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A população de 80 anos e mais de idade e os desafios do sistema de saúde

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O envelhecimento populacional traz desafios e oportunidades. Entre os desafios estão os problemas de saúde, que são multifatoriais e influenciados por aspectos biológicos, sociais e ambientais.

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Existe um tsunami prateado contornando a dinâmica demográfica brasileira. A pirâmide populacional do país sempre teve uma base larga e um topo estreito nos primeiros 500 anos da história. Mas haverá uma mudança radical na relação entre os extremos da estrutura etária.

O gráfico abaixo mostra que, no ano 2000, a população de crianças e adolescentes, de 0-14 anos de idade, representava 29,9% da população total, enquanto os idosos, de 80 anos e mais de idade, representavam somente 0,7% da população total. Em 2025, estes números passaram para 19,4% e 2,1%. No ano 2050 devem ser de 14,6% e 6,1%. Em 2075 haverá quase um empate com 12,9% de jovens e 11,4% de idosos. Mas, antes do final do século, haverá uma inversão, sendo que os idosos de 80 anos e mais de idade representarão 14,7% da população total e as crianças e adolescentes representarão 12,4% em 2100.

população brasileira de 0 14 anos e de 80 anos e mais

O envelhecimento populacional traz desafios e oportunidades. Entre os desafios estão os problemas de saúde, que são multifatoriais e influenciados por aspectos biológicos, sociais e ambientais. Conforme as pessoas envelhecem, o risco de desenvolver doenças crônicas e condições debilitantes aumenta, o que pode impactar diretamente a qualidade de vida e a autonomia das pessoas idosas, especialmente da 4ª idade.

Abaixo estão alguns dos principais problemas de saúde enfrentados pela população idosa:

1) Doenças crônicas

  • Hipertensão: A pressão alta é comum em idosos e pode levar a problemas cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC).

  • Diabetes: Muitos idosos desenvolvem diabetes tipo 2, que, se não controlada, pode resultar em complicações, como insuficiência renal, problemas de visão e neuropatias.

  • Doenças cardíacas: A insuficiência cardíaca, arritmias e a doença arterial coronariana são mais prevalentes com a idade.

  • Osteoporose: A perda de densidade óssea torna os ossos mais frágeis, aumentando o risco de fraturas.

2) Declínio cognitivo

  • Demência: A doença de Alzheimer e outras formas de demência são grandes preocupações para a saúde mental dos idosos, afetando a memória, o raciocínio e a capacidade de realizar atividades diárias.

  • Depressão: O isolamento social, perda de entes queridos e limitações físicas podem contribuir para depressão na velhice.

3) Problemas de mobilidade

  • Artrite: A inflamação das articulações, especialmente nos joelhos e quadris, pode prejudicar a mobilidade e causar dor crônica.

  • Quedas: Com o envelhecimento, há uma diminuição do equilíbrio e da força muscular, aumentando o risco de quedas, que são uma das principais causas de lesões graves em idosos.

4) Problemas sensoriais

  • Perda de visão: Condições como catarata, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade (DMRI) são frequentes e podem prejudicar a capacidade de realizar atividades diárias.

  • Perda auditiva: A presbiacusia, perda auditiva relacionada ao envelhecimento, afeta a comunicação e pode levar ao isolamento social.

5) Problemas de saúde mental

  • Ansiedade e solidão: A solidão é uma questão significativa entre os idosos, e pode estar associada à depressão, declínio cognitivo e até mesmo à mortalidade precoce.

  • Transtornos do sono: Problemas como insônia e apneia do sono são comuns e podem impactar o bem-estar geral.

6) Saúde bucal

  • Muitos idosos têm dificuldades para manter a saúde bucal, especialmente devido à perda de dentes, gengivite e uso de próteses inadequadas, o que pode afetar a alimentação e a nutrição.

7) Doenças infecciosas

  • Imunidade enfraquecida: Com a idade, o sistema imunológico se torna menos eficaz, aumentando o risco de infecções como pneumonia, gripe e infecções urinárias.

8) Cuidados de longo prazo e sobrecarga dos cuidadores

  • À medida que os problemas de saúde se acumulam, muitos idosos necessitam de cuidados de longo prazo, seja em instituições ou em casa, o que pode sobrecarregar familiares e cuidadores profissionais.

A promoção de um envelhecimento saudável envolve a prevenção e o controle dessas condições por meio de uma dieta balanceada, atividade física regular, acompanhamento médico e suporte psicológico. Também é importante adaptar o ambiente para evitar quedas e garantir a segurança e a independência dos idosos, garantindo a elevação da expectativa de vida ao nascer.

A diferença entre a expectativa de vida total (quantos anos em média uma pessoa vive) e a expectativa de vida saudável indica o período de vida que as pessoas passam enfrentando doenças crônicas e incapacidades. Em muitos países, embora a expectativa de vida total tenha aumentado, a expectativa de vida saudável não cresceu no mesmo ritmo, resultando em mais anos vividos com doenças. Por exemplo, uma pessoa pode ter uma expectativa de vida total de 80 anos, mas se a expectativa de vida saudável for de 65 anos, isso significa que os últimos 15 anos poderão ser marcados por doenças crônicas ou limitações físicas.

Para aumentar a expectativa de vida saudável é preciso garantir a compressão da morbidade. Isto quer dizer que, à medida que as pessoas vivem mais, o tempo que passam enfrentando doenças e incapacidades deve ser comprimido (reduzido) para os últimos anos de vida. Assim, o objetivo é prolongar a vida saudável e minimizar o período de doenças crônicas ou incapacidades, concentrando esses problemas na parte final da vida.

Os pilares da compressão das doenças são: a) a prevenção de doenças crônicas e incapacidades por meio de intervenções precoces, como uma alimentação saudável, prática de atividades físicas, controle do estresse e cessação do tabagismo, ajuda a retardar o início de condições debilitantes; b) avanços na medicina e nos cuidados de saúde têm permitido diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes, que podem postergar o início de doenças e melhorar a qualidade de vida e c) incentivar o envelhecimento ativo, com foco em manter os idosos mental e fisicamente envolvidos na sociedade, é crucial para a compressão das doenças.

Em algumas regiões do mundo, especialmente em países desenvolvidos, há sinais de que a compressão das doenças está acontecendo. No entanto, em muitos países, o aumento da expectativa de vida não tem sido acompanhado por uma compressão efetiva das doenças, resultando em uma maior carga de doenças crônicas na fase final da vida. Isso cria desafios para os sistemas de saúde e para os cuidadores, pois há mais pessoas vivendo mais tempo, mas com maiores necessidades de cuidados.

A compressão das doenças visa maximizar os anos vividos com saúde e minimizar o período de tempo em que uma pessoa sofre com doenças e incapacidades. Para atingir esse objetivo, é crucial que as políticas de saúde pública se concentrem na promoção da saúde ao longo da vida, com foco na prevenção e no tratamento precoce de condições crônicas.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/

ALVES, JED. As novidades e as surpresas do censo demográfico 2022, Ecodebate, 03/07/2023

https://www.ecodebate.com.br/2023/07/03/as-novidades-e-as-surpresas-do-censo-demografico-2022/

IBGE. Projeções da População, 22/08/2024 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?edicao=41053&t=resultados

Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 24/08/2024

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7233119347450290177/

Entrevista à Globonews sobre as novas projeções do IBGE, 31/08/2024

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7235626642553925632/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022

https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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