimas duas semanas, não tenho dados catalogados pra mostrar mas o inverno lá está muito estranho.