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Contribuição para a Transição para uma Economia de Baixo Carbono

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A metodologia para avaliação da pegada de carbono individual busca quantificar as emissões de gases de efeito estufa associadas às atividades diárias e cotidianas de um brasileiro

Artigo de José Miguel Carneiro Pacheco

Apesar do crescente aumento da conscientização ecológica nos últimos anos, o Brasil ainda não alcançou a aceleração necessária para cumprir seus objetivos de redução das emissões de gases de efeito estufa.

De quem é a culpa? Alguns apontam para os consumidores, argumentando que eles deveriam adotar comportamentos mais eco responsáveis, como a separação de resíduos. Outros culpam o Estado e as empresas, que têm dificuldade em apresentar resultados concretos. Na realidade, a batalha só pode ser ganha se for travada em todas as frentes. E para determinar quem pode atuar onde e como priorizar, é essencial ter em mente as escalas corretas.

Qual é o impacto das ações diárias que realizamos? Como uma mudança radical no comportamento individual afeta a pegada de carbono média de um brasileiro? Qual é o papel das empresas e dos governos nessa transição? Diante da necessidade de ação rápida e eficaz, a responsabilidade dos consumidores e a eco cidadania são frequentemente destacadas.

A pegada de carbono média dos brasileiros, que era de 6,91 toneladas de CO2e em 2021, deve diminuir cerca de 70% para atingir as 2 toneladas de CO2e por ano compatível com o Acordo de Paris. Em que medida a ação individual pode contribuir para este objetivo?

Elaboramos uma lista de cerca de uma dúzia de ações que podem ser realizadas pelos indivíduos, desde ações simples como instalar lâmpadas LED em residências e comércio ou até mudanças mais significativas de comportamento, como adotar uma dieta vegetariana. Analisamos o impacto conjunto dessas ações generalizadas na redução da pegada de carbono e concluímos que poderia alcançar mais de 80%.

Essa hipótese maximalista tem o mérito de evidenciar dois resultados importantes:

  • Em primeiro lugar, o impacto da ação individual é muito representativo – desde que não nos limitemos a ações simbólicas e marginais. Entre as ações individuais com maior impacto estão a mudança de combustíveis no transporte privado, como gasolina ou diesel para etanol, a priorização do uso de transportes públicos, bem como mudança de uma dieta à base de carne para uma dieta vegetariana representam a maior parte da redução da pegada de carbono.

  • É preciso destacar que este comportamento “heroico” generalizado pode contribuir fortemente para cumprir o objetivo do Acordo de Paris, que exige limitar a emissão máxima de até 1,20 bi tCO2e em 2030, bem como alcançar a emissão líquida zero em 2050.

  • Se todos os brasileiros reduzissem sua pegada de carbono em 70%, teríamos uma redução absoluta de 1,06 bi tCO2e, o que representa uma redução de 88% em relação à meta de 2030. Se apenas os economicamente ativos, 0,39 bi tCO2e, ou seja, 33%.

Os nossos cálculos mostram que o empenho das pessoas e dos agregados familiares em descarbonizar os seus estilos de vida é inevitável e importante para atingir os objetivos de redução e para que o Brasil seja neutro em termos de carbono até 2050.

No entanto, para vencer essa batalha, é necessário ir além das pessoas e dos agregados familiares e agir coletivamente. Além dos esforços individuais, é essencial uma mudança radical liderada pelo governo e apoiada pelo setor privado. O investimento em tecnologias de baixo carbono e a criação de incentivos fiscais e regulatórios são fundamentais para essa transição. Cada indivíduo é limitado pelo “sistema sociotécnico”, ou seja, o ambiente social e tecnológico de que depende.

Para reformar o sistema e descarbonizar os equipamentos e serviços de que todos dependemos, a questão do investimento é fundamental.

O investimento privado das famílias na renovação das suas casas (renovação térmica, mudança de caldeiras) e na compra de um veículo com baixo teor de carbono (elétrico, ou de muito baixo consumo, ou eventualmente a biogás) é uma alavanca importante da transição. Deve ser desencadeada e encorajada pelas autoridades públicas, que são responsáveis pela criação dos incentivos e apoios adequados.

Cabe ao Estado regulamentar, investir e liderar essa transição. Ele deve investir também na renovação de edifícios públicos e na descarbonização de serviços essenciais, além de estabelecer regras para orientar os investimentos em direção a indústrias de baixo carbono.

