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Energia solar para todos, ou nada mudará. Entrevista com Barry Commoner

“O Solar! É preciso apostar na enorme quantidade de energia que o sol faz chover sobre nós gratuitamente. Esta é a verdadeira virada: sem a revolução solar nenhuma conferência conseguirá alcançar o seu resultado”. Barry Commoner, o decano dos ecologistas americanos, junto ao telefone em sua casa de Nova York, dá a sua opinião não entusiasta sobre os resultados da assembléia de Bali, em entrevista publicada pelo jornal italiano La Repubblica, 16-12-2007.

“No entanto, do ponto de vista político, o passo em frente é consistente. Passou-se de um protocolo que empenhava somente os países industrializados, além do mais com a exceção dos Estados Unidos, a um percurso que no período de dois anos deveria envolver a todos”

“Pequenos passos: ajudam, mas não são suficientes. Estamos diante de uma situação tão grave que não basta qualquer satisfaçãozinha. Para evitar conseqüências de uma gravidade que só conseguimos entrever, devemos agir aqui e agora. Os protocolos funcionam, se puderem apoiar suas bases sobre um sistema tecnologicamente válido. Este sistema existe e se chama energia solar”.

Por que fala somente de solar e não de fontes renováveis?

É preciso reapropriar-se do sol em todas as suas formas, porque, quando falo de solar, não entendo somente os velhos painéis que permitem ter a água aquecida, e o fotovoltaico, embora sejam cunhas importantes do mecanismo virtuoso a ser ativado. O vento é movido pelo sol e as biomassas são outras formas de energia solar. Voltando à fonte primária de energia, se repusermos em equilíbrio a balança ecológica, se restituirmos o carbono a um ciclo natural baseado no metabolismo das plantas e se deixarmos em paz, nas profundidades da Terra, aquilo que foi capturado e transformado em combustíveis fósseis em eras longínquas, antes que a atmosfera se estabilizasse, encontrando um equilíbrio favorável à espécie humana, aquele equilíbrio que hoje estamos fazendo saltar, à força de usar petróleo e carvão.

Em tempos de alarme climático fala-se muito de retorno do nuclear. É uma proposta aceitável?

Faço realmente votos que não, seria de fato um contrasenso lógico. Empreendemos um percurso muito complexo, como aquele da substituição dos combustíveis fósseis por novas fontes de energia, em nome da segurança, porque queremos deixar aos filhos e netos um planeta sem uma bomba climática a tempo. Mas, o nuclear é por excelência a fonte energética coligada ao aumento do risco. Quem se bate pela segurança não pode propor o nuclear. Devemos passar de um ponto de vista destinado a abraçar somente o breve período a uma visão de longo termo, a um modelo de sociedade capaz de fazer crescer o bem-estar para muitas gerações.

Os defensores do nuclear defendem que as novas centrais são seguras.

À parte os incidentes que continuam acontecendo, inseguro é todo o ciclo de produção. Do transporte do combustível à gestão das escórias, que permanecem como um problema não resolvido. Há alguns anos a Suprema Corte ordenou o fechamento de um depósito radiativo em Nevada, porque a proteção declarada era a de 10 mil anos: não basta, porque a radiatividade hipoteca a segurança por mil gerações. Também num país como os Estados Unidos, habituado a conviver com as centrais nucleares, a idéia de construir outras não agrada. Tanto que, desde fins dos anos setenta, não foi autorizado nenhum novo reator”.

Al Gore veio a Bali para dizer que, com o próximo presidente, os EUA mudarão de direção, que entre dois anos não estarão mais em colisão com as políticas ambientais da ONU. O senhor crê nisso?

Faço votos que sim: necessitamos de um presidente que ponha fim ao isolamento americano, capaz de restituir ao meu país o papel de líder mundial. Al Gore, a quem entre outras coisas agradeço porque, no discurso pronunciado durante a cerimônia do Nobel pela paz usou a expressão que dá o título ao meu último livro, Fazer as pazes com o planeta, digo que seria necessário um presidente adequado. Um como ele.

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 21/12/2007 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]