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Gestão da Sustentabilidade Organizacional

 

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Gestão da Sustentabilidade Organizacional, artigo de José Austerliano Rodrigues

A sustentabilidade organizacional vem ganhando o devido reconhecimento e importância, pois oferece vantagem competitiva e cria valor para as organizações, seus stakeholders e a sociedade (BONINI; GÖRNER, 2011). 

No entanto, a sustentabilidade não foi totalmente integrada no nível estratégico e operacional (HONG; ROH; RAWSKI, 2012). Alguns pesquisadores acreditam que o principal obstáculo na operacionalização da sustentabilidade nas organizações é a falta de criação de valor sustentável ao longo da cadeia de valor, porque partes dessas atividades estão além do controle das organizações, como a cadeia de abastecimento (STEWART; BEY; BOKS, 2016). 

Outros argumentam que é a falta de estruturas e modelos viáveis que impede os atores organizacionais de considerar (holisticamente) a sustentabilidade nas decisões de negócios (NAWAZ; KOÇ, 2018).

Deste modo, existem poucos estudos na literatura que tentam captar as melhores práticas de sustentabilidade das organizações. Esses estudos, no entanto, têm implicações limitadas devido às limitações em seu escopo e desenho de pesquisa.

Alguns dos estudos capturam apenas as práticas que refletem sobre o papel da liderança no aumento do impacto de iniciativas estratégicas (OLIVEIRA et al, 2017). Enquanto outros tentam examinar a influência das práticas de sustentabilidade na lucratividade (SMALL, 2017). Alguns outros limitam o âmbito da investigação quer às iniciativas estratégicas (EPSTEIN, 2008; WILLIAMS, 2015). Outros quer às pequenas e médias empresas (OLIVEIRA et al, 2017). 

Tradicionalmente, as organizações focadas na maximização do valor para o acionista eram consideradas bem-sucedidas. A tendência mudou significativamente nas últimas duas décadas, espera-se que as organizações incorporem objetivos ambientais e sociais no processo decisório, a fim de criar valor para outros stakeholders, além dos acionistas (OLIVEIRA; OLIVEIRA; LIMA, 2016).

Assim sendo, o papel absolutamente essencial das organizações na mudança de marcha do crescimento acelerado para o desenvolvimento sustentável já está estabelecido na literatura e entre os praticantes (WALES, 2013).

No mundo moderno, as organizações são chamadas de “políticas”, uma vez que possuem uma estrutura de governança que funciona de acordo com seus direitos e deveres para atender às necessidades dos grupos de interesse (RIBEIRO, 2007).

Ainda não se estabeleceu um consenso entre os pesquisadores sobre se as organizações optam por práticas de gestão sustentáveis para melhorar sua eficiência de recursos e, assim, aumentar a lucratividade (OLIVEIRA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2014). O que tem sido amplamente apoiado por evidências empíricas (OLIVEIRA; FERNANDES, 2011; OLIVEIRA, OLIVEIRA, 2010).

Ou se tais atividades são simplesmente o resultado do aumento da pressão social das partes interessadas, incluindo governos, ONGs, empregados, entre outros (RIBEIRO et al, 2007). Em ambos os casos, o papel das organizações para o desenvolvimento sustentável é inevitável.

Contudo, não existe uma definição genérica de sustentabilidade organizacional, mas vários pesquisadores se encarregaram de definir a sustentabilidade organizacional à sua maneira.

Oliveira e Zahra (2006), referiram-se à sustentabilidade organizacional como a capacidade de uma empresa de nutrir e apoiar o crescimento ao longo do tempo, atendendo efetivamente às expectativas de diversos stakeholders.

Em nível semelhante, Funk (2003), observou organizações sustentáveis como aquelas cujas características e atividades se destinam a trazer um estado futuro desejável para seus stakeholders.

Oliveira e Castanho (2003), definiram organizações sustentáveis idealmente como aquelas que adotam uma perspectiva sistêmica para garantir que os recursos naturais não sejam consumidos mais rapidamente do que as taxas de renovação, reciclagem ou regeneração desses recursos.

Pereira e Milstein (2003), descreveram a sustentabilidade organizacional como a contribuição das organizações no processo de alcançar o desenvolvimento humano de forma inclusiva, equitativa e segura, entregando simultaneamente benefícios econômicos, sociais e ambientais.

