A expectativa de vida ao nascer em Mônaco e na Suíça
Explore a alta expectativa de vida em Mônaco e Suíça, os desafios para ultrapassar limites biológicos e a importância de um envelhecimento saudável
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Principado de Mônaco é uma cidade-estado soberana, sendo um microestado situado ao sul da França, na costa do mar Mediterrâneo. A população de Mônaco era de 20 mil habitantes em 1950 e passou para 39 mil habitantes em 2024. Portanto, é um país muito pequeno e que possui uma renda per capita elevadíssima, um Índice de Desenvolvimento Humano muito alto (entre os 5 maiores do mundo) e a maior expectativa de vida ao nascer (Eo) do planeta.
O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU (revisão 2024), mostra que a expectativa de vida ao nascer (Eo) em Mônaco era de 68 anos em 1950, chegou a 74,9 anos em 1980 e deu um salto para 79,4 anos em 1990. A Eo chegou a 82,1 anos no ano 2000 e deve alcançar 88,3 anos em 2040. Mas enquanto a longevidade cresce a cada década, o ritmo de avanço é cada vez mais lento.
A expectativa de vida ao nascer (Eo) na Suíça era de 68,9 anos em 1950, subiu para 71,4 anos em 1960, chegou a 83,1 anos em 2020 e deve alcançar 86,1 anos em 2040. Mas a variação decenal que foi de 3,5% na década de 1950, caiu para 0,9% na década de 2010 (em função da pandemia da covid-19 que reduziu a Eo em 2020), consequentemente, subiu para 2,2% na década de 2020 e deve ficar me 1,4% na década de 2030.
Sem dúvida, a expectativa de vida ao nascer avançou muito nas últimas décadas e Mônaco e Suíça são dois exemplos de países com alta longevidade. Mas, inquestionavelmente, o ritmo de avanço tem se desacelerado com o tempo, desmistificando a ideia de que a Eo poderia crescer indefinidamente (por exemplo, superando os 150 anos) e a imortalidade poderia ser alcançada.
No dia 07 de outubro de 2024, a revista Nature publicou um artigo “Implausibility of radical life extension in humans in the twenty-first century” (Olshansky et al. 2024) mostrando que a tendência mundial de aumento da expectativa de vida desacelerou e que será quase impossível que a maioria das pessoas passe a viver até os cem anos. De fato, os avanços no aumento da longevidade sofreram uma desaceleração considerável dos anos 1990 até 2019. (Evidentemente a pandemia da covid-19 reduziu a expectativa de vida global em 2020 e 2021, mas já recuperou o nível pré-pandêmico em 2024).
De acordo com o artigo da Nature, os dados indicam que, ao menos nos países com a expectativa de vida mais elevada do mundo hoje, uma espécie de “teto” biológico foi alcançado. No caso da China e dos EUA, as projeções da ONU indicam que a expectativa de vida ao nascer deve ficar abaixo de 90 anos em 2100.
No mês de novembro foi publicado o artigo “Progress Stalled? The Uncertain Future of Mortality in High-Income Countries” (Dowd, 2024), publicado na prestigiosa revista Population and Development Review, também mostrando que o ritmo de avanço da expectativa de vida nos países mais ricos está caminhando para a estabilidade.
Os autores dizem: “Embora os limites biológicos para o aumento da expectativa de vida possam eventualmente dominar as tendências de longo prazo, fatores sociais criados pelo ser humano estão atualmente impedindo muitos países de atingir as melhores práticas de expectativa de vida já alcançáveis e serão essenciais para melhorias no curto prazo”.
De fato, os ganhos da expectativa de vida ao nascer nos últimos 200 anos foram excepcionais. Mas isto não quer dizer que a longevidade vai continuar crescendo indefinidamente. O número absoluto de pessoas centenárias deve continuar aumentando, porém, a proporção de pessoas com mais de 100 anos vai continuar baixa. E a busca por uma Eo sem limites pode gerar ansiedade nas pessoas e aumento da morbidade. Desta forma, o importante é viver bem e não buscar uma longevidade além da conta.
Mônaco e Suíça já alcançaram Eo acima de 80 anos no atual século. A Eo de Mônaco é a maior do mundo com 86,5 anos em 2024.
Manter uma baixa morbidade e um envelhecimento saudável é prioridade, pois o importante é viver bem e não buscar uma longevidade além da conta.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. ‘A imortalidade é matematicamente impossível’, Ecodebate, 05/02/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/02/05/imortalidade-e-matematicamente-impossivel-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Xiao Dong, Brandon Milholland & Jan Vijg. Evidence for a limit to human lifespan, Nature, 05 October 2016 https://www.nature.com/articles/nature19793
Editorial. The limits to human lifespan must be respected Nature volume 538, 05/10/2016
https://www.nature.com/articles/538006a
Olshansky et al. Implausibility of radical life extension in humans in the twenty-first century, Nature, 07/10/2024 https://www.nature.com/articles/s43587-024-00702-3
Jennifer Beam Dowd, Antonino Polizzi, Andrea M. Tilstra. Progress Stalled? The Uncertain Future of Mortality in High-Income Countries,
Population and Development Review, 04 November 2024
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/padr.12687
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]