Crise ambiental e soluções baseadas na natureza
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”
Victor Hugo (1802-1885)
Os desafios da crise climática e ambiental são enormes e exigem um leque imenso de alternativas. Uma abordagem que vem ganhando destaque são as soluções baseadas na natureza (SbN)
No dia 22 de abril se comemora o Dia da Terra. Mas não há muitos motivos de comemoração, pois a crise climática é uma grande ameaça existencial à humanidade e à vida na Planeta. Isto porque a temperatura global ficou praticamente estável durante todo o Holoceno (últimos 12 mil anos), mas iniciou uma trajetória de aumento nas últimas décadas e pode atingir patamares desconhecidos para toda a história da humanidade.
Os últimos 10 anos (2014-2023) marcou o decênio mais quente do Holoceno. O ano de 2023 foi o mais quente em 125 mil anos. E a anomalia climática nos 12 meses de março de 2023 a fevereiro de 2024 ultrapassou o limite mínimo do Acordo de Paris, de 1,5ºC. O primeiro trimestre de 2024 foi o mais quente para esta época do ano. O aquecimento global veio para ficar e está se acelerando. As consequências das altas temperaturas serão danosas e atingirão todas as formas de vida da Terra.
Os desafios da crise climática e ambiental são enormes e exigem um leque imenso de alternativas. Uma abordagem que vem ganhando destaque são as soluções baseadas na natureza (SbN). A figura abaixo, do relatório “Nature-based Solutions for Climate Resilient Cities: Perspectives and experiences from Latin America” (UNEP, 2023) mostra o padrão global para NbS, com 8 critérios e 28 indicadores.
As soluções baseadas na natureza (SbN) são abordagens que utilizam processos naturais e ecossistemas para resolver desafios ambientais, sociais e econômicos.
Elas se baseiam no princípio de que a natureza pode oferecer soluções eficazes e sustentáveis para uma variedade de problemas. Aqui estão 10 exemplos de soluções baseadas na natureza:
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Wetlands Construídas: Zonas úmidas artificiais criadas para tratar águas residuais, imitando os processos naturais de purificação da água;
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Telhados Verdes: Instalação de vegetação em telhados de edifícios para reduzir o escoamento de água da chuva, melhorar a eficiência energética e promover habitats urbanos para a vida selvagem;
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Agroflorestas: Sistemas agrícolas que combinam árvores, arbustos e cultivos herbáceos, imitando a estrutura e função de florestas naturais para melhorar a produtividade e a sustentabilidade;
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Recifes de Ostras Artificiais: Estruturas construídas para imitar recifes naturais de ostras, proporcionando habitat para vida marinha, protegendo costas contra erosão e melhorando a qualidade da água;
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Restauração de Manguezais: A restauração de manguezais degradados visa recuperar ecossistemas costeiros essenciais, proporcionando proteção contra tempestades, captura de carbono e habitat para peixes e aves;
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Sistemas de Drenagem Verde: Utilização de áreas verdes, como jardins de chuva e valas de infiltração, para gerenciar o escoamento de águas pluviais, reduzindo inundações e melhorando a qualidade da água;
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Conservação de Florestas Urbanas: Preservação e plantio de árvores em áreas urbanas para melhorar a qualidade do ar, reduzir a temperatura urbana e fornecer habitat para a vida selvagem;
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Bioengenharia Costeira: Uso de plantas costeiras e estruturas naturais, como dunas e pântanos, para proteger áreas costeiras contra erosão e tempestades, em vez de depender exclusivamente de estruturas de concreto;
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Agricultura de Conservação: Práticas agrícolas que promovem a saúde do solo e a biodiversidade, como rotação de culturas, cobertura morta e cultivo mínimo, para reduzir a erosão do solo e o uso de produtos químicos;
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Parques Urbanos Naturais: Criação e preservação de áreas verdes urbanas, como parques e reservas naturais, para promover a recreação, a biodiversidade urbana e a qualidade de vida das comunidades locais.
Esses exemplos demonstram como as soluções baseadas na natureza podem ser aplicadas em uma variedade de contextos para abordar desafios ambientais, sociais e econômicos, ao mesmo tempo em que promovem a resiliência dos ecossistemas naturais.
Essas são apenas algumas das muitas estratégias que podem ser adotadas para combater a crise ambiental com soluções baseadas na natureza. É importante que governos, empresas e a sociedade em geral trabalhem em conjunto para implementar essas ações e preservar o meio ambiente para as gerações futuras.
Mas não podemos perder de vista que uma solução mais definitiva para a crise ambiental e climática passa pela redução das atividades antrópicas e requer o planejamento do decrescimento demoeconômico ao longo do século XXI. A sociedade e as atividades econômicas são um subsistema da ecologia. A sobrecarga é insustentável. Somente uma população global menor, com menores níveis de consumo, pode estabelecer uma relação harmoniosa com a natureza.
Referências:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. (Colaboração de Francisco Galiza).
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
ALVES, JED. Mais árvores e menos gente, Ecodebate, 02/10/2019
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
United Nations Environment Programme (2023). Nature-based Solutions for Climate Resilient Cities: Perspectives and experiences from Latin America. https://wedocs.unep.org/20.500.11822/44437.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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