As empresas não poderão fazer nada na escala certa se não começarem por medir a sua dependência dos combustíveis fósseis com o mesmo nível de granularidade da contabilidade económica. Esta é uma condição prévia para limitar e reduzir drasticamente a sua pegada de carbono nas melhores condições possíveis. A mensuração precisa e consistente ajudará a estimular a reflexão sobre a transformação dos seus processos operacionais, o transporte de mercadorias, o fornecimento de energia, a concepção de produtos e a escolha de investimentos e localizações geográficas.

Convém recordar que, numa empresa, uma ação de grande envergadura só pode ter lugar se for decidida e dirigida pelo responsável máximo e integrada no próprio coração da estratégia.

Essa variedade de estratégias deve ser mobilizada em prol de uma transição radical, cujas diretrizes gerais podem ser delineadas sem a pretensão de serem exaustivas. Isso inclui o desenvolvimento de fontes de energia com baixo teor de carbono, levando em consideração sua contribuição para os objetivos nacionais e seu custo por tonelada de CO2 evitado. Também é fundamental eliminar a utilização de carvão e gás fóssil na produção de eletricidade, implementar um amplo plano de renovação de edifícios residenciais e comerciais, descarbonizar os modos de transporte de passageiros e mercadorias, adotar práticas agrícolas de baixo carbono e promover a descarbonização dos processos industriais. Além disso, é importante desenvolver sumidouros de carbono naturais e tecnológicos, entre outras medidas.

O problema é sistêmico; a construção de uma solução viável e credível exigirá uma forte ação coletiva, o que exigirá que todos tomem medidas proporcionais aos seus esforços individuais.

Para garantir a ampla participação, estamos orgulhosos de lançar o White Paper da Calculadora de Pegada de Carbono da Mowa Carbon Neutral, nesta semana que marca o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Direcionada para aqueles que buscam criar um impacto positivo e crescer de forma sustentável, a Calculadora Pegada de Carbono Zero é uma ferramenta que representa o resultado de anos de pesquisa ambiental e conhecimento profundo das metodologias de cálculo de pegada de carbono.

Desenvolvida pela equipe da Mowa Carbon, ela se baseia principalmente no padrão mais usado e reconhecido internacionalmente para contabilização e relato de emissões de gases de efeito estufa (GEE), o GHG Protocol.

Ao utilizar nossa calculadora, você descobrirá sua pegada de carbono anual com base em seu estilo de vida e padrões de consumo. Além disso, terá acesso exclusivo à nossa curadoria de projetos de compensações de carbono verificados por terceira parte acreditada no Sistema das Nações Unidas (ONU), que criam impacto positivo no Brasil e ao redor do mundo.

A metodologia para avaliação da pegada de carbono individual busca quantificar as emissões de gases de efeito estufa associadas às atividades diárias e cotidianas de um brasileiro. Guiada pelos princípios do GHG Protocol, a calculadora compreende áreas como consumo de energia domiciliar, transporte, dietas alimentares e outros comportamentos, proporcionando uma compreensão consistente das contribuições individuais para as mudanças climáticas.

Após responder às perguntas, você descobrirá sua pegada de carbono anual e será direcionado para opções de compensação. Oferecemos três modalidades: 01 mês, 06 meses e 12 meses. Ao compensar, você terá várias opções de projetos de compensação de carbono verificada por terceira parte acreditada pelo Sistema ONU, elegíveis para neutralizar sua pegada, entre as quais poderá escolher a que melhor se adequa às suas preferências.

No final do processo, você será agraciado com o Selo Carbono Zero da categoria escolhida, o certificado de compensações verificadas por terceiros e um toolkit de comunicação que inclui informações sobre o projeto apoiado e os resultados alcançados.

A Calculadora Pegada Carbono Zero mostra o resultado em toneladas de CO2e (tCO2e) por ano, unidade que concentra os diferentes gases de efeito estufa em apenas um indicador. É interessante perceber onde você se encontra no que diz respeito às mudanças climáticas, entendendo sua parte nesse processo. Os resultados mostram como você está em comparação com o Brasil e o mundo.

Não pretendemos resolver a questão climática confiando exclusivamente na ação individual, mas sim abrir uma janela de oportunidade para que cada pessoa possa participar e contribuir, dentro de suas possibilidades, para a transição de baixo carbono do país e do mundo.

Acreditamos que cidadãos mais eco-conscientes podem demandar ações mais assertivas e responsáveis por parte das empresas e do governo, promovendo políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis e fiscalizando o cumprimento das regulamentações ambientais. Ao exercer essa pressão, nós cidadãos contribuímos para uma mudança sistêmica e para a criação de um ambiente propício à transição para uma economia de baixo carbono.

José Miguel Carneiro Pacheco é Diretor Executivo da Mowa – Carbon Neutral

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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