Desafios e oportunidades da descarbonização da indústria brasileira
Desafios e oportunidades da descarbonização da indústria brasileira, artigo de José Miguel Carneiro Pacheco
O desafio de alcançar emissões líquidas zero até 2050 exige realizar cortes rápidos e profundos nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE), com foco estratégico no metano, até 2030, conforme destacado pela Agência Internacional de Energia (IEA).
É uma jornada complexa, sem margem para simplificações, e requer uma análise meticulosa das nuances que devem ser cuidadosamente consideradas no planejamento para a gestão da descarbonização, impondo desafios e oportunidades importantes para a indústria brasileira.
Neste contexto, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) propõe um roteiro estratégico com o objetivo de alcançar as metas de descarbonização, fortalecendo simultaneamente a competitividade e a estabilidade econômica.
Mas o que é a descarbonização? É o processo de interromper ou reduzir a liberação de gases de efeito estufa, especialmente dióxido de carbono, na atmosfera, como resultado de um processo, como a queima de combustíveis fósseis.
Este artigo destaca algumas propostas da CNI, considerando sua repercussão no cenário nacional.
Para alcançar o cenário net zero, a CNI estabelece um conjunto de medidas gerais e específicas que contribuem para acelerar a descarbonização do setor industrial brasileiro e garantir competitividade frente a uma indústria global que está acelerando seu processo de descarbonização, tendo em consideração o cenário internacional e aspectos nacionais de mitigação, as potencialidades e custos das medidas de baixo carbono no setor industrial.
Entre as medidas destacamos aquelas que merecem especial atenção por apresentarem potencial de gerar benefícios a curto-médio prazo.
A CNI destaca a necessidade de maior engajamento do setor industrial na construção do novo Plano Setorial de Mitigação e do Plano de Adaptação, que permite a integração de perspectivas práticas e conhecimentos especializados do setor, contribuindo para a elaboração de estratégias mais eficazes e alinhadas com as metas nacionais de mitigação e adaptação.
A redução das emissões de metano é outra prioridade, abrangendo setores como agricultura, produção de petróleo e gás, e resíduos. No contexto brasileiro, práticas agrícolas de baixo carbono e inovações na gestão de resíduos são consideradas estratégias para o alcance das metas.
O roteiro da CNI destaca ainda a necessidade premente do inventário de emissões completo, considerando não apenas as emissões diretas, mas também dados de fornecedores e emissões incorporadas aos produtos, permitindo uma compreensão holística do impacto ambiental da cadeia produtiva, identificando áreas específicas para redução e compensação de emissões residuais.
Diante do complexo desafio da descarbonização da indústria brasileira, o roteiro da CNI apresenta um caminho promissor. Para adentrar esse cenário de transformações, é imprescindível estabelecer medidas específicas que possam conduzir este setor em direção a uma trajetória mais sustentável e competitiva.
Este desafio passa pela implementação de processos sólidos de monitoramento, relato e verificação (MRV), em conjunto com a criação de um registro nacional de emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes das atividades industriais. Essa estrutura, alinhada aos padrões internacionais, como o GHG Protocol, garante a comparabilidade de dados e fortalece a transparência, oferecendo uma base consistente e confiável para avaliar o progresso em direção às metas de descarbonização.
Além disso, apoiar a simplificação dos processos de transação de créditos de carbono no mercado voluntário, garantindo a integralidade de seus ativos, é fundamental para estimular a participação ativa das indústrias e impulsionar o desenvolvimento de projetos de Soluções Baseadas na Natureza (SBN), reforçando a posição do Brasil no cenário global.
Outro aspecto importante é o investimento em projetos capazes de gerar co-benefícios, transformando-se em recursos para comunidades tradicionais e pequenos produtores, como forma de suavizar os impactos sociais da descarbonização e criar oportunidades tangíveis para o desenvolvimento local e a promoção de práticas sustentáveis.
Ao implementar essas medidas específicas, a indústria brasileira se consolida como protagonista na transição para uma economia sustentável, de baixo carbono e reforça sua competitividade no panorama internacional.
Embora o setor industrial seja grande e diversificado, a meta de descarbonizar a produção industrial para alcançar emissões líquidas zero até 2050 é viável, de acordo com diversos estudos e casos práticos de sucesso internacionais.
É fundamental que a indústria brasileira busque referências no mercado para a gestão da descarbonização, com a competência técnica e experiência requerida para tratar de um tema tão complexo e transversal.
Segundo a CNI, o custo adicional de descarbonização para a economia brasileira, considerando os dados obtidos em conjunto com segmentos industriais neste estudo, seria de US$ 8 bilhões de dólares, ou cerca de 40 bilhões de reais até 2050. Por custo adicional de descarbonização entende-se o custo de investimento total na tecnologia de baixo carbono subtraído do custo de investimento total da tecnologia business as usual.
Nesse quesito, vale destacar a startup MOWA – Carbon Neutral, especializada em gestão da descarbonização e net-zero, com foco em setores como energia, resíduos, efluentes, processos industriais e agricultura de baixo carbono e que conta com um time de profissionais com mais de uma década de experiência em mudanças climáticas e desenvolvimento de baixo carbono.
Como uma startup inovadora, oferece a oportunidade de iniciar ou aprimorar a contabilização e relato de emissões corporativas segundo diretrizes e procedimentos globalmente reconhecidos, de elaborar um plano de descarbonização embasado em pesquisas, estudos de tecnologias, oportunidades de mercado e ainda uma análise minuciosa e detalhada do potencial de redução de emissões para cada ação adotada. Além disso, oferece orientação na compra de créditos de carbono verificadas a partir de fontes credíveis que se alinhem com a missão da sua empresa e com os princípios net zero.
José Miguel Carneiro Pacheco é Diretor Executivo da Mowa – Carbon Neutral
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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