No passado, muitos pesquisadores enfatizaram a consideração das práticas de sustentabilidade organizacional em pesquisas acadêmicas (OLIVEIRA; LARRINAGA-GONZÁLEZ, 2007; OLIVEIRA, 2018). Seguindo o exemplo, Rondinelli (2007), analisou os princípios e práticas de sustentabilidade das 25 corporações transnacionais, o que mostra que muitas corporações transnacionais ainda estão no nível elementar ou de engajamento, o que está longe de ser inovador, integrador ou transformador.

Provavelmente, a falta de consenso científico a respeito do impacto da sustentabilidade organizacional impede as corporações multinacionais de praticar a sustentabilidade para além da filantropia (OLIVEIRA; OLIVEIRA; LAWRENCE, 2010; OLIVEIRA; KEARINS, 2002).

Oliveira (2011), explorou as práticas de sustentabilidade de 15 grandes empresas na Nova Zelândia por meio de entrevistas com gerentes. Os resultados indicam que as organizações estão ativamente envolvidas na introdução de novas iniciativas de sustentabilidade para abordar as três facetas da sustentabilidade: economia, meio ambiente e sociedade.

Alguns exemplos dessas iniciativas incluem gestão de resíduos, pegada de carbono zero, qualidade ambiental, extensão da participação de energia renovável, educação de funcionários, parceria com grupos conservadores e arrecadação de fundos com base na comunidade.

Embora cada iniciativa de sustentabilidade ofereça benefícios, a sinergia entre diferentes iniciativas e a integração de iniciativas em toda a cadeia de valor continuam a ser um desafio (LOZANO; RUMO, 2012). Portanto, mais do que aplicar muitas ferramentas, entender a aplicação da ferramenta a ser utilizada no contexto dos negócios e iniciar programas de racionalização pode orquestrar a sustentabilidade nas corporações.

Batista e Francisco (2018), revisaram as melhores práticas de sustentabilidade das empresas mais sustentáveis do Brasil, listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial. Os autores identificaram categorias de sustentabilidade organizacional e melhores práticas em cada uma das três facetas do desenvolvimento sustentável.

Da mesma forma, Oliveira e Baumgartner (2019), realizaram uma pesquisa com empresas de pequeno porte na Áustria para buscar as melhores práticas no que diz respeito à mudança organizacional para a sustentabilidade. Os autores propuseram um modelo de comunicação entre os agentes de mudança que pode impulsionar o pessoal e os atributos culturais das empresas.

Rodrigues e Rodrigues Filho (2018), realizaram uma pesquisa de estudo de casos envolvendo três empresas privadas no município de Campina Grande, no estado da Paraíba, proporciona evidências do valor estratégico ao se integrar as dimensões mencionadas aos princípios de sustentabilidade. Os dirigentes das empresas estudadas compreendem o valor de uma administração baseada na sustentabilidade, mas ainda não exploram, de forma mais ampliada, a sua implementação.

Por não haver uma administração de sustentabilidade holística nas empresas estudadas, a importância das cinco dimensões (econômica, ambiental, social, cidadania ecológica e tecnologia de informação) do “Modelo de Sustentabilidade de Marketing: Conceptualização e Aplicação no Setor Industrial” proposto na administração estratégica foi identificada e sua importância confirmada.

Assim sendo, a pesquisa confirmou o valor do modelo conceitual como uma ferramenta potencial útil para a Sustentabilidade de Marketing, baseado na administração estratégica das corporações.

Embora a sustentabilidade seja uma das áreas mais pesquisadas, as práticas atuais de sustentabilidade das organizações costumam ser negligenciadas nas pesquisas em gestão. É extremamente importante trazer uma perspectiva prática para as discussões teóricas, a fim de criar uma sinergia entre teoria e prática. Tal abordagem aumentará o potencial de aplicação dos modelos teóricos, por um lado, e ajudará na compreensão dos limites práticos das organizações (NAWAZ; KOÇ, 2019).

José Austerliano Rodrigues é Administrador, Especialista em Sustentabilidade de Marketing e Docente em Gestão de Sustentabilidade em Marketing e em Administração Geral, com doutorado em Sustentabilidade de Marketing pela UFRJ. